O presidente moderado iraniano, Hassan Rohani, e o conservador Poder Judiciário da República Islâmica travam uma disputa sem presidentes pelo caso de um empresário condenado à morte, o que ilustra a tensão crescente em um país que irá ter eleições presidenciais em maio.

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Esta tensão entre um presidente eleito e um poderoso Judiciário, cujo responsável, o aiatolá Sadegh Larijani, é nomeado pelo guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, corre o risco de piorar ao se aproximar o período eleitoral.

Não há dúvidas de que o presidente Rohani, apoiado por reformistas, voltará a se apresentar para um segundo mandato de quatro anos, e terá como concorrente um candidato conservador.

Alguns conservadores acusam Rohani, eleito em 2013, de atacar o Judiciário para mobilizar seu eleitorado e desviar a atenção a respeito da falta de resultados após o acordo nuclear entre o país árabe e seis grandes potências, que entrou em vigor há um ano.

Estas relações só pioraram após o caso do empresário preso e condenado a morte Babak Zanjani.

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Zanjani, detido em dezembro de 2013, foi condenado em março de 2016 por fraude fiscal e outros delitos financeiros depois de um longo processo pelo qual foi julgado culpado por ter desviado 2,8 bilhões de dólares.

“Pode um homem por si só roubar 3 bilhões de dólares? E quem o ajudou? Quem são seus cúmplices? Foi condenado a morte. Tudo bem, mas quem são seus cúmplices?”, questionou Hassan Rohani no fim de dezembro.

Era uma crítica direta à Justiça por parte do presidente, que considera que o empresário deveria ser encaminhado ao ministério de Serviços Secretos.

Sob a presidência do antecessor de Hassan Rohani, o ex-presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad, Zanjani foi encarregado de vender petróleo ao exterior para escapar das sanções internacionais. Porém, não entregou o dinheiro ao governo.

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Quanto aos ataques do presidente Rohani, o chefe do Judiciário respondeu no dia 2 de janeiro que “não há motivo para achar que a Justiça trabalhou pouco” neste caso. “A prioridade da Justiça é recuperar” o dinheiro desviado, ressaltou Sadegh Larijani.

Até o momento, 600 milhões de dólares foram recuperados.

– Khamenei acalma os ânimos –

Sadegh Larijani foi mais longe ao afirmar que o empresário teria revelado aos investigadores ter fornecido centenas de milhões de dólares a candidatos à eleição presidencial iraniana de 2013. E, sem citar nomes, disse que iria investigar estes supostos valores entregues aos candidatos.

Rohani respondeu essa semana em um tuíte: “O governo está disposto a esclarecer tudo sobre as contas e espera que a autoridade judicial o faça também”.

O Judiciário foi atacado recentemente a respeito das contas que seu chefe administra diretamente. Entretanto, 210 deputados publicaram recentemente uma declaração alegando que estas contas são perfeitamente “legais”.

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Neste domingo (8), o aiatolá Khamenei tentou acalmar os ânimos: “Não quero intervir nesta disputa (…) Com a ajuda de Deus, isto será resolvido.”

“É necessário que todo o mundo tenha uma Justiça forte. O inimigo não alcançará seus objetivos se tivermos uma Justiça forte e um governo corajoso, que tenha uma agenda”, declarou à milhares de pessoas.

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