A calmaria do interior catarinense deu lugar à tensão dentro e fora das delegacias e quartéis, caçadas e até mortes em confrontos. São os resultados do enfrentamento às quadrilhas de assaltantes de bancos que agem no Estado.

Continua depois da publicidade

Normalmente acostumada a atender crimes rotineiros, como furtos e agressões, a polícia das cidades pequenas viu que só há uma maneira de conter a tentativa dos ladrões cada vez mais bem armados e organizados: unindo civis e militares, apelando à comunidade por informações e também pedindo a ajuda de forças especializadas.

Desde fevereiro deste ano, foram duas mortes de bandidos em confrontos. Já são cinco desde 2011, quando a onda de ataques começou, conforme dados da chefia da Polícia Civil.

As duas últimas mortes foram em Penha, no litoral Norte, uma das regiões preferidas para os bandos que explodem caixas eletrônicos com dinamite. A polícia suspeita que ali esteja refugiada uma das principais quadrilhas que agem em Santa Catarina, que ainda não foi presa.

Continua depois da publicidade

A situação deixa os policiais angustiados, apreensivos com novos ataques e tensos em cada ação. Nada surpreendente, levando-se em conta a realidade que o Estado dispõe na segurança pública em municípios menores.

Em Penha, cidade de 25 mil habitantes, onde o turismo é forte em razão do Parque Beto Carrero, a delegacia não conta com delegado titular. Com poucos policiais, a repartição fecha à noite por falta de efetivo e o plantão passa a ser na delegacia da vizinha Piçarras.

– Sem o reforço, não temos condições de enfrentamento. A cidade fica desprotegida e torna-se alvo fácil desses bandidos – atesta o comissário Alan Coelho, responsável pela delegacia de Penha.

Continua depois da publicidade

Mesmo com defasagem de efetivo, a polícia tem montado blitz nas estradas da região para tentar surpreender os ladrões de banco. Na noite da última quinta-feira, na comunidade Santa Lídia, que faz a ligação com Navegantes, a barreira terminou em morte.

O homem identificado pelo IML como sendo o foragido da Justiça Luiz Sérgio Chagas, 40 anos, de Pato Branco (PR), furou a blitz com um Kadett e foi preso em seguida. Pela versão da polícia, ele pediu para desapertar a algema da perna, que estaria muito justa. Assim que a trava foi afrouxada, ele teria tentado pegar a arma de um policial e acabou alvejado com dois tiros na cabeça.

No Kadett havia uma pistola .40 de uso restrito das polícias, munição, colete à prova de balas, miguelitos (grampos usados para furar pneus), bomba caseira e equipamentos de sobrevivência. A polícia suspeita de que Chagas participaria de um sequestro ou ataque a caixa eletrônico. Dois carros que estariam sendo escoltados pelo Kadett conseguiram fugir.

Continua depois da publicidade

A caçada em Rio do Sul

O episódio da blitz em Penha mostrou como anda a adrenalina dos policiais para prender os assaltantes que explodem bancos no Estado. Mas foi na região de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, também na madrugada de quarta-feira passada, que o interior mostrou mobilização incomum aos olhos da população e ao dia a dia dos próprios agentes.

Uma quadrilha entrou na agência do Banco do Brasil em Braço do Trombudo, cidade de 3,4 mil habitantes. O bando não conseguiu abrir o cofre com maçaricos e fugiu quando o alarme disparou.

Vizinhos viram e ligaram para o 190. Daí em diante, foram quase 72 horas de cerco policial na área rural, cerca de 50 policiais civis e militares envolvidos com apoio de colegas de Florianópolis.

Continua depois da publicidade

No campo, helicóptero e carros da polícia mudavam a paisagem dos acessos. Os bandidos trocaram tiros com a polícia, capotaram e atearam fogo num dos veículos deles para dificultar a captura. Seis acabaram presos na sexta-feira na pastagem de uma fazenda.

– Diria que o clima na polícia não é de tensão ou apreensão, mas é de motivação. E só conseguimos as prisões porque houve ajuda da comunidade em informações, o apoio com helicóptero e canil da secretaria de Segurança e a integração dos nossos policiais civis e militares locais – ressaltou a delegada regional de Rio do Sul, Patrícia Zimmermann D´Ávila.

A ação mostrou que grandes operações podem ser eficientes para encurralar as quadrilhas e não apenas as apostas na inteligência para identificar os bandos. A secretaria de Segurança disse que vai intensificar esse tipo de planejamento.

Continua depois da publicidade

– Aqui estamos montando planos de barreiras com as outras 29 cidades da região. As rádios locais também ajudam, divulgando as pessoas que estamos procurando – exemplificou o tenente-coronel Carlos Roberto Fogaça Bueno, comandante do 13o Batalhão da PM, em Rio do Sul.

Ordem é intensificar barreiras

A ofensiva dos assaltantes de bancos no interior fez a polícia rever a estratégia de atuação para prendê-los. Agora, estão sendo feitas barreiras noturnas na tentativa de se antecipar aos ataques e prender os criminosos antes dos assaltos. Mas esse tipo de ação ainda não seria frequente no Estado.

As duas mortes em Penha

As duas mortes de bandidos este ano em confrontos com a polícia foram em Penha, no litoral Norte. A primeira, na madrugada do dia 15 de fevereiro, em ação da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) e policiais locais, que surpreenderam os bandidos dentro da agência do Banco do Brasil. O assaltante paranaense Veridiano Amaro dos Santos, 28 anos, morreu na troca de tiros.

Continua depois da publicidade

A segunda morte foi na quinta-feira passada, do assaltante Luiz Sergio Chagas, que furou uma blitz da PM. Chagas, também paranaense, era considerado de alta periculosidade e ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital, de SP.

Principais criminosos ainda estão soltos

O bando preso em Rio do Sul na caçada de 72 horas é de Joinville e agia com maçaricos, e não explosivos, nos bancos. Além da tentativa de arrombamento do cofre do Banco do Brasil em Braço do Trombudo, no Vale, é suspeita de agir em José Boiteux, também no BB, em março.

Mas os principais assaltantes de caixas eletrônicos continuam em liberdade e ainda não foram presos. A Deic segue mobilizada e está com equipes pelo Estado. Desde 2011, foram 57 ataques com dinamite – só este ano foram 20, a maioria no Vale, Oeste e litoral Norte.

Continua depois da publicidade