Passando ao largo de um entendimento de paz, o primeiro encontro entre autoridades do regime sírio e opositores no exílio para tentar quebrar o ciclo de violência na Síria foi marcado ontem por uma guerra de palavras.
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Em meio a acusações de “traição” entre governo e opositores e de um bate-boca entre o secretário-geral das Nações Unidas e o chefe da diplomacia síria, a conferência de paz de Genebra II, em Montreux, teve um começo difícil em uma atmosfera tensa.
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– Nosso objetivo era enviar uma mensagem às duas delegações sírias e ao povo sírio para dizer que o mundo quer o fim imediato do conflito. Basta, é hora de negociar – declarou Ban Ki-moon em entrevista coletiva após o encontro.
Reunidos à margem do lago Léman, representantes de 40 países, incluindo o Brasil, e organizações internacionais não precisaram de muito para ver o abismo entre o regime de Al-Assad e a oposição síria, há quase três anos em guerra civil.
Em 2012, as duas partes realizaram a conferência de Genebra I, na qual se definiu a necessidade de estabelecer um calendário para um governo de transição, o que não foi endossado publicamente pelo governo sírio. Ontem, a Coalizão Nacional Síria – que representa apenas parte da oposição armada – afirmou que assinar os termos da primeira conferência deve ser o ponto de referência para o diálogo.
Apesar do clima de pessimismo, a partir de sexta-feira, as duas delegações sírias e o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, se reúnem em Genebra para conversas que podem se estender de sete a 10 dias.O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, alertou que as negociações “não serão simples, nem rápidas”.
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Ele usou um tom mais brando do que o do americano John Kerry, que afirmou que “Bashar al-Assad não fará parte do governo de transição. De forma alguma, não é possível imaginar que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar”.
Ao que respondeu o chanceler sírio, Walid Mouallem:
– Senhor Kerry, ninguém no mundo tem o direito de conceder ou retirar a legitimidade de um presidente, de uma Constituição ou de uma lei, exceto os próprios sírios.
Resumindo o estado de espírito de muitos participantes na conferência, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, considerou que ninguém deve esperar por um “milagre”.