Serguei reclama da própria sorte de não ter morrido aos 27 anos, seguindo a sina trágica da ex-namorada e cantora Janis Joplin, de Jim Morrisson, líder da banda The Doors a quem também toma como amigo, e do guitarrista Jimi Hendrix. Ao folclórico artista carioca coube viver então como um indubitável clichê do rock.

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Sérgio Augusto Bustamante, nome de batismo que já nem lembra mais a última vez em que foi chamado assim, fará 80 anos em novembro deste ano. Vê a vida chegando ao seu ciclo do fim, o que deve durar, espera, até os 127 anos e com o mojo sexual em pleno vigor:

– Eu sou o mais limpo, o mais decente e o mais interessante. Tenho o tesão renovado.

O bardo da chacrinha roqueira deu o ar da sua graça em Florianópolis no final de semana. Oficialmente, para um show, domingo, no John Bull, mas sua presença foi requisitada e muito prestigiada no Planeta Atlântida. Para conseguir os 18 minutos que não descambassem para um dissimulado monólogo, confinamos Serguei em um dos camarins do backstage, longe das câmeras e mantendo-o de costas para o espelho. Assim o hiperativo senhor sossegou.

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Aos que duvidam do seu apetite libidinoso, Serguei lembra de uma passagem recente por Brasília, quando depois de um show levou um grupo de fãs para o seu camarim. Disse que ganhou 16 beijos avassaladores, 13 de rapazes e apenas três de mulheres. Ele não discrimina gênero e espécimes. Ficou conhecido por defender o pansexualismo em episódio em que teve uma relação com uma árvore do quintal da sua casa-museu em Saquarema, no Litoral Fluminense. Não se furta em simular o inusitado ato. Tente imaginar o caquético Mumm-Rá, vilão do desenho Thundercats, se passando por Meg Ryan na clássica cena da simulação de um orgasmo no filme Feitos Um Para o Outro. Com toda a boa vontade do mundo, não é uma cena inspiradora.

– Depois de mim, a Praça dos Três Poderes em Brasília, virou dos Quatro Poderes. Porque eu sou o poder do sexo – assevera.

Eu é que não vou pagar para ver. O peso da idade e dos 47 anos de “vida louca” não pouparam o figura. O corpo franzino e as rugas (quase tantas quanto as de outro highlander, o stone Keith Richards) parece pouco para sustentar a peruca fossilizada. A memória também dá sinais de fadiga para lembrar datas e algumas situações, principalmente relacionadas às suas constantes visitas a Florianópolis. Não pode confirmar, por exemplo, uma suposta tentativa de copular com um monumento na Praça XV de Novembro, ou a apropriação de uma calça boca-de-sino de um músico local, embora considere a segunda opção provável.

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Só não lhe foge à memória a ruidosa turnê em 1992, quando percorreu 13 praias do Estado, junto com as bandas Cidade Negra e Stonkas e Congas. Nem o benfeitor da iniciativa, o colunista do DC Cacau Menezes.

– O Cacau me deu o melhor verão da minha vida – recorda.

Serguei construiu a sua carreira mais na personalidade do que pela produção, que não é pouca. São 11 trabalhos, desde o compacto de estreia com As Alucinações de Serguei e Eu não Volto Mais. O tempo já não lhe permite mais encarar um estúdio e toda a ladainha para gravar, produzir, distribuir e comercializar um disco. Por isso, prefere os shows. Só lamenta não conseguir lançar um single, Anjo, segundo ele, presente de Ney Matogrosso. A música é uma lamúria romântica que Serguei dedicaria a uma paixão: um dos líderes da facção brasileira de motociclistas Hell Angels, morto recentemente.

Serguei abomina a música eletrônica e funk carioca (“esse não tem princípio nem meio. É o próprio fim”), mas não é mau sujeito e por isso faz concessões ao samba. Tanto que vai desfilar na Marquês de Sapucaí, em fevereiro, pela Mocidade Independente de Padre Miguel, que homenageará o Rock In Rio. É a própria alegoria do rock.

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