Um homem alegre, saudável e honesto. É assim que Iolar Zampiron, um dos oito pacientes mortos à espera de uma vaga de terapia intensiva (UTI) em Xanxerê, no Oeste de SC, é descrito pela filha. O caminhoneiro de 63 anos morreu por complicações do coronavírus na madrugada do último domingo (28), depois de passar seis dias na fila de espera do Hospital Regional São Paulo, que atende a cidade e os municípios da região.  

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A filha, Gabriela Zampiron Debortoli, conta que o pai foi diagnosticado com coronavírus no dia 15 de fevereiro, depois que procurou o posto de saúde por apresentar sintomas como tosse. No mesmo dia, ele recebeu um relaxante muscular e um remédio para as dores no corpo e voltou para casa, onde faria o isolamento ao lado da esposa, também diagnosticada com Covid-19. 

Com os remédios, segundo a filha, o caminhoneiro passava mais tempo dormindo e não se queixava de dor ou de sentir outros sintomas. Porém, depois de seis dias do diagnóstico, no domingo (21), ele teve uma piora no quadro de saúde e precisou ser hospitalizado:

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– Meu irmão levou ele no posto e ele foi internado. Ficou até terça-feira (23) no posto, se não me engano, e depois abriu uma vaga no hospital. Não tinha cama, não tinha leito, então ele ficou sentado (dentro do hospital) e com o oxigênio. Ficou seis dias esperando por um leito de UTI. Nessa semana, vivemos pela fé. 

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Sem perder as esperanças e em contato diário com Zampiron, a família chegou a respirar tranquila na sexta-feira (26), dois dias antes do falecimento do familiar. Do hospital, receberam a notícia de que o paciente apresentava uma melhora e, portanto, não precisaria mais da esperada intubação, o que tranquilizou a família.

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– A gente estava realmente com muita fé de que ele voltaria pra casa. Ele estava muito motivado, acreditava que melhoraria. Mas no sábado não recebemos mais notícias e ele também deixou de visualizar o celular. A gente não sabe se ele foi intubado, ou não, ninguém falou pra nós o que aconteceu – conta.

Na madrugada de domingo (28), após apresentar um pico de febre, Zampiron teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. 

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– Infelizmente ele precisava de UTI logo que foi internado, pois estava com 75% dos pulmões comprometidos e com pneumonia. Tenho certeza que se tivessem dado um tratamento adequado e se tivesse um leito ele teria se salvado, teria saído dessa – lamenta a familiar. 

Zampiron deixou a esposa, três filhos e um neto pequeno, para quem a família tenta explicar o sumiço do avô, com quem era muito apegado. Um dos filhos do caminhoneiro, que mora em Portugal, não conseguiu voltar ao Brasil para se despedir do pai, por conta das restrições dos voos. 

A família, que ainda se recupera da perda, tenta não pensar nas falhas que levaram ao colapso da rede de saúde, mas deixa uma reflexão:

– Eu acho que está faltando muita coisa, os profissionais também estão esgotados. Não quero culpar ninguém, mas infelizmente, por irresponsabilidade de muitas pessoas o meu pai ficou sem um leito. Meu pai não fazia festa, não foi pra praia, não viajou. Se pegou Covid foi trabalhando, não fazendo algo de errado. E pagou por quem faz.

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Colapso no Oeste de SC

Xanxerê vive um colapso na rede de saúde, assim como Chapecó e toda a região. A cidade teve situação de calamidade pública decretada na última quinta-feira (25) por causa da pandemia, um dia depois que o prefeito chorou em público, apelando por ajuda.

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A situação do município é tão grave, que o Hospital Regional São Paulo emitiu um duro comunicado no início da tarde, onde informava que está sem espaço para novos pacientes em qualquer setor e fazia um alerta: “vamos começar a perder vidas de muitos pacientes“.

Na tarde desta terça-feira, o município somava 67 óbitos, segundo balanço divulgado da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e 566 pacientes ativos – contaminados e em fase de transmissão do vírus.

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