Agora ex-prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes (PSDB) recebeu a reportagem do Santa em seu último dia antes da renúncia para avaliar o período à frente do Executivo municipal. Ele fala sobre os êxitos, o que poderia ter feito de diferente e aponta os principais desafios para o sucessor. Confira a seguir:
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No primeiro mandato o senhor falava de gestão e projetos, enquanto o segundo seria de entregas e realizações. Pelos primeiros 15 meses é possível perceber que a previsão se concretizou. O que Blumenau pode esperar daqui para frente?
Em primeiro lugar, a minha segurança na condução do prefeito Mário em relação aos temas da cidade. A minha decisão de estar escalável para as eleições de 2018 só foi possível pela segurança e solidez do prefeito Mário tocar adiante aquilo que é um compromisso meu e dele, o nosso plano de governo. Não finda nada, o plano segue até dezembro de 2020. Em segundo lugar, eu sempre disse que a marca do primeiro mandato, embora tenha tido obras e realizações nos bairros, foi a conceitual, o que nos permitiu um segundo mandato realizador com o conjunto de obras em andamento e a própria questão da renovação da frota do transporte coletivo, que é outro legado. Essas duas marcas do segundo mandato também levam a um raciocínio adicional, que posso dizer com coração aberto que a posição mais cômoda da minha vida seria concluir esse mandato. É muito honroso ser prefeito de Blumenau reeleito aos 35 anos. Sou feliz com minha vida, com a minha filha, minha esposa, voltando a dar aula, fazendo doutorado. Voltar a fazer isso tendo concluído um mandato de prefeito eu estaria plenamente realizado. Ser duas vezes prefeito aos 36, 37 anos, com tanto nome em placas a entregar, então o conforto seria ficar.
Com base nos planos de quando foi eleito em 2012, o senhor acredita que conseguiu ter êxito e cumprir a maior parte do que era pretendido? O que ficou faltando?
Talvez o grande desafio seja de fato a conclusão de todas essas obras e a conclusão do processo de renovação da frota do transporte coletivo. Hoje é, na média, a mais nova do Estado e em 2020 será, por contrato, a mais nova do Brasil. Claro que é uma nova realidade do transporte coletivo e tem dois novos terminais a caminho, então também abre a oportunidade de reorganização do sistema. Para garantir melhor condição ao usuário e também uma racionalidade que possa equilibrar o sistema e o cidadão se sinta bem atendido. Mas o grande desafio é concluir as obras, porque ainda temos sob a cabeça a espada das desapropriações, que sempre foi um pepino, desde o primeiro dia do primeiro governo, a verba para isso. Os financiamentos abrangem obra, não desapropriação. Fruto de trabalho político e administrativo, nós viabilizamos toda uma estratégia através da outorga do ICMS no primeiro governo, que foi altamente relevante. Para o segundo governo, viabilizamos em uma tratativa minha com o senador Dalírio Beber junto ao então ministro das Cidades, Bruno Araújo, que alguns novos financiamentos da Caixa tivessem um percentual para desapropriação. Ainda estamos na boca de uma segunda tentativa com a Caixa, mas pela política monetária do governo (federal) houve um stand-by, então a gente continua com a espada na cabeça. Esse é outro grande desafio do Mário.
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Tem algo que ficou faltando, que o senhor desejava ter feito diferente?
Parto do pressuposto da consciência tranquila. A minha vida se confunde com a minha carreira e, por isso, abri mão de todo o resto, me devotei a essa construção. Não faltei a um dia de trabalho, não me dei ao direito das férias e nem a doença. Trabalhei aqui todos os dias, até no dia depois do casamento, para entregar o melhor. É óbvio que sempre há equívocos, falhas existem e peço desculpas à cidade quanto a isso. Mas tenho certeza que o melhor foi feito. Não há o que se lamentar. Saio leve. Os erros foram de boa fé.
Qual foi a marca do governo Napoleão Bernardes em cinco anos e três meses?
Separo os mandatos. No primeiro, foi o conceitual, a ênfase em transparência, gestão, banco de projetos, enxugamento, busca de qualificação técnica para os cargos. Esse modelo de gestão menos burocrático do case da Praça do Empreendedor, a coragem e audácia na tomada de decisões como a do Siga. Esse conceito marca o primeiro governo desde o primeiro dia de 2013, antes desses assuntos entrarem na moda com a crise econômica. No segundo governo, foi a realização nas mais diversas áreas, mas a grande ênfase é nesse conjunto de obras estruturantes em andamento. No desenvolvimento econômico, temos o case de sucesso da geração de empregos, em que lideramos índices nacionais.
Na questão da saúde melhoramos o que tem e otimizamos o atendimento com os AGs até a meia-noite, reformas, avanços em aplicativos de governo eletrônico. No “conjuntão” nós avançamos na estrutura, na questão social e na questão econômica.
Logo no primeiro ano de mandato, o prefeito encarou a maior greve de servidores da história de Blumenau. Depois parece ter conseguido estabilizar a situação e passou pela crise econômica com salários em dia. O lado gestor cresceu durante esses anos?
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Uma prefeitura é um PhD em Administração Pública e todas as áreas. Em última análise, tudo acontece na cidade. Um gestor municipal no mesmo dia trata de políticas educacionais, de saúde, de desenvolvimento econômico, de transporte coletivo, de obra, tudo.
Nessa situação dos servidores, a gente teve a reposição da inflação todos os anos, e olha que a gente chegou a ter inflação de 9,34%. E eu tinha um compromisso de ganho real de 1%, então, no ano da inflação de 9,34%, ainda tive que dar 1% de ganho real. Isso é muita coisa no auge da crise econômica. Foi isso que fez na maior parte do Brasil o maior número de prefeitos terem desistido da reeleição em 2016, e também o maior número de prefeitos não reeleitos na história do Brasil. E nesse cenário eu fui reeleito com a maior votação proporcional de Santa Catarina no segundo turno.
Popularidade vem e passa. O que fica é a credibilidade. Se teve o ônus de enfrentar a maior greve da história, teve-se o bônus de sair com a credibilidade de um compromisso que se podia honrar. Se a gente fosse tocando obras esporadicamente, para ser vistoso e dar sucesso na reeleição, talvez hoje a gente estivesse vivendo o que o Rio de Janeiro vive, o que outras cidades viveram. A gente optou pela responsabilidade.
No começo de 2016, o senhor tomou a decisão que na época chamou de a mais difícil de todas, que foi romper o contrato com o Consórcio Siga. De lá para cá, a frota se renovou, uma nova empresa chegou, mas a cidade ainda tem dificuldades para atrair mais usuários para o transporte coletivo, além de ter uma das tarifas mais caras do Estado e ter excluído uma série de linhas nos últimos meses. O plano de mobilidade diz que o transporte coletivo é o futuro, mas no fim dessa conta os usuários continuam caindo. O que faltou ser feito?
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Essa é uma ação administrativa em construção. Havia uma etapa primeiro emergencial, que era que motorista e cobrador tivessem salário em dia para continuar trabalhando sem paralisações. O básico e o emergencial era esse. E a gente venceu isso, garantiu salário em dia. O segundo passo era uma frota digna, e esse também já deu certo. Agora tem a terceira etapa que é infraestrutura, então dois novos terminais estão em construção e bem avançados. Eles são exemplo conceitual de tudo que está por trás das obras de mobilidade, pois o mesmo terminal de ônibus é pensado no ciclista, no pedestre, em quem está de carro. As grandes obras, como o binário da Chile com a Argentina, Humberto de Campos, General Osório e Rua Bahia têm o trânsito pensado como um todo e ênfase no transporte coletivo. Se dá mais velocidade e reduz o tempo entre os terminais, ganho de tempo é economia para o sistema e reflete no custo/benefício. Com a entrega dos dois novos terminais será feito um replanejamento por completo de linhas, horários, para que tudo seja readequado com sustentabilidade.
A perda que houve dos passageiros é fruto da falta de credibilidade do sistema, fruto das paralisações. Leva tempo para reorganizar isso. Agora, as pessoas estão vendo que não para mais por falta de salário, a frota está renovada, a infraestrutura está acontecendo e os ônibus vão andar com mais velocidade. Com isso vai se tornando um sistema mais atrativo. Na linha que se tem hoje com a frota mais nova, na balança a tarifa não é a mais cara do Estado pelo grau de investimento. Mas é óbvio que sempre se deseja uma tarifa menor, é um círculo que é vicioso e que deve se tornar virtuoso. A combinação de tudo isso que está planejado e em execução vai permitir a retomada da credibilidade do sistema e equilibrar isso tudo. É uma ação em curso.
Outro ponto que norteou os debates desde 2012 e que de certa forma ficou pendente em seu mandato foi a Ponte do Centro. O prefeito disse várias vezes que decidiu por duas pontes distintas e, por enquanto, nenhuma saiu do papel. O assunto deveria ter sido tratado de outra maneira?
Com a experiência vivida e começando do zero, com o traquejo político no sentido amplo, de relacionamento e diálogo com as forças da comunidade, talvez eu tivesse melhorado e conduzido diferente a decisão. Do ponto de visto técnico, há convencimento da equipe técnica do município pela decisão que se tomou. A ponte da Rodolfo Freygang com a Chile tinha um projeto de arquitetura e trabalhei para viabilizar a ponte com a criação de um projeto de engenharia, que é o que se permite a capacidade de licitar uma obra, o projeto de arquitetura não faz isso. A segunda ponte, a Norte-Sul, era um conceito. Ela agora tem um projeto de arquitetura pronto. Se supunha haver recursos para a ponte da Rodolfo com a Chile, que era do BID para um conjunto de obras. Se optasse pelo investimento na ponte, que era estaiada, bonita, com um investimento diferente, todo esse grande conjunto de obras em execução hoje talvez se resumisse a uma única ponte. Não teria verba para os corredores estruturais, terminais. Tudo é importante, mas em vez de investir numa única ponte, a gente investiu num conjunto de obras.
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Na eleição de 2016, o senhor elencou cinco temas como prioridades para o mandato: desenvolvimento econômico, creches, obras, saúde e transporte coletivo. Algum desses recebeu menos atenção do que pretendia? Qual teve mais sucesso?
Não é questão de menos atenção, mas depende da conjuntura. Posso citar as creches. Nosso compromisso eram sete e viabilizamos o início da construção de seis. Mas é um recurso do governo federal, que pela crise da Dilma, transição de governo, passaram três ministros da Educação nesse tempo. Cada vez que trocava o ministro tinha que começar do zero. Teve impeachment, teve ministro trocando como se trocava de roupa. O grau de execução das creches é proporcional ao que vem de repasse federal, então o ritmo não dependeu de nós. No desenvolvimento econômico a gente ampliou várias áreas, atuação da Praça do Empreendedor maior, lei da inovação e tudo mais. Nas obras andamos, conseguimos até a Rua Bahia, que era sempre o meu desabafo. Na saúde entregamos a reforma da Policlínica. Sempre tem o que fazer mais, mas vivo um momento especial em que sinto os compromissos entregues.
A Blumenau de 2020 citada pelo senhor enquanto candidato em 2016 teria mais parques, asfalto novo, novas pontes, centro de convenções e a Margem Esquerda urbanizada. Perto da metade do caminho, esses objetivos ainda soam reais?
A Margem Esquerda tem o compromisso do Pinho Moreira feito aqui no gabinete. Nunca chegou em mim a conversa de uma escolha entre verba para Margem Esquerda ou para Centro de Convenções. Há um compromisso do vice-governador e hoje governador de R$ 15 milhões para a Margem Esquerda e um compromisso do governador Colombo de R$ 15 milhões para o Centro de Convenções. Não há nenhuma negativa sobre o Fundam oficialmente para os prefeitos. Oficialmente o que a gente tem é a confirmação. Mas a situação é de que o BNDES não financiaria obras pingadas dos municípios, que cabe obras estruturantes. Na minha ótica o Centro de Convenções continua elegível, ainda que não venha o Fundam na sua configuração original. Poderia vir pelo BNDES e provo que o Centro de Convenções se enquadra como obra estruturante regional sem concorrer com os centros de Balneário Camboriú e Florianópolis.
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Torço para que venha o Fundam na sua ideia original, pois cada município já se organizou, criou expectativa, fez projeto. Ainda que ele venha por BNDES em investimentos somente para obras estruturantes do Estado, o Centro de Convenções continua elegível. E aí a questão da Margem Esquerda é o compromisso do Pinho. Nunca houve até o momento por parte do Estado a faca no pescoço de dizer “um ou o outro”, então continuo acreditando em ambos e a gente constituiu condições para ambos. Defendemos para dois governadores e tivemos o ok de ambos. Então o serviço está mais do que bem feito, agora é a expectativa.
Em relação a parques, o das Itoupavas está em execução e vai ser entregue. Os dois terminais de ônibus também têm áreas de lazer, além da própria Margem Esquerda que será uma área de lazer. E tem o projeto do parque no Garcia, que é um compromisso. E tem ainda o compromisso do Estado ao desativar o presídio. Blumenau aceitou a penitenciária com a condição de desativar o presídio e depois ter um parque naquele espaço na General Osório. E tem ainda muitas praças pipocando com as parcerias com as empresas. Tem ainda um projeto grande de parque na beira do rio na Rua Silvano Cândido da Silva, que seria um início da Marinha Pública de Blumenau. Por fim, tem o asfalto novo na Rua Bahia, todas as obras em execução e várias ruas que pavimentamos. Algumas que a população protestava desde quando eu era vereador e agora foram pavimentadas.
Após a renúncia, você terá em torno de quatro meses até as convenções partidárias. Até lá o que pretende fazer?
Uma das coisas que meu coração aperta é a minha filha, que fez cinco meses na terça-feira. Tenho focado em pelo menos algum período do dia estar ao lado dela acordada, mas tem dias que não têm jeito. Saio quando ela está dormindo, volto com ela dormindo. O coração aperta de verdade. O propósito desses quatro meses é percorrer o Estado, as regiões, falar do modelo de gestão e ao mesmo tempo ouvir as demandas e desafios. Serão quatro meses de pé na estrada.
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