A expansão de 15% ao ano no setor da construção civil vem cada vez mais acompanhado de novas tecnologias e tendências para o mercado catarinense. O vice-presidente de tecnologia, qualidade e habitação do Sindicato da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), Marco Aurélio Alberton, avalia o nível de exigência do investidor, a competitividade e o que esperar nos próximos empreendimentos:

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Diário Catarinense – As tendências estão vindo de fora para o mercado catarinense ou partem daqui para os demais Estados?

Marco Aurélio Alberton – Os dois movimentos estão acontecendo a todo momento. No mercado de São Paulo, por exemplo, os apartamentos estão diminuindo de tamanho, o que não é aceito pelos catarinenses. No entanto, o conceito de ambientes integrados, como cozinha e sala, por exemplo, é uma realidade que caiu no gosto do consumidor. Uma tendência que tem se incorporado são os empreendimentos com infraestrutura de lazer, fitness center, sala de jogos e de cinema, com o diferencial de estar mobiliado, decorado e com toda a infraestrutura mais detalhada possível. Há casos de salão de festas contarem até com os talheres. O mercado está tão integrado que as tendências são criadas e recebem releituras a todo momento.

DC – O investidor catarinense está entre os mais exigentes e interessados em ter tecnologia agregada ao seu empreendimento?

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Alberton – Estamos começando a partir para esse nível de exigência. Em Balneário Camboriú, por exemplo, agora está se tornando comum o uso de gruas nas obras, o que agiliza a construção, além de reduzir o preço da mão de obra, um item cujo custo tem subido rapidamente. Trazer tecnologia para o canteiro de obras do empreendimento é um investimento que aumenta a velocidade, garante a padronização e no fim das contas apresenta uma ótima solução para a escassez de profissionais qualificados nesta área. Principalmente nas cidades do litoral os projetos tem sido acrescidos de tecnologia, além de mais qualidade e rapidez no acabamento. Hoje Santa Catarina é um polo na produção de materiais de construção com mais tecnologia agregada, desde a forma com que é produzido até a melhor solução que ele apresenta no produto final.

DC – Ter um produto com tecnologia agregada ao imóvel significa um custo mais alto no fim da obra?

Alberton – Enquanto não se torna popular, sim, mas é um diferencial que se dilui ao longo do tempo. A sustentabilidade, uma tendência que tem se tornado padrão nas obras, ainda acresce 5% no produto final, mas isso é um ganho ao longo do tempo e que retorna em cinco ou seis anos, em média. O fato é que ainda estamos informando o consumidor para que ele se torne o tipo de cliente disposto a adquirir esse diferencial. Esta realidade já acontece no comércio, onde é algo mais palpável e os valores são bem menores do que um empreendimento do porte que oferecemos. O próprio mercado ainda está ajustando estas informações para poder mostrar ao consumidor o quanto pode significar pra ele investir para ter uma casa ou apartamento com tecnologia agregada.

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DC – O padrão de exigência do investidor catarinense está ficando mais alto do que em anos anteriores?

Alberton – Qualidade também está ligada ao uso de materiais com mais tecnologias na sua fabricação e isso ainda encarece o empreendimento porque é novidade. Colocar uma esquadria ou uma porta com durabilidade maior ainda significa mais, mas o investidor catarinense, de uma forma geral, está sim exigindo um padrão de excelência mais alto e o mercado está disposto a pagar por isso. De outro lado, a concorrência faz as empresas investirem mais em projetos de engenharia. Itens como localização, estética, funcionalidade e qualidade nos produtos são levados cada vez mais em consideração. O comprador quer saber o que a empresa está fazendo para investir em tecnologia no produto que oferece ao mercado. Algumas propostas são mais evidentes, principalmente na faixa entre R$ 250 mil e R$ 400 mil, onde o investimento em tecnologia fica ainda mais visível e a quantidade crescente de empresas nesta fatia faz a qualidade ficar ainda maior.

DC – E quais as tendências que a feira apresenta para o mercado catarinense nesta edição?

Alberton – Uma das novidades são os prédios integrados, onde há ofertas de espaços residenciais e comerciais na mesma torre. É um avanço em termos de integração em relação ao que se tornou comum em partes da casa, na primeira década dos anos 2000. Esta é uma tendência também nos Estados Unidos, Inglaterra e mesmo em São Paulo, e está sendo trazida fortemente para Santa Catarina. Na Capital há uma obra sendo erguida nestes moldes.

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DC – O investimento em tecnologia tem crescido em Santa Catarina? Quais as perspectivas do setor nesse nicho?

Alberton – Ainda estamos iniciando a prática de investir fortemente em tecnologia, mas esse cenário deve começar a se transformar radicalmente a partir do ano que vem com a entrada em vigor da norma NBR-15575, que avalia o desempenho dos materiais utilizados na obra e exige das construtoras padrões de estabilidade térmica, isolamento e conforto acústico, potencial de iluminação e acessibilidade, por exemplo. No mercado catarinense, várias empresas se preparando para terem condições de oferecer produtos com esses padrões. Isso deve mudar a forma de comercialização de empreendimentos uma vez que passaremos a vender de acordo com o desempenho. Nesse momento os construtores procuram por fornecedores e essa tendência vai começando aos poucos até se alastrar e chegar a todos os negócios ao longo dos próximos anos.