Há mais de um ano, o ponto de encontro mais popular de Itajaí fechava as portas. Interditado por ordem judicial, o Mercado Público foi esvaziado para passar por obras de restauro, iniciadas em janeiro deste ano. Na sexta-feira, a única empresa que se apresentou para a licitação da segunda etapa dos trabalhos foi escolhida para dar sequência à empreitada.
Continua depois da publicidade
A previsão é que o mercado seja reaberto em dezembro, quando já terá iniciado a temporada de verão e de transatlânticos na cidade. Pela segunda vez em dois anos, Itajaí chegará à época mais movimentada do ano sem uma parte de sua história.
A ideia era que a obra ficasse pronta mais cedo. A primeira parte, que incluiu adequação do sistema de prevenção a incêndios, reparo elétrico, contenção de infiltrações e reforço da cobertura – feitos por força de uma ação civil pública – terminou em abril. Desde então, a Fundação Cultural aguardava a liberação de recursos do governo federal através de uma emenda parlamentar, que não ocorreu.
O município decidiu, então, terminar o restauro por conta própria. Uma licitação havia sido aberta em 1º de outubro, mas não houve empresas interessadas no trabalho. A concorrência pública foi reeditada na sexta-feira, com apenas uma concorrente: a construtora Secon, de Itajaí, que foi responsável pelo recente restauro da Biblioteca Pública Municipal.
Continua depois da publicidade
O contrato, de R$ 189,2 mil, prevê que a obra seja concluída em 60 dias. Só então, as empresas que assumirão os espaços comerciais do mercado poderão tomar posse e iniciar as atividades.
Perde o turismo
Segundo o procurador jurídico da Fundação Cultural, Marco Cachel, a previsão é que o mercado volte a abrir as portas ao público ainda este ano. Responsável pela Agência Acadêmica de Turismo da Univali (Acatur), o turismólogo Athos Henrique Teixeira considera a demora na reabertura uma perda para Itajaí:
– Além de o mercado ser um marco para a cidade, o turista que chega também é prejudicado porque perde a oportunidade de conhecer Itajaí e um pouco da história.
Continua depois da publicidade
Comércio no local será remodelado
A ocupação dos espaços comerciais do Mercado Público dependerá de uma nova licitação, que deve ser aberta nos próximos dias. Na primeira concorrência pública, das sete salas apenas três tiveram a ocupação definida. Segundo o procurador jurídico da Fundação Cultural, Marco Cachel, a maneira de distribuição das salas está sendo repensada, e a primeira licitação pode ser cancelada.
– Estamos em conversa com a promotoria e pensamos que o ideal seria um uso mais efetivo – diz Cachel, que não revela quais são as alterações previstas.
Filha de Isaías João da Silva, que comandou por 60 anos uma loja de artesanato no Mercado Público, Zilda da Silva, 48 anos, não gosta da ideia de mudança. Isaías morreu pouco tempo depois da interdição do mercado, e a família não chegou a concorrer a um novo espaço na última licitação.
Continua depois da publicidade
– Eu gostaria de voltar, mas se fosse para ficar como era. O mercado era muito gostoso principalmente aos sábados, quando tinha música ao vivo e gente que vinha de fora para passear – diz.
Os antigos permissionários deixaram o mercado por exigência do Ministério Público. A prefeitura foi orientada a ocupar os espaços através de licitação.
Chafariz é o maior desafio do restauro
Diferente de uma reforma comum, um restauro prevê a manutenção das características originais do imóvel e exige cuidado redobrado. Arquiteto da construtora Secon, que venceu a licitação, Marcos Aurélio Bassani diz que o principal desafio no Mercado Público será o chafariz, que decora o pátio interno do edifício. A reforma das esquadrias também é apontada por ele como uma das partes mais difíceis da obra.
Continua depois da publicidade
– Num restauro o prédio precisa ficar com aparência e produtos que eram usados na época da construção. O reboco tem que ser feito com barro – explica o arquiteto.
A intenção dele é que o restauro inicie ainda esta semana, logo após a assinatura da ordem de serviço. A empresa encontrará o Mercado Público já pintado com cores próximas das originais.
Segundo a arquiteta Silvana Pitz, diretora de estudos e projetos da Fundação Cultural, não foi possível identificar qual a cor que enfeitava os primórdios do prédio, que já passou por um incêndio, na década de 30. O amarelo e verde foi escolhido com auxílio de especialistas, por se aproximarem dos tons usados na época. ?
Continua depois da publicidade
O mercado
Inaugurado em 1918, o Mercado Público passou por um incêndio em 1936, quando precisou ser parcialmente reconstruído. O novo edifício ganhou características do estilo art déco simplificado, que aparece nas colunas e nas linhas retas do prédio. A construção é tombada pelo patrimônio histórico municipal desde 1998, e pelo patrimônio histórico estadual, desde 2001. ??