A natureza se encarregou de dar contornos épicos à disputa mais acirrada em 50 anos nos EUA.

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Não bastassem as pesquisas indicarem empate entre Barack Obama e Mitt Romney, o furacão Sandy, que põe em alerta 60 milhões de pessoas, atrapalhou os planos dos dois candidatos, que apostavam em uma semana de agenda cheia pelos Estados que decidirão a eleição.

Toda a Costa Leste americana está preocupada. Sandy tem ventos de 120 km/h, o que o coloca na categoria 1 na escala Saffir-Simpson, a menor. Mas não é a intensidade de seus ventos que o torna ameaçador. É o seu diâmetro, maior do que o normal, que abarca, além de Nova York e New Jersey, outros sete Estados: Connecticut, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Massachusetts e Pensilvânia. A Flórida, onde ZH está desde sábado, não está na rota de Sandy, mas seus efeitos podiam ser sentidos em Miami Beach, a luxuosa região costeira, que ontem começou a votação antecipada. A maré alta provocou uma cena incomum em se tratando de EUA: ruas alagadas, com até meio metro de altura.

Na manhã deste domingo, um terremoto no Canadá chegou a gerar um alerta de tsunami nas ilhas do Havaí, logo cancelado. O que preocupa mesmo é Sandy, que invadiu a campanha eleitoral justamente quando os candidatos não têm tempo a perder. Foram necessários malabarismos nas agendas: Romney cancelou um comício previsto para hoje, na Virgínia, e irá para Ohio. Obama antecipou para hoje um evento na Flórida, a fim de retornar à Casa Branca a tempo de acompanhar a situação em seu gabinete de crise.

– Levem a ameaça muito a sério – aconselhou o presidente.

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Uma tragédia poderia sepultar de vez suas chances de reeleição. Por isso, todo o cuidado é pouco. Qualquer percepção de que o governo federal teria sido relapso – a exemplo do que ocorreu com George W. Bush durante o furacão Katrina, em 2005 – selaria o fim da era Obama. A tempestade também pode dificultar o acesso de eleitores aos centros de votação – aqui, nos EUA, o voto não é obrigatório, e em Estados-chaves o voto antecipado é uma arma dos democratas.

Sandy deve tocar terra entre domingo e segunda-feira, no sul do Estado de New Jersey. Como precaução, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, suspendeu os serviços de metrôs, ônibus e trens desde as 19h de hoje. Há o temor de inundação do metrô. Não haverá aulas. A circulação de carros nas pontes que ligam as diferentes regiões da cidade, como Manhattan, Brooklyn e Queens, pode ser interrompida. Sandy, apelidado de Frankestorm (uma junção das palavras Frankenstein, por conta do Dia das Bruxas, e tempestade), pode se transformar em uma supertempestade por conta de um fenômeno incomum: seus ventos devem se fundir a uma tempestade de inverno, que avança sobre o território americano e a uma massa de ar frio, que se desloca do Canadá. Caso se encontrem, os fenômenos poderiam causar pelo menos US$ 1 bilhão em danos.