Antônio Ceron (PSD), prefeito de Lages, dá sequência às entrevistas com os chefes do Executivo dos principais municípios do Estado sobre cidades nascerão após a crise criada pelo coronavírus. Na entrevista, ele fala dos desafios na saúde, da retomada econômica e os impactos sociais que a pandemia está causando.
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Ceron aborda os avanços na gestão pandemia e cobra um comportamento mais humano e social das pessoas:
– A pandemia traz junto com ela uma série de lições em todos os sentidos. Temos que ter um comportamento mais humano, mais social – projeta.
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O prefeito de Lages comenta também sobre a integração regional nas tomadas de decisão, é otimista sobre a vacinação e comenta sobre as ações planejadas para a economia. Confira:
O senhor acredita que haverá legados positivos em infraestrutura de saúde em Lages ao final da pandemia?
É evidente que a pandemia traz junto com ela uma série de lições em todos os sentidos. Em termos de saúde, o aprendizado será um legado. Para os profissionais de saúde e para a população em si. Temos que ter um comportamento mais humano, mais social. Em Lages, temos uma demanda muito grande que é o Hospital Tereza Ramos, que foi construído no governo passado. Faltavam 2% ou 3% da estrutura. Em dois anos, agora, em função até da pandemia, que evoluiu. Temos uma expectativa muito grande porque não é apenas uma ala nova, é um hospital novo. É uma questão que vai ficar.
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A tecnologia, a videoconferência, é outro modelo de interagir internamente e até com a comunidade. Também é um ganho. Na questão de pessoal, tem o aprendizado em questões como prevenção, estocagem de remédio. Como a gente é positivo, consegue achar alguns legados.
Essa questão da abertura da nova ala do Hospital Tereza Ramos é muito emblemática em Lages e motiva discussões políticas entre o atual governo estadual e o anterior. O senhor acha que vai ser possível resolver essa questão?
Estive com o governador (Carlos Moisés, atualmente afastado para responder ao processo de impeachment), também com os secretários Helton Zeferino (que deixou o governo em maio do ano passado) e André Motta Ribeiro (exonerado pela governadora interina Daniela Reinehr). Já tem uma parte funcionando, em função da pandemia, mas com certeza esperamos a abertura. Até porque Lages é o centro de uma região que pega o Vale do Rio do Peixe, toda a região serrana, mais de 350 mil habitantes. É uma região grande. O Hospital Tereza Ramos para nós, em todos os sentidos, é um centro de referência e essa obra é um ganho muito grande.
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O quanto Lages conseguiu expandir a rede de saúde para enfrentar a crise do coronavírus?
Nós tínhamos zero de UTI para apandemia. Começamos com 29 leitos, hoje temos 56 e mais 19 estão sendo montados. São 10 no Hospital Seara do Bem e mais 19 no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres. É um ganho. Além de outras estruturas de enfermaria. Sempre fica um ganho.
Acha que será possível manter esse número de leitos de UTI após a pandemia? É sustentável?
Os leitos, sim. Eles estão habilitados junto ao governo federal. Talvez haja um corte por parte deles. Mas também tem que dimensionar a demanda que a gente vai ter. Porque quando sair a Covid-19, e que Deus ajude que saia, temos um represamento de cirurgias eletivas, de outras doenças que neste momento foram deixadas de lado porque a prioridade é a covid-19. A gente vai ter uma demanda muito grande no segundo semestre, quando a Covid-19 deve diminuir, dessas doenças que ficaram represadas. Por isso, vamos continuar precisando de uma estrutura. Não digo todos esses leitos ativados (como UTI), mas pelo menos como enfermaria.

Outra lição que a pandemia trouxe é a necessidade de integração regional, um diálogo melhor entre os prefeitos. Como está sendo a experiência? A conversa com os prefeitos da região está bem azeitada?
No dia 17 de março, segundo ou terceiro dia em que a pandemia começou a tomar volume, constituímos um gabinete de crise que envolve inclusive a associação dos prefeitos. Temos uma convivência de harmonia muito grande entre os 18 prefeitos da região. Via de regra, e com apenas uma exceção, Lages sempre foi modelo nas atitudes. Sempre os decretos de Lages acabaram sendo modelo para os demais municípios. Houve uma exceção, com os fechamentos e restrições maiores por 16 dias que fizemos. Eles entenderam por bem não fazer, mas o relacionamento é grande. Esses municípios são filhos nossos, todos saíram da Grande Lages.
A vacinação é a grande esperança para retorno à vida normal. O que estes primeiros momentos da vacinação trazem de experiência para quando o Brasil puder imunizar com maior volume?
Todos nós estamos na expectativa de que seja de fato a solução. Não é uma crítica, mas entendo que no começo não houve uma sincronia no governo federal. Mas a parte da logística funciona 100%. Tanto é que entregam em São Paulo um lote de vacina, em 24 horas ele está em Florianópolis e em poucas horas chega a todas as regionais de Saúde do Estado.
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O volume de vacinas também aumentou bastante. Santa Catarina estava lá com 1%, 2% e hoje já está com mais de 11% da população vacinada na primeira dose. A gente tem que ser otimista.
É possível ser otimista também na questão econômica?
Com certeza o ano de 2021 vai ser muito problemático na questão da economia, com reflexos sociais também. As empresas mais fracas vão demorar a se recuperar, as pessoas mais vulneráveis socialmente também. As próprias prefeituras. Ano passado o aporte de recursos do governo federal na compensação de receitas perdidas e no auxílio à saúde foi muito alto.
Este ano não aconteceu nada, a não ser a manutenção dos leitos de UTI. Nos primeiros dois meses tivemos uma perda em torno de R$ 1 milhão por mês de arrecadação. Os prefeitos terão que fazer uma gestão muito segura para que a gente não tenha um legado muito ruim para os próximos anos.
E para a retomada econômica de Lages, que ações e setores devem ser priorizados?
Ano passado aquele auxílio emergencial deu uma camuflada em termos de movimento econômico, vendas, comércio. Foi dinheiro injetado naquelas famílias que receberam aqueles R$ 600 ou R$ 1,2 mil e que foram fazer compras. Aquele dinheiro movimentou. Este ano, estamos em metade de março e há uma expectativa, talvez em abril, de vir R$ 200, R$ 250. É uma situação que deve nos preocupar.
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Temos algumas atividades econômicas, com a industrial e a construção civil que andou mais ou menos na normalidade. No comércio, as atividades essenciais também andaram mais ou menos dentro da realidade. Agora, falamos de atividades não essenciais, mas é não essencial para quem não vive delas. Pessoas mantêm as famílias com essas atividades. Essa atividade dita equivocadamente de não essencial, vai ter problemas.
Agora temos a boa notícia de que o governo estadual vai abrir uma linha de crédito muito grande no Estado. Aqui, a Secretaria de Desenvolvimento está estudando alguma maneira de dar um braço amigo de apoio. Nós postergamos o recolhimento de todas as taxas de funcionamento, alvarás, até 31 de agosto.
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