O advogado e assistente jurídico Sady Beck Júnior terá pela frente o desafio de trazer de volta aos trilhos o atendimento socioeducativo de adolescentes infratores em Santa Catarina.
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Ele assumiu a direção do sistema no lugar da arte-educadora Bernadete Sant’Ana, que pediu demissão do cargo após crise no único plantão de menores da Grande Florianópolis.
As mudanças foram anunciadas nesta sexta-feira pela Secretaria da Justiça e Cidadania (SJC), na Capital. A assessoria da secretária Ada De Luca disse que foi Bernadete quem pediu o desligamento da direção do Departamento de Administração Socioeducativo (Dease).
A SJC informou que Bernadete seguirá como assessora técnica e cuidará da área de políticas públicas, no gabinete de Ada.
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A mudança aconteceu dois dias após o Diário Catarinense publicar reportagem sobre a crise no Plantão de Atendimento Inicial (PAI), o único lugar que recebe adolescentes infratores na Grande Florianópolis.
Por telefone, o novo diretor do DEASE, Sady Beck Junior, 37 anos, conversou com o DC na tarde desta sexta-feira e falou sobre os crônicos problemas no atendimento a adolescentes em SC.
ENTREVISTA: Sady Beck Júnior, diretor do Dease
Diário Catarinense – Qual será sua primeira medida?
Sady Beck Junior – Quero primeiro me inteirar e não tomar nenhuma medida radical. A gente tem alguns gargalos, problemas bem pontuais, que é o PAI em Florianópolis, o problema causado pela desativação do São Lucas, o CIP de Itajaí. Na verdade, nosso problema está na internação provisória.
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DC – Na Grande Florianópolis não há estimativa ainda de quando começam as obras do novo São Lucas?
Sady – O São Lucas estava para começar ano passado, num terreno em Biguaçu. Mas se constatou que era alagadiço, ao lado de uma fábrica de ossos e não dava para fazer lá. Então decidiu-se fazer no terreno em São José, onde estava antes. Isso demandou readequação de projeto, necessidade de aprovação em Brasília… É a questão burocrática que entrava, vai e volta. Nos próximos três meses teremos definição.
DC – As obras começam então em três meses?
Sady – Não. Vou ter definição se vou licitar ou se vamos executar diante da situação, se a urgência vai permitir licitarmos ou não essa obra. Uma licitação para uma obra do novo São Lucas tem prazos, estamos sujeitos a recursos e isso tudo vamos avaliar. O início das obras sai esse ano. Isso posso afirmar. No mais tardar até agosto entregamos o CASE (Centro de Atendimento Socioeducativo) de Joinville também.
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DC – Tem um edital lançado para contratação de mais de 700 funcionários no atendimento socioeducativo pelo Estado…
Sady – Tem. Uma parte da aplicação das medidas socioeducativas hoje no Estado é feita por ONGs. Isso é perfeitamente legal. Só que assim, por que é ONG tal e não a ONG X, a ONG Y? Então a gente está selecionando com base em critérios para que tenhamos transparência e isonomia.
DC – E os problemas do plantão na Agronômica? Há relatos de tortura, desvios de função. O senhor se inteirou a respeito?
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Sady – Estou me inteirando. Ali no PAI o problema maior era a questão da ala feminina. Só lá a gente tem nove atestados. Isso é um negócio complicado. Às vezes a pessoa não está contente… Tem muito agente socioeducativo e no sistema prisional que não gosta, que não se sente a vontade, e lá na ponta, está no dia a dia, ressocializando preso, aplicando a medida socioeducativa. O trabalho deles está sujeito a animosidade dos menores, dos presos.
DC – Como vê esse momento de adolescentes envolvidos com o crime e drogas?
Sady – Isso é uma questão tão abrangente, que começa na verdade com a falta de educação na família, de ensino fundamental. Tem a deficiência na segurança, na aplicação da medida, na legislação. Hoje se você puxar o adolescente pelo braço para conter isso já pode ser considerada uma agressão. Muitos dos adolescentes são vítimas também dos adultos, que os utilizam como instrumento para cometer os delitos.