Policial militar há quase três décadas, o vereador eleito Richard Harrison (PMDB) pretende debater em profundidade na Câmara um tema que preocupa muitos joinvilenses: o da segurança pública. Uma das propostas do parlamentar é criar um sistema de informações sobre criminalidade ao qual todos os cidadãos teriam acesso e poderiam ser alertados sobre os perigos da violência. Diretor da Penitenciária Industrial de Joinville entre 2007 e 2016, Richard se destacou na unidade prisional por instituir uma forma diferenciada de administrar, utilizando ferramentas de reintegração social na relação do interno com a sociedade.
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Qual é o primeiro projeto que o senhor pretende apresentar?
– Temos um grande déficit na segurança pública. Quando ingressei na Polícia Militar em 1988, tínhamos 1.170 policiais para uma cidade de 380 mil habitantes. Hoje, o quadro é de 700 policiais (para mais de 560 mil habitantes), considerando a Civil e a Militar, além de ausência total de atenção nesse sentido. A comunidade não tem conhecimento sobre as condições das ações desenvolvidas. A criação da Guarda Municipal contribuiu com a segurança, mas penso que seja interessante para a comunidade ter um projeto de divulgação das informações relacionadas à criminalidade. Hoje, essas informações estão guardadas ou segmentadas nos organismos de segurança. A partir do momento que a comunidade tiver isso à disposição, ela também poderá contribuir com informações sobre onde estão ocorrendo os crimes, indo com mais atenção nas ruas. Numa analogia grotesca, é como se a pessoa fosse tomar banho em uma lagoa e lá tivesse uma placa alertando sobre a existência de um jacaré ou outro perigo. Ciente disto, a pessoa não entra na lagoa ou assume os riscos de entrar. Precisamos trabalhar esse processo, pois existem ferramentas legais para isso. Pinçar as informações e construir uma possibilidade de o munícipe acessar na hora que quiser e quando quiser.
Como o senhor pretende trabalhar essa proposta, já que os investimentos na segurança pública são feitos pelo Estado?
– A condição que o Estado vive hoje é clara e seria uma incoerência da minha parte dizer que, na qualidade de vereador, faríamos um movimento para colocar mil policiais em Joinville. O que temos à disposição hoje é a tecnologia, os modais de policiamento. Temos de discutir a segurança pública em Joinville, visualizando esse crescimento. Há 28 anos, quando entrei na PM, tínhamos 1.170 policiais, 90 presos e 104 vagas no sistema prisional. Crescemos 1.444% no número de presos nesse período em Joinville devido à falta de políticas públicas na segurança. O problema é que não avançamos na área da prevenção, e a prevenção não se faz necessariamente com o efetivo da polícia. Temos modais tecnológicos que nos permitiriam avançar muito nesse segmento, facilitando a atividade de polícia preventiva. Não queremos fazer apenas a prevenção. É claro que é muito importante a figura do policial fardado nas ruas, pois o bandido evita o confronto, mas a tecnologia também é hoje um modal de segurança e precisa ser mais explorada, ter atuação sistêmica e enérgica dos poderes públicos. As organizações privadas podem contribuir muito nesse sentido.
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Levar mais bandidos para as prisões não resolve?
– A gente conduz uma série de pessoas para o sistema prisional e isso não resolve nada. Acabamos criando mais problemas. Temos de evitar as prisões. E falo isso com conhecimento de causa. A maior parte dos presos não estaria lá se tivéssemos agido preventivamente. Lá, você tem o psicopata e o sociopata. Esses devem estar efetivamente presos. Mas a grande maioria, cerca de 80%, entra por falta de oportunidades. Outros 73% têm o primeiro grau incompleto e 90% não possuem qualificação profissional, que são molas propulsoras para entrar no crime. Precisamos mudar isso.
O senhor chega ao Legislativo para cumprir o primeiro mandato. Mudou a sua maneira de encarar os problemas da cidade?
– É claro que tudo é novo. Embora eu tenha feito as prospecções enquanto candidato e discussões com a equipe de trabalho, quando se senta na cadeira do legislador, você começa a entender todo o processo burocrático em que estamos inseridos. Precisamos renovar e os desafios são grandes. Temos alguns vícios na política que precisam ser derrubados e acelerados. Não interessa se sempre foi feito de um determinado modo. Nossa missão é reformar isso dentro da perspectiva do eleitor.
Como o senhor interpretou os resultados das urnas? A classe política precisa mudar?
– Essa é uma conversa que tenho tido com alguns vereadores. Quando cheguei ao sistema prisional, diziam que ele era ruim de se trabalhar, que o ambiente era corrupto. Formatamos um modelo e as pessoas passaram a ter orgulho de trabalhar na Penitenciária Industrial de Joinville, que virou referência no País em relação à integração. Hoje, percebo que há uma maneira pejorativa de falar do político. Acho que temos uma grande missão: retomar a responsabilidade da dependência das pessoas e criar um processo político decente, para atender à coletividade.
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