O crescimento do temor de que a crise na Europa voltou a se agravar e pode levar a Grécia para zona do euro derrubou bolsas de valores nesta quarta-feira. Investidores buscaram refúgio no dólar, que no Brasil já se aproxima dos R$ 2, com indícios de que esse movimento começa a afetar a inflação.
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A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou a queda e recuou 0,96%. O dólar negociado na BM&F Bovespa avançou para R$ 1,9604. O Banco Central se mantém fora do mercado de câmbio à vista desde 27 de abril. Mesmo assim, o dólar subiu 4% no período. Nas casas de câmbio em Porto Alegre, já é cotado a R$ 2,08.
A coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Eulina Nunes dos Santos, ressaltou que a elevação “significativa” da inflação em abril pode ter influência da alta do dólar. A taxa medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo ficou em 0,64%, a maior desde abril de 2011.
– Há indícios de pressão decorrente do aumento do dólar. Quando a valorização começa a chegar aos preços ao consumidor, os primeiros itens que revelam esse efeito são artigos de limpeza – explicou Eulina.
Os preços dos artigos de limpeza, cuja fabricação tem muitos produtos importados, aumentaram 1,38%.
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Na Grécia, depois das eleições no último domingo, os partidos políticos não conseguem formar um governo de coalizão – nenhum tem maioria. Representantes da zona do euro já discutem a suspensão do repasse de recursos do bloco devido à falta de acordo. Na França, o candidato eleito, François Holland, é contra medidas de arrocho.
Bloco vive dilema entre austeridade e crescimento
A reação popular já derrubou vários governos na Europa, exigindo uma mudança de estratégia de combate à crise – atualmente, a austeridade, personificada pela chanceler alemã, Angela Merkel. Do outro lado, a saída é vista pela retomada do crescimento da economia.
– A Alemanha cansou de sustentar o bem estar social de vários membros da zona do euro. Os europeus vivem uma situação absolutamente inédita, é difícil prever o que poderá acontecer – avalia Alexandre Barros, cientista político e analista de risco.
Diante dos movimentos contrários à austeridade, o especialista vislumbra a continuidade da crise do euro, com risco até de desaparecimento da moeda, com a volta ao sistema anterior.
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Economista da Consultoria Tendências, Raphael Martello prevê forte aversão ao risco, com fuga de investimentos, queda nas bolsas e impacto nos preços das commodities.
– Os países como um todo tendem a proteger seus sistemas financeiros – afirma Martello.
* Com agências