Depois do dia de euforia em reação ao pacote de quase US$ 1 trilhão para socorrer economias europeias em crise, parte das bolsas globais voltaram a cair ontem. Às dúvidas remanescentes sobre a saúde financeira da Europa somou-se à preocupação sobre a possibilidade de a China aumentar juros para conter a inflação – componentes suficientes para puxar os mercados para baixo.

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Depois dos ganhos extraordinários de segunda, as bolsas passaram por ajustes, com os investidores deixando a euforia de lado para mensurar os efeitos práticos do socorro. Há dúvidas sobre a capacidade de os países implementarem as medidas de austeridade necessárias para terem acesso aos recursos. Essa releitura fez com que quase todas as bolsas de valores europeias fechassem em queda.

– As pessoas sentiram-se confortáveis com o pacote, mas há receio de disseminação das preocupações com as dívidas soberanas de Portugal e Espanha – explicou Bill Quinn, presidente da American Beacon Advisors.

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Conforme Charlie Smith, executivo-chefe de investimentos do Fort Pitt Capital Group, existe algum ceticismo sobre se os bancos, em especial franceses e alemães, que detêm a dívida grega, vão conseguir levantar mais capital.

– O mesmo ocorreu quando o plano de resgate do sistema financeiro foi aprovado nos Estados Unidos em 2008 – lembrou Scott Marcouiller, da Wells Fargo Advisors.

No Brasil, apesar da alta do dólar na segunda-feira, o Banco Central comprou ontem moeda para elevar as reservas internacionais do país, que atingiram o recorde de US$ 250 bilhões. Esses recursos servem como seguro para serem utilizados em um eventual agravamento da crise europeia.

Rodada de perdas
Desempenho das principais bolsas mundiais ontem:
Madri -3,32%
Atenas -2,47%
Lisboa -2,20%
Xangai -1,90%
São Paulo -1,57%
Paris -0,73%
Nova York (Nyse) -0,34%
Frankfurt +0,33%
Fontes: Yahoo Finance e bolsas de São Paulo, Atenas e Madri

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Marçal Alves Leite

O que aconteceu ontem nas bolsas é a chamada realização de lucro, ou seja, a consolidação do ganho obtido no pregão anterior. Isso sempre ocorre quando o investidor decide vender uma ação para embolsar logo a diferença antes que a cotação volte a cair e essa margem fique menor.

Como muitos aplicadores adotam a mesma estratégia, as ordens de venda superam as compras, derrubando o índice da bolsa.

Por vezes, como na segunda-feira, grande parte das ações registra valorização tão expressiva num só dia que seriam necessárias semanas ou meses para se obter desempenho similar. Ontem, sem vacilar, o investidor resolveu desfazer-se do papel, assegurando já o lucro obtido na transação – ou seja, realizou lucro.