Parte da área onde está sendo construído um hotel às margens da Via Expressa, em Blumenau, foi interditada preventivamente na tarde de terça-feira (24). O isolamento ocorreu após o deslocamento de um bloco de concreto sobre a encosta do morro por conta da intensa chuva dos últimos dias. A obra é no mesmo local onde três trabalhadores morreram em março, vítimas de deslizamento de terra.

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A reportagem do Santa foi ao local na manhã de terça, após denúncia de um funcionário que alegava insegurança na obra por ter sido obrigado a trabalhar embaixo do talude onde ocorreu o deslocamento do bloco de concreto. De acordo com o trabalhador, que não quis se identificar, havia temor entre os empregados que ocorresse outro deslizamento de terra enquanto estavam próximos da encosta.

— Estamos tendo de trabalhar de forma arriscada. Tem risco de as pedras caírem ou de outra tragédia acontecer com um deslizamento. O lar de famílias pode ser destruído por um descuido. A gente quer trabalhar, mas não podemos colocar a nossa vida em risco — desabafou.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (Siticom) de Blumenau esteve no local à tarde para verificar a denúncia. Os funcionários foram orientados a não permanecerem próximos daquele ponto da encosta, sendo que o engenheiro da obra concordou em isolar o local para evitar que os trabalhadores fossem atingidos pela queda de algum material.

O fiscal do Siticom Ivaldo José Bartocz esteve na obra fazendo levantamento da situação para evitar que os funcionários fiquem expostos a algum risco. Ele afirma que finalizou um relatório sobre a condição do local e que notificou a Defesa Civil, que é o órgão responsável por emitir o laudo sobre a condição de trabalho da obra.

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— Há risco de uma nova tragédia se houver um deslizamento na parte de cima (da encosta). Mas isso cabe à Defesa Civil fazer o seu trabalho. A nossa parte é proteger o trabalhador, então orientamos para que não fiquem embaixo daquele local — alega.

Pequeno deslizamento ocorreu em cima de uma contenção.
Pequeno deslizamento ocorreu em cima de uma contenção. (Foto: Patrick Rodrigues)

Pedido para interdição

O advogado do Siticom, César Narciso Deschamps, afirma que irá encaminhar nesta quarta-feira solicitação de interdição da obra ao Ministério Público do Trabalho e ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest).

— Está visível que não há questões de segurança. Há possibilidade de irmos lá e orientarmos que (os funcionários) não trabalharem enquanto não houver nova fiscalização do Cerest.

A Secretaria Municipal de Promoção da Saúde, órgão ao qual a Cerest é vinculada, afirmou por nota que recebeu a denúncia e acompanha o caso. A previsão é que técnicos da fiscalização retornem quarta-feira para verificar a situação de trabalho.

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Por nota, o departamento de Geologia afirmou que visitará o local nesta quarta.

O que diz a empresa

A Beluga Estruturadora de Negócios, responsável pela obra, admite que houve deslocamento da placa de concreto projetado, colocada para impermeabilizar a área, após a chuva dos últimos dias. E que o encarregado tinha no planejamento isolar a área, após conversa com todos os trabalhadores no domingo, para que ninguém trabalhasse naquele local.

Também admite que tinha a informação de que um funcionário alegava que o encarregado exigia que os empregados trabalhassem na área de risco. Todavia, afirma que os funcionários são contratados por empresa terceirizada e que não foi autorizado que trabalhassem em área de risco, assim como em nenhum momento deixaram de ser assistidos por um responsável técnico.

Após o deslocamento da placa, a empresa iniciou laudo e projeto para ter novamente a segurança necessária naquele ponto específico, que fica sobre o centro da encosta. Não há informação ainda se haverá novo bloco de concreto projetado ou outra estabilização. Ainda não há prazo para a conclusão desse projeto. Também reafirma que não há risco aos trabalhadores e que o restante da encosta está estabilizado, com acompanhamento de geólogo. Por fim, ressalta que o projeto foi aprovado pela Defesa Civil e que tomará outra medida de segurança.