Das histórias de mulheres envolvidas na produção dos elogiados vinhos de altitude catarinenses, a mais emblemática talvez seja a de Carolina Rojas Ferraz. E não só porque ela é a mais jovem dessas mulheres, mas também pela dedicação e sacrifício que faz em nome da paixão herdada do pai, o médico Leônidas Ferraz. Globetrotter inquieta, com passagens pelo Paraguai, país da mãe Alida, México e Londres, a vida de Carolina, 31 anos, mudou um bocado desde que a catarinense atendeu aos apelos do pai e fincou o pé no interior de São Joaquim, em Monte Agudo, localidade que batiza o vinhedo que ela assumiu logo depois de se tornar sommelière.
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– Estava morando fora quando meu pai me ligou e disse que já tínhamos o vinho feito e ninguém estava vendendo. Na hora decidi voltar e viver em São Joaquim. Todo mundo me chamava de louca por morar sozinha no meio do nada. Mas eu encarnei em mim o seguinte: ¿isso é dos meus pais e um dia vai ser meu. Então vou fazer e vou fazer com gosto¿. Eu acordava 7h e dormia à meia-noite. Não tinha tempo nem para pensar. E olha que quando cheguei, em 2011, meu pai deu férias para todos os funcionários e eu fiquei completamente sozinha – relembra a jovem madura, visivelmente fortalecida pela experiência e pelo forte sentido de união da família Ferraz.
Aos poucos, Carolina foi desenvolvendo outra de suas qualidades: a de bem receber. Ao lado da irmã, Patrícia, que mora em Florianópolis e cuida da distribuição dos cinco rótulos produzidos com as uvas da Monte Agudo, ela tornou o local um destino turístico, hoje um dos mais procurados na rota dos vinhos na Serra.
– Queríamos algo diferente, relacionado à gastronomia e que permitisse que as pessoas ficassem mais tempo nos vinhedos e conhecessem a gente. Aqui é uma espécie de slow food – conta Carolina sobre os longos almoços, jantares e sunsets regados à espumantes , vinhos e delícias preparadas pela tia, a chef Kathia Rojas.
Quando peço que ela destaque os diferenciais do vinho em comparação à produção dos vizinhos, Carol sai com uma frase que defini muito bem a mentalidade em cartaz por ali:
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– Não gosto de falar, pois as outras vinícolas não são concorrentes, somos todos parceiros. Cada vinho é diferente e isso é outro atrativo para o turista, que não cansa. Temos uma grande diversidade e aqui, a menos de um quilômetro de distância, é possível visitar três propriedades – explica, referindo-se à Villa Francioni e a nova Leoni Di Venezia.
Entre os sonhos de Carol para o local, está uma hospedagem, que logo deve ser implementada e, mais tarde, ampliada. Mas tudo bem planejado.
– Meu pai é pediatra, trabalha em Videira e tem feito plantões aos finais de semana em Caçador. Ele não pode acompanhar tão de perto os vinhedos que ama porque precisa manter esse sonho – conta, na única passagem melancólica, porém passageira, da entrevista.
Hoje, o espanto de outrora deu lugar ao reconhecimento dos amigos pelo trabalho de Carol, perfeitamente adaptada ao estilo de vida do local.
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– As minhas amigas falam que eu não poderia estar em um emprego que me defina melhor. Elas sabem que eu gosto muito de lidar com gente e de apreciar e trabalhar com vinho. É apaixonante – finaliza.