A contemporaneidade da digitalização de plataformas tradicionais de transmissão de conhecimento, como o livro, ajuda a alimentar más previsões de que estas publicações têm pouco tempo de vida futura. Para alguns, dispositivos eletrônicos como os tablets, smartphones e leitores digitais podem ocupar o espaço do papel na preferência dos leitores. Para o escritor holandês Harrie Lemmens, esse cenário não assusta – e não é o maior problema que a literatura enfrenta.
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Um dos oito convidados a participar do Festival Literário Internacional Catarinense (FLIC), que acontece até domingo (16) na Cidade Criativa Pedra Branca, em Palhoça, Harrie conhece o nosso país de duas formas: a primeira, desde há muito tempo, virtualmente, por meio das traduções que fez para o seu idioma nativo de grandes nomes da literatura nacional: Clarice Lispector, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Veríssimo e Michel Laub. A segunda, baseada na experiência adquirida durante três viagens feitas a partir 2007 por algumas cidades brasileiras ao lado da mulher, a fotógrafa portuguesa Ana Carvalho. O último destino foi Recife, onde os antepassados dele chegaram em 1630 e legaram-nos a capital que conhecemos até hoje.
Esse conhecimento empírico do maior país da América Latina permitiu-lhe identificar uma característica do nosso povo: apesar de sermos mais de 210 milhões de brasileiros, lemos muito menos que os 16 milhões de holandeses – que ainda por cima vivem em um país menor do que o estado de São Paulo. “Uma edição aqui não tem muito mais saída do que tem na Holanda. É triste… Eu acho que os brasileiros deveriam ler mais”, pondera. Para o autor e tradutor, é fundamental que as crianças sejam incentivadas a fortalecerem o vínculo com a literatura e as leituras de forma geral desde cedo, porque há outras atividades que disputam a atenção do público.
“Por que devo me ater à leitura se há tantas outras baboseiras que parecem mais interessantes? Entendo esse comportamento, mas é preciso mudá-lo”, diz apontando para a sua última obra, Deus é brasileiro.
O livro foi lançado no final de 2014 e traz pontos de vista dele e da esposa, por meio de palavras e imagens, e ajuda a desconstruir os estereótipos de que o Brasil é só carnaval, clima tropical e mulheres para os leitores de outras partes do mundo. A discussão do texto é uma das atividades do FLIC.
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O evento termina no próximo domingo e todas as atividades, que acontecem na praça do Passeio Pedra Branca, em Palhoça, são gratuitas.