Teco Padaratz foi um dos primeiros surfistas brasileiros encarar as etapas do WCT com apoio de patrocinadores. Antes, o catarinense criado nas ondas de Balneário Camboriú foi bicampeão mundial do WQS, divisão de acesso ao campeonato mundial. Na elite do surfe conquistou duas etapas: 1991 na Barra da Tijuca e 1994 Hossegor, França.

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O Diário Catarinense bateu um papo com Teco Padaratz sobre o surfe praticado pelos na década de 1980 e como essa geração ajudou a crescer os surfistas brasileiros que hoje são favoritos na etapa de Trestles, na Califórnia, pelo WCT.

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DC – Muita expectativa para acompanhar essas últimas etapas do WCT?

Teco – Estou ansioso. Sinto que, ver o Medina ganhar esse título mundial, e tomara que ele consiga esse feito, irá fazer valer ainda mais aquele trabalho que fizemos há 30 anos. A gente abriu algumas portas, quebramos alguns tabus. Criamos um caminho. Todos passaram a aceitar o Brasil como um país de surfistas de alto nível. Realmente acredito muito nesse título do Gabriel Medina e torço demais.

DC – Como foi esse início do surfe brasileiro no mundo?

Teco – Quando eu e o Fabinho Gouvea entramos no Circuito Mundial fomos aprendendo a nos comportarmos em um padrão de atleta. Havia muita preocupação em se adequar e aprender a competir antes de realmente surfar. Hoje há uma estrutura muito maior. As associações já buscam pelo surfista, os patrocinadores já apoiam desde cedo quem é de ponta. As marcas são marcas grandes, internacionais. De certa forma, as portas que abrimos na década de 1980, são mais relacionadas a esse lado do que propriamente dentro da água.

DC – O que mais ajudou na formação dessa geração de surfistas?

Teco – Muitas coisas, desde a tecnologia do esporte. Mas hoje o acesso à informação é muito maior. Eles têm câmeras na própria prancha, assistem suas própria ondas. Observam, estudam, corrigem. Há também mais campeonatos, há mais competividade porque tem mais gente surfando bem. Isso tudo ajuda a crescer. Por exemplo a construção de associações locais gerou pequenas competições amadoras. Isso traz surfistas de diferentes locais e fomenta o surfe. Mas ainda há uma barreira entre a categoria amadora e a profissional, como uma lacuna onde o atleta precisa dar um salto. Mas hoje, quando há talento, isso se resolve cedo. Eu comecei com 17 anos a carreira profissional, e agora essa idade seria tarde demais para iniciar.

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DC – Então hoje o surfista brasileiro chega pronto para competir em alto nível?

Teco – A maior evolução técnica do surfe brasileiro foi na qualidade da competividade. O surfista está mais calmo e tem mais foco, portanto compete muito melhor. E, sobretudo, a capacidade de surfar ondas grandes e fortes. Pesadas como Pipeline, Sunset, Teahupoo entre outras. Essas ondas o brasileiro tinha pouca experiência. Essa geração que está no tour, surfa essas ondas desde criança e está no mesmo patamar dos gringos. Claro que tivemos bons exemplos, mas eram esporádicos.

DC – Estamos prestes a ver nascer um ídolo nacional, dessa vez no surfe?

Teco – O que é preciso vir primeiro. Um esporte se consolidar para formar um ídolo ou um surgir um ídolo para consolidar um esporte ao gosto do brasileiro? São as duas coisas. Mas é claro que o embrião disso tudo é o surfista. Nunca uma marca será maior que um atleta, isso no quesito moral, é claro. Mas o ídolo ajuda muito na imprensa. Quantas vezes negociamos coberturas com a grande mídia e a resposta que tínhamos era que só aconteceria quando alguém estivesse competindo para ser campeão. E isso acontece hoje. O próprio Kely já falou que o Medina irá ditar o ritmo do surfe. Esse ano ele está praticamente entregando o bastão. O Kely vai correr atrás e quer ser campeão, é claro. Mas até o Kely gostaria de ver um novo ídolo. A imprensa também quer. É importante ter um novo ídolo, unânime no esporte.