Permita-se recordar o mês de novembro de 2008, há dez anos, quando Santa Catarina enfrentou a pior catástrofe natural de sua história: as enchentes cujo os dados ainda impressionam, com dois milhões de catarinenses atingidos e mais de 130 mortos. Símbolo da tragédia, Blumenau, no Vale do Itajaí, contabilizou sozinha 24 mortes, 2,1 mil casas destruídas e 25 mil desabrigados. Esses números permanecem inquietos para quem presenciou o fenômeno e ainda mantém a lembrança intacta a cada chuva forte que cai sobre as ruas da cidade. Registros que a depender da solidariedade dos blumenauenses e o uso correto da tecnologia, tendem a ficar para trás.

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É de lá que vem um dos sinais positivos de como a tecnologia pode ser usada para melhorar a vida das pessoas. Tendo como ponto de partida o combate das enchentes decorrentes do transbordo do Rio Itajaí-Açú, alunos e professores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em parceria com a Defesa Civil de Blumenau iniciaram em março deste ano a criação de estratégias que reduzam os alagamentos e os impactos das cheias.

O trabalho se dá em otimizar e qualificar os serviços dos diques instalados nos ribeirões para conter a água da chuva, mas que devido o acúmulo de lixo e entulhos nas grades de contenção reduzem a eficiência do equipamento e aumentam os riscos para quem mora nas áreas ribeirinhas. É nisso que se debruçam alunos como Anderson Thom, 38 anos, e Douglas Gabriel Pedro, 22, que a partir das novas tecnologias desenvolvem sistemas inteligentes para recolher a sujeira acumulada nas grades. Isso com o auxílio direto de recursos automatizados.

— Vivenciei algumas vezes essa questão das enxurradas e já fiquei impossibilitado muitas vezes de voltar para casa. Então esse trabalho mostra que além de sermos engenheiros mecânicos no futuro, temos que pensar em prol da sociedade para que esse problema não aconteça mais vezes — diz Douglas, hoje estudante de engenheira.

A percepção do aluno é confirmada pelo fiscal de obras da Defesa Civil, Roberto Bueno, que destaca o impacto social que as medidas aplicadas em sala de aula têm para o município.

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— Temos cinco diques (quatro em funcionamento), mas o acúmulo de entulho neles provoca a ineficiência do sistema de contenção e impede que a bomba trabalhe como deveria, não conseguindo fazer a remoção de água do ribeirão até o Itajaí-Açú (o que provoca o alague). Então essas ações propostas visam uma solução específica para a nossa realidade e é de extrema importância no combate aos impactos da chuva — completa.

De acordo com a professora do Senai Michele Nunes, além deste projeto envolvendo os diques de Blumenau, o Senai deve trabalhar outras temáticas em conjunto com a defesa civil relacionadas ao problema das chuvas. Um das propostas em voga é o de utilização de um veículo aéreo não tripulado capaz de monitorar o nível dos ribeirões e de ocupação de áreas irregulares e de risco. A prática possibilita ainda o monitoramento das encostas, uma vez que os deslizamentos de terra são ainda mais imprevisíveis.