O mestre da embarcação Dalmo Ladewy lembra que a tecnologia do Pesca Chile auxiliou muito no resgate dos sobreviventes. Inicialmente, o grupo acreditava que só começariam a procurar por eles cerca de oito dias após o naufrágio, quando extrapolasse o prazo de comunicação.

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Mas um dispositivo instalado no barco fez com que a empresa soubesse do naufrágio logo após o acidente, conforme explica o pescador. O mecanismo fez a embarcação emitir um sinal de radar, após atingir uma determinada profundidade.

Além disso, os dois botes com capacidade para 10 tripulantes cada também dispunham de tecnologia avançada. Ao entrar em contato com a água salgada, foi acionado um dispositivo que cortou as amarras dos botes e fez com que eles flutuassem. O grupo achou por bem ocupar apenas um dos botes porque o outro estava em meio aos destroços e a ida até ele poderia danificar o bote ocupado.

Depois que a aeronave Hércules C 130 avistou os pescadores, um barco da Marinha fez o resgate. Eles foram localizados a Leste de Florianópolis e trazidos para Itajaí há exatos 10 anos.

“Não há treinamento para isso”

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O momento em que a onda invadiu o barco até os pescadores localizarem o bote foi de muita euforia. Dalmo Ladewy conta que apenas gritou para que todos se jogassem na água, pois não haveria mais o que fazer. Depois disso, dois botes boiaram e o grupo se deslocou até um deles.

– Os treinamentos são para pós-acidente, a reação não tem como planejar para fazer isso ou aquilo – diz.

Somente quando todos alcançaram o bote, foi que o mestre contou os sobreviventes e viu que dois companheiros não chegaram no barco . O chileno John Riquelme, 31 anos, e Jaziel Alves da Silva, 60, do Guarujá (SP), nunca foram localizados.

Exaustos, depois de nadar muito para chegar até o bote, e consternados com as perdas, os pescadores permaneceram calados. Segundo Ladewy, ninguém mencionou as circunstâncias do acidente ou questionou as orientações do mestre.

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Com os passar dos dias, as conversas dentro do bote eram inevitáveis. Mas discorriam principalmente sobre as famílias e alguns se arriscavam a fazer brincadeira com a comida disponível.

– Tivemos que racionar, tínhamos 100 ml de água por dia para cada um e a ração de abandono. Tinha um que era viciado em Coca-Cola aí ele pedia “me dá aí uma Coca-Cola gelada”, outro que gostava de pizza dizia “me dá uma fatia” – lembra.