Não será apenas pela história, por chegar pela primeira vez às quartas de final de uma Copa do Mundo, que a Argélia buscará a vitória sobre a Alemanha, nessa segunda-feira, às 17h, no Beira-Rio. Também há um sentimento de vingança para os africanos.
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Na Copa da Espanha, em 1982, os argelinos derrotaram os alemães na fase de grupos, mas não chegaram às oitavas porque a Alemanha bateu a Áustria por 1 a 0. Com o resultado, os africanos foram eliminados no saldo de gols. Alemanha e Áustria se classificaram na partida que ficou conhecida como o “Jogo da Vergonha”. E os argelinos não esquecem jamais.
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– Eu estava lá em 1982. Fazia parte da comissão técnica (aos 30 anos, era um dos auxiliares). E as lembranças não são boas. Eu estava lá, como estou aqui agora. Em 82, todos disseram que a Argélia foi eliminada por causa da péssima qualidade de Alemanha x Áustria – disse o técnico bósnio da Argélia, Vahid Halilhodzic. – Não esqueci 82 e os meus jogadores farão o possível para terem a sua revanche – completou o treinador de 62 anos.
Apesar da diferença de histórico e conquistas entre as duas seleções, a Argélia jamais perdeu para a Alemanha. É bem verdade que foram apenas dois jogos. Mas os Guerreiros do Deserto somam uma vitória e um empate.
– Os alemães são impressionantes, têm finalizações rápidas e um ritmo veloz de jogo, mas têm altos e baixos, é verdade, e alguns tiraram vantagem disto. Venho tentando tirar dos meus jogadores esta mentalidade de inferioridade e de que somos zebras. Precisamos nos preparar para o jogo mais importante da nossa campanha. Se perdermos, sairemos de cabeça erguida – afirmou o bósnio.
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E as conversas motivacionais de Halilhodzic já parecem ter atingido o alvo. Questionado sobre enfrentar os goleadores Müller ou Klose, o zagueiro Rafik Halliche, atleta da Acadêmica de Coimbra (que respondeu em árabe, francês e em português) disparou, confiante:
– Não faz diferença: nenhum deles fará gol amanhã.
O treinador da Argélia é uma espécie de Dunga, tamanha a veemência de suas palavras. É certo que fará da partida contra a Alemanha o maior jogo de sua vida.
– Falei a meus jogadores que teremos que ser excepcionais para seguir adiante. A Alemanha estará hipermotivada e é uma das favoritas à Copa. Mas nós queremos ir para o Rio, ao menos visitar Copacabana – declarou Halilhodzic, em referência às quartas de final, contra França ou Nigéria, no Maracanã.
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Pela segunda vez em Porto Alegre, a primeira foi na goleada por 4 a 2 da Argélia sobre a Coreia, Halilhodzic disse que gostaria de contar com o apoio dos brasileiros.
– Fomos muito bem na primeira vez aqui. Agora, enfrentaremos um gigante e que joga um bom futebol, como os brasileiros gostam. Mesmo assim, espero que as arquibancadas simpatizem conosco. Precisaremos de todo o auxílio possível – comentou o técnico.
Dessa vez, haverá maior rigor na revista aos torcedores argelinos. Na partida de Curitiba, quando a Argélia obteve a vaga às oitavas ao empatar com a Rússia em 1 a 1, os africanos entraram na Arena da baixada portando sinalizadores náuticos – o goleiro russo também teve um laser verde apontado para o seu rosto em alguns lances da partida. Na goleada sobre a Coreia, no Beira-Rio, os torcedores da Argélia fizeram uma grande festa nas arquibancadas, mas deram trabalho aos stewards, que tentavam contê-los, sem sucesso.
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O Ramadã
Tudo transcorria bem na coletiva de Vahid Halilhodzic até que um repórter perguntou, em inglês, sobre o Ramadã, o período atual e no qual os muçulmanos não devem se alimentar enquanto houver luz solar. Segundo a imprensa argelina, os jogadores da seleção teriam sido liberados do dogma para a decisão contra a Alemanha. Um líder espiritual estaria acompanhando a delegação, a fim de liberar os atletas do jejum, sem culpa. Dizendo-se também muçulmano, o bósnio fechou o cenho e, em tom grave, anunciou:
– É uma total falta de ética e de respeito da sua parte. Isto é algo privado e pessoal. As pessoas que seguem nos criticando não têm respeito algum. Estão estigmatizando o Ramadã. Por favor, parem de me perguntar sobre isto, caso contrário, vou me levantar e ir embora.
Em seguida, um pouco mais calmo, Halilhodzic foi questionado sobre o clima de inverno na cidade e se isto poderia ajudar a Alemanha, que não sofreria como ingleses e espanhóis, que jogaram sob forte calor no Norte e no Nordeste.
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– A Inglaterra sofreu com o calor, sim, mas, para mim, a sua eliminação não foi surpresa. Acho que eles estavam um pouco cansados, antes mesmo da Copa. Além disto, alguns jogadores consagrados não estavam realmente dispostos a ganhar, não se esforçaram o suficiente. E também faltou ambição para a Espanha, que já ganhou tudo e não tinha aquela garra toda. Se a temperatura vai ajudar? Não sei. Mas estaremos prontos para a Alemanha – definiu.
Mesmo sem treinar no Beira-Rio, uma vez que a Fifa deseja preservar o gramado para a hora do jogo – o que foi permitido apenas para a Alemanha, que ainda não conhecia o estádio -, Halilhodzic realizou um minicoletivo na Arena. A Argélia deverá ter a seguinte escalação para buscar um lugar na história no Beira-Rio: M’Bolhi; Mandi, Belkalem, Halliche e Mesbah; Medjani, Bentaleb, Brahimi, Feghouli e Djabou; Slimani.
Veja fotos do treino na Arena:
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ZH Esportes