Os últimos meses em Santa Catarina foram marcados por chuvas intensas e um calor acima da média em todo o Estado. Mas esses eventos climáticos não afetam a produtividade das propriedades que utilizam a técnica do Sistema de Plantio Direto em Hortaliças (SPDH), que permite que as plantas cresçam mesmo em épocas de climas extremos, além de reduzir significativamente o uso de agrotóxicos.

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O método se baseia em princípios de proteção do solo para manter sua produtividade. O principal deles é manter a terra sempre coberta com restos de plantas, que formam uma biomassa chamada de palhada. Além disso, são mantidos na área de plantio os restos vegetais de culturas anteriores. Para cada hectare de horta, são utilizadas pelo menos 10 toneladas de palhada por ano, e nesta área, o agricultor deve fazer rotação de culturas.

— Com a rotação de várias espécies, há redução nos problemas fitossanitários, aumento na biodiversidade e na ciclagem de nutrientes, mantendo e melhorando a fertilidade do solo de forma integrada — diz Marcelo Zanella, coordenador regional do projeto de horticultura na Epagri.

Com relação à chuva, o método SPDH reduz o risco da terra ser arrastada pela erosão, além de fazer com que a água seja absorvida aos poucos pelo solo. As plantas de cobertura também servem de alimento para macro e microrganismos, aumentam a concentração de matéria orgânica, reduzem o surgimento de plantas espontâneas e mantêm a umidade e a temperatura mais estáveis. O coordenador do programa de olericultura na Epagri, Darlan Marchesi afirma:

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— Os efeitos das altas temperaturas não afetam os cultivos exatamente porque o solo está coberto. O SPDH reduz em mais de 10 graus Celsius a temperatura do solo e melhora o ambiente.

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Redução de custos na produção com o método SPDH

Como a técnica de proteção do solo reduz o uso de adubos e agrotóxicos, a Epagri/Ciram afirma que o agricultor gasta, em média, 50% menos para produzir hortaliças em SPDH. A melhoria na qualidade e na uniformidade das plantas permite reduzir em 35% as perdas na colheita. Além disso, as taxas de infiltração de água no solo chegam a ser três vezes maiores que no sistema de plantio convencional, o que significa uma redução de 80% no uso de água para irrigação.

Além de produzir alimentos mais seguros, a redução dos insumos agrícolas significa maior economia para o agricultor. De acordo com o Balanço Social da Epagri, em 2018 o método SPDH beneficiou os produtores catarinenses com R$ 25 milhões em aumento de produtividade e R$ 15 milhões em redução de custos em comparação com o cultivo convencional.

Método desenvolvido em Santa Catarina

As pesquisas da Epagri a respeito do método SPDH iniciaram em 1998 e, hoje, o sistema é utilizado em cerca de 3 mil hectares de 1,2 mil propriedades rurais catarinenses, o que representa em torno de 10% da área plantada com hortaliças no Estado. Em 2018, a Epagri orientou a implantação de 142 hectares de novas lavouras em SPDH.

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Os estudos foram inspirados no modelo de cultivo chamado de Sistema de Plantio Direto, implementado no Rio Grande do Sul. A Epagri se baseou nesse método para criar técnicas específicas para o cultivo de hortaliças no solo de Santa Catarina.

O grande trunfo do SPDH é a habilidade de cuidar da saúde das plantas através de métodos que visam o conforto das plantas. Essa abordagem se concentra em mitigar o estresse causado pelas condições do meio, como temperatura, umidade, salinidade e pH do solo, além de controlar a luminosidade e prevenir infestações de pragas e doenças. Ao fortalecer a resistência das plantas, pode-se reduzir o uso de insumos para seu desenvolvimento, tornando o processo mais eficiente e sustentável.

O método SPDH representa uma transição da agricultura tradicional para a agroecologia. A meta da Epagri é que toda a olericultura catarinense seja conduzida nesse sistema até 2030.

Agricultores de SC comprovaram a eficiência do método SPDH

Apesar das condições climáticas adversas, como o calor acima da média e o excesso de chuvas em Santa Catarina, os irmãos Alexandre Luiz e Almir Francisco Hoffmann mantiveram a produção de hortaliças em sua propriedade de 15 hectares, em Angelina, na Grande Florianópolis.

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Os irmãos produzem couve-flor, moranga e chuchu em uma região com relevo acidentado e declividade, que geralmente seria mais difícil de plantar. Por muitos anos a propriedade, sofreu com perdas nas lavouras provocadas por chuvas intensas, além do ataque de pragas e doenças por conta das condições climáticas. Os produtores procuraram a Epagri para encontrar soluções para suas terras.

— Começamos a implantação do SPDH em pequenas áreas e fomos aumentando com o tempo. As lavouras antigas tinham o solo muito compactado, muito diferente de hoje — diz Alexandre.

Assim, com o uso dos equipamentos e das técnicas corretas, a propriedade é referência no assunto não apenas no município, mas no mundo todo. Nesse período, o local já foi visitado por mais de mil pessoas dos estados do Sul e Sudeste, bem como de países da América, Ásia, África e Europa. Em 2024 os agricultores completam 14 anos no método SPDH.

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*Sob supervisão de Andréa da Luz

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