Uma técnica de enfermagem recém-formada morreu no começo desta semana em Ibirama, no Alto Vale do Itajaí. O marido de Márcia Vie-Tcha Teie, indígena da Terra Xokleng, diz que houve erro médico no Hospital Dr. Waldomiro Colautti. De acordo com Acir Priprá, a esposa faleceu em decorrência de problemas ocasionados pelo esquecimento de uma gaze dentro dela durante uma cirurgia. A direção da unidade disse que não pode se manifestar sobre o caso.
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Casada e mãe de três filhos, Márcia precisou operar a vesícula dias após receber o diploma, em dezembro do ano passado. Durante o procedimento, a equipe descobriu uma lesão no fígado e parte do órgão precisou ser retirada. Cerca de duas semanas depois, já em casa, a mulher de 34 anos começou a relatar muita dor na barriga e voltou a procurar atendimento hospitalar. Segundo o marido, os profissionais diziam ser inchaço e íngua por causa da cirurgia e prescreviam analgésico.
Priprá conta que houve uma solicitação de exames de ultrassonografia e endoscopia. O casal decidiu pagar particular para não esperar no SUS. Quando o resultado saiu, em março, o documento apontou um “corpo estranho” provocando uma obstrução gástrica. Márcia voltou a ser internada para retirada do que o marido acredita ser uma gaze. A permanência do material dentro dela provocou uma série de problemas, inclusive um quadro de infecção generalizada, relata o marido.
A partir dali, ela foi para a UTI, perdeu partes do estômago e do intestino. O quadro avançou ainda com uma pneumonia e surgiu um edema cerebral, segundo Priprá.
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— Se não fizéssemos esses exames no particular, a minha esposa ia falecer em casa. Eu não ia saber do que, pois já fazia três meses e sete dias da cirurgia quando descobrimos. Aí fica minha indignação. Gastamos dinheiro que a gente não tinha para tentar salvar ela. Queremos justiça. Não vai trazer minha esposa de volta, mas eu quero pelo menos a dignidade da criação de meus filhos — desabafa.

No último domingo (14), a técnica de enfermagem que sonhava em cursar uma faculdade morreu, deixando os filhos de 6, 9 e 12 anos. A menor, ainda sem entender a partida prematura de quem lhe deu a vida, pergunta diariamente pela mãe, revela Priprá. Emocionado o professor recorda dos planos do casal para uma vida melhor na Aldeia Bugio.
— Isso destruiu a minha família, a vida que planejamos. Eu estudei e pude ajudar minha esposa a se formar. Agora ela também queria ir para a faculdade. Planejávamos mais um filho. Um sonho foi destruído e eu espero uma resposta — desabafa.
Golpista se passa por médico para tirar dinheiro da família de paciente hospitalizado em Ibirama
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Priprá vai entrar com um processo contra o Hospital Dr. Waldomiro Colautti. O Ministério Público Federal também foi informado do caso e afirmou que irá instaurar um procedimento chamado Notícia de Fato — que consiste em solicitar informações dos órgãos envolvidos e, de posse desses documentos, decide as medidas a serem adotadas. Questionada pela reportagem se existe alguma investigação interna, a direção da unidade informou que não pode se manifestar sobre o caso.
Leia nota na íntegra do hospital
O Hospital Doutor Waldomiro Colautti vêm a público externar que lamenta profundamente e se solidariza com a perda da família. Informamos da impossibilidade de nos manifestar sobre os casos atendidos na unidade, em conformidade com o Código de Ética Médica e Lei de Proteção de Dados, no que diz respeito às informações de pacientes em prontuários de atendimento, as quais ficam protegidas pelo sigilo médico, salvo por determinação judicial. Nos colocamos a disposição da família para maiores esclarecimentos.