Um dos contratos investigados na operação Torre de Marfim,da Polícia Federal, é referente à compra de um programa de computador para a área de saúde realizado entre Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e a empresa de consultoria Tríplice, que tem como proprietário o professor aposentado da UFSC, José Carlos Zanini. A compra foi considerada irregular pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que abriu uma tomada de contas especial que prevê a devolução de R$ 23 milhões aos cofres públicos. Zanini seria uma das seis pessoas conduzidas coercitivamente na operação da PF deflagrada na manhã desta quinta-feira.
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Os ministros do TCU decidiram no processo que o contrato 567/2012, da Fapeu com a Tríplice Consultoria e Serviços Ltda, com verba do Ministério da Saúde, foi de forma “diretor e irregular”. O acórdão publicado ainda afirma que o contrato foi para “aquisição do produto denominado de Estrutura de Suporte em TI – Framework – Série T10, em valor não razoável e sem demonstração da vantajosidade de sua contratação frente aos demais produtos oferecidos no mercado”.
Em 2015, o processo foi transformado em tomada de contas especial, tipo de procedimento que prevê a devolução de valores dos investigados. A tomada de contas ainda tramita no TCU e tem o professor aposentado José Carlos Zanini como um dos réus. Zanini também foi presidente da Fapeu entre 1986 e 1991.
Em coletiva realizada na manhã desta quinta-feira na sede da PF, sobre a operação Torre de Marfim,autoridades não citaram os nomes das seis pessoas conduzidas coercitivamente ou de empresas onde houve busca e apreensão de documentos. No entanto, o secretário de Controle Externo do TCU em Florianópolis, Waldemir Paschotto, citou que um dos contratos investigados na operação englobaria um que está sob análise de tomada de contas no tribunal e que “prevê a devolução de cerca de R$ 20 milhões”.
Documento obtido pela reportagem mostra uma cópia do mandado de busca e apreensão que o Centro Tecnológico da UFSC (CTC) recebeu pela manhã. No documento, a juíza Janaína Cassol Machado, da 1ª Vara Federal, determina que a PF faça buscas no centro de “todos os projetos que foram ou sejam coordenados pelos professores Amir Mattar Valente, Ariovaldo Bolzan, José Carlos Zanini e Clarilton Edzard Davoine Cardoso Ribas”.
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O mandado ainda prevê buscas na universidade de “todos os projetos que tiveram notas fiscais pagas para as empresas Metropolitana Viagens Turismo Ltda, Attitude Viagens e Turisma Ltda, RAF Internacional Cargo e Tríplice Consultoria e Serviços Ltda”.
Na sede da Tríplice Consultoria, localizada em um prédio comercial na avenida Rio Branco, centro de Florianópolis, havia apenas uma senhora, que atendeu à porta e informou que policiais federais fizeram buscas no local das 7h30 até as 12h30. O proprietário José Carlos Zanini não estava no local.
A operação Torre de Marfim, deflagrada pela PF nesta quinta-feira, utilizou cerca de 90 Policiais Federais, servidores do TCU e da CGU para o cumprir 20 mandados judiciais expedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis/SC, sendo 14 mandados de busca e apreensão e 6 mandados de condução coercitiva em Florianópolis e Balneário Camboriú. Em coletiva realizada na manhã de quinta-feira, a PF informou que os contratos investigados somam R$ 500 milhões, mas ainda não souberam precisar quanto deste montante foi desviado ou gasto irregularmente. Não há relação entre a operação Torre de Marfim com a Ouvidos Moucos, deflagrada em setembro deste ano e que investiga desvio de verba no programa de ensino a distância da UFSC.
Outro lado
Por telefone, o empresário Pedro Roberto, proprietário da RAF Internacional Cargo, explicou que não houve busca da PF na sede da empresa e que não possui contrato com a UFSC há quatro anos. Pedro afirma ainda que presta serviços “esporádicos” à Fapeu. Tanto para a fundação como para a UFSC, a RAF prestou serviço de transporte de cargas, como equipamentos de laboratórios comprados em outros países.
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Os proprietários da Metropolitana Turismo não foram encontrados. Por telefone, uma funcionária confirmou que agentes da PF realizaram buscas na sede da empresa, no Estreito, na manhã desta quinta-feira.
A reportagem continua tentando contato com as pessoas e representantes das empresas citadas no mandado de busca e apreensão, além da tomada de contas do TCU. Quando houver resposta de algum citado, adicionaremos nesta matéria ao longo do dia.