A desconfiança de que a ANTT tenha sido omissa com relação à atuação da empresa que administra a BR-101 Norte deve respingar também no ex-diretor-geral da agência Bernardo Figueiredo. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o economista deverá ser intimado para uma audiência porque foi na gestão dele (entre 2008 e 2012) que foram autorizadas as mudanças dos prazos previstos no edital para a execução de obras na rodovia.
Continua depois da publicidade
No tempo em que ocupou o mais alto cargo da agência, Figueiredo esteve uma única vez em Florianópolis. Foi em 10 de julho de 2009, época de início da cobrança do pedágio. Ele participou de audiência pública, na Assembleia Legislativa, que discutiu a localização das praças de pedágio. O evento havia sido promovido pela Comissão dos Transportes e Desenvolvimento Urbano em conjunto com o Fórum Parlamentar Cartarinense.
Embora em entrevista (veja abaixo) Figueiredo tenha atribuído as decisões da ANTT aos pedidos da classe política de Santa Catarina, as notas taquigráficas da audiência – documento que transcreve a fala de cada participante – mostram que a discussão foi toda em torno de possíveis alternativas para que os moradores de Palhoça tivessem passe livre no pedágio.
Dois anos depois, julho de 2011, em outra audiência, é que se discutiu prazos de obras. Foi um debate exclusivo sobre o traçado do contorno viário da Grande Florianópolis e Bernardo Figueiredo, apesar de convidado, não compareceu. No lugar estiveram Mário Mandolfo, então superintendente da ANTT, e Mario Rodrigues Júnior, diretor da agência na época.
Continua depois da publicidade
– Bernardo Figueiredo está equivocado ou não está sendo correto. As lideranças de Santa Catrina sempre cobraram o cumprimento do contrato e o início das obras. Parece que a ANTT está sendo conivente, porque não cumpriu o papel de exigir que o contrato fosse obedecido, mas quer se livrar da culpa – diz o ex-deputado federal Gervásio Silva (PSDB), na época coordenador do Fórum Parlamentar.
Em Brasília, o economista é visto como um dos homens de confiança da presidente Dilma Rousseff. Os dois estreitaram laços ainda na Casa Civil, quando ela era ministra e ele era o assessor especial. Nos bastidores, o ex-diretor da ANTT é descrito como alguém de relações estreitas entre os setores público e privado. Tanto que, no ano passado, quando a presidente recomendou a renovação do seu mandato na agência, foi barrado pelo Senado.
A rejeição de Figueiredo no Senado ocorreu depois de intensa campanha do senador Roberto Requião (PMDB), que divulgou documentos com denúncias contra o economista. O parlamentar lembrou que Figueiredo participou da privatização das ferrovias para logo depois se tornar sócio de empresas nascidas da privatização – entre elas a ALL, da qual é conselheiro.
Continua depois da publicidade
O veto dos senadores não impediu que Figueiredo permanecesse no governo. A presidente Dilma o nomeou presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) – estatal criada no ano passado e que tem como finalidade definir as diretrizes do país, planejando investimentos em infraestrutura.

Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade