De 2000 até este ano, mais da metade dos municípios catarinenses já teve prestações de contas reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC) ao menos uma vez. São 155 cidades, de um total de 295. O dado faz parte de um levantamento feito pela Corte de contas a pedido do Diário Catarinense. Os casos mais graves são os de Calmon, no Planalto Norte, e Barra Velha, no Litoral Norte, que tiveram suas prestações de despesas rejeitadas em nove das últimas 15 oportunidades.
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Para os municípios, ter as contas reprovadas pelo TCE pode significar uma perda considerável de receitas, especialmente para as cidades pequenas. Caso o órgão rejeite o balanço apresentado pelo prefeito e ele não faça os ajustes pedidos, os municípios ficam sem uma certidão necessária para contratar convênios estaduais e federais, que em muitos casos garantem uma verba extra, além de realizar operações de crédito.
Segundo Moisés Hoegenn, diretor de Controle de Municípios do TCE, o julgamento das contas mira elementos básicos, como o cumprimento do percentual mínimo de investimento em saúde e educação, mas também atos específicos. Caso opte-se pela rejeição, para que o gestor político fique inelegível também é necessário uma reprovação por parte da Câmara Municipal. Porém há casos em que o político é absolvido pelo legislativo local, embora a cidade fica sem a certidão para contratar convênios.
– É muito desagradável quando isso ocorre. Por uma falha de gestão, a população acaba sendo penalizada – afirma Hoeggen.
Em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os candidatos com contas rejeitadas pelo TCE poderiam se candidatar, desde que tivessem o aval de dois terços dos vereadores de sua cidade de origem na apreciação dos balanços. A medida foi criticada por entidades, já que daria um caráter político para a questão. A votação no STF terminou por seis votos a cinco e venceu o entendimento de que, também nos TCEs, muitos conselheiros são indicações políticas e que pode haver reprovação por alguma rivalidade anterior, por exemplo.
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De caráter mais técnico, Hoeggen diz que a decisão do STF ainda suscita algumas dúvidas, que só poderão ser tiradas com a publicação do acórdão. Ele explica que há dois modos de os gestores se tornarem inelegíveis: pela reprovação das contas do municípios ou por atos de gestão. No caso dos atos de gestão — ou no ¿varejo¿, como os técnicos dizem —, eles ocorrem especialmente em municípios pequenos, onde o prefeito costuma ser também o ordenador de todas as despesas. Nesse caso, ele assume todos os atos que envolvam o uso de dinheiro público e responde por eles. A dúvida, diz Hoeggen, é quanto ao que caberá ser julgado pelos vereadores.
– Hoje, além de reprovar os atos, o tribunal imputa débito (devolução de dinheiro público) e aplica multa. Não está claro se o julgamento dos vereadores continuará apenas sobre a inelegibilidade ou também sobre os débitos e multas – finaliza.
Calmon na luta para manter recursos
Com menos de 4 mil habitantes, Calmon é uma das cidades mais pobres de Santa Catarina. Diferentes prefeitos tiveram nove das últimas 15 prestações de contas rejeitadas pelo TCE. O atual mandatário, professor Pedro (PP), assumiu em meio a mais uma rejeição das despesas, referente ao ano de 2015. Segundo ele, o município ainda está com as certidões em dia, pois a avaliação das últimas contas está em fase de recursos por parte da última prefeita, porém o político já trabalha com a possibilidade de perder recursos.
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– É uma situação que pega extremamente mal. Cada vez que sentamos para reuniões na associação dos municípios, todos lembram da situação de Calmon, com suas contas rejeitadas – diz.
Segundo ele, a cidade pode deixar de receber R$ 2 milhões neste ano caso seja punida tudo isso em meio a um orçamento mensal que não ultrapassa R$ 1 milhão.
– Estamos pleiteando judicialmente que o município não pode ser penalizado por uma decisão deixada pela administração anterior. Não podemos ficar à mercê e vamos buscar uma solução do ponto de vista legal – acrescenta o prefeito.
Em Barra Velha, a situação é semelhante, porém as últimas contas avaliadas (2015) foram aprovadas. O atual prefeito, Valter Zimmermann (DEM), já havia comandado a cidade entre 2001 e 2008. Neste período, as contas foram rejeitadas em seis oportunidades. A reportagem tentou falar com Zimmermann desde terça-feira, porém não teve retorno dos contatos.
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