Na última queda grave de glicose que teve, Roberto da Costa Rodrigues, 30 anos, desmaiou e foi parar no hospital. Os colegas não sabiam que ele tinha diabete tipo 1, mas a informação constava no registro médico e ele foi socorrido rapidamente. Depois desse episódio, Rodrigues decidiu fazer uma tatuagem de segurança, tendência que tem ganhado espaço entre pessoas com doenças crônicas, alérgicos a medicamentos e com problemas de saúde.

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– Tive uma crise de hipoglicemia. Se eles soubessem, poderiam me dar um copo d’água com açúcar, algo doce, que agilizava. Eu fiz a tatuagem para ter mais segurança na rua. Posso estar em outra cidade, a pessoa vê o que está escrito e pode me ajudar – comenta o funcionário público.

Rodrigues é morador de Laguna, no Sul do Estado, mesma cidade onde vive a personal trainer Bruna Magalhães, 27 anos. Da caixa onde guarda medicamentos em casa, são poucos os que ela pode utilizar com segurança. Alérgica a princípios ativos comuns, como ibuprofeno, dipirona e AAS, ela decidiu marcar no antebraço esquerdo essas informações. Nas idas frequentes ao hospital, acabava sofrendo com a troca de plantões em que eram ministrados remédios contraindicados para ela, e muitas vezes a reação alérgica acabava piorando o quadro.

– Eu quis fazer a tatuagem por segurança. Quando vi a ideia nas redes sociais, pensei na hora: é disso que preciso, e marquei para fazer. Além da questão hospitalar, caso um dia eu sofra um acidente, uma emergência, tenho essas informações bem visíveis — complementa Bruna.

Bruna Magalhães carrega na pele informações sobre medicamentos que causam reação alérgica a ela
Bruna Magalhães carrega na pele informações sobre medicamentos que causam reação alérgica a ela (Foto: Guilherme Hahn/Especial)

Antes de marcar a pele de maneira permanente, o especialista em clínica médica Carlos Roberto Seara Filho, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), faz um alerta. Há casos em que a pessoa tem reação adversa a algum medicamento, e não uma alergia, e somente exames podem comprovar a suspeita. Já as doenças diagnosticadas como diabetes, hipertensão, entre outras, são informações mais seguras para se ter tatuadas.

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– A primeira coisa que se faz no atendimento é retirar as vestes superiores, camisa, blusa. Então, a indicação seria fazer nas regiões frontais, tronco, abdômen e membros superiores, já que o intuito é que seja visível para o atendimento – comenta o médico, que atua há mais de 30 anos com urgência e emergência.

Serviço é feito em troca de alimentos no Sul de SC

Há pelo menos um mês, o tatuador Mael Spitzner, de Laguna, começou a fazer de graça as chamadas tatuagens de segurança. De lá para cá, mais de 20 pessoas já marcaram na pele esses dados, que podem auxiliar socorristas em atendimentos de emergência. A diferença é que ele faz esse serviço de graça e pede como “pagamento” a doação de um alimento não perecível.

A ideia surgiu enquanto Mael assistia um seriado, em que o paciente morreu após reação à anestesia. Ele jogou a ideia nas redes sociais, e a publicação original ultrapassa 55 mil compartilhamentos e 10 mil comentários.

Profissionais de outros Estados e até de fora do país entraram em contato com Mael para conversar e reproduzir a ideia. O tatuador do Sul do Estado espera que o exemplo de solidariedade se repita.

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– É uma ideia simples, que pode salvar vidas. Se eu souber que puder ajudar alguém, mesmo que indiretamente, já valeu – comenta o tatuador catarinense.

Mael Spitzner já tem dezenas de tatuagens agendadas, e a única contrapartida que pede aos clientes é que façam a doação dos alimentos. Com o que arrecadou até o momento, ele conseguiu montar pelo menos oito cestas básicas e distribuir para famílias de um bairro vizinho.