O mais recente filme da diretora Tata Amaral, de Um Céu de Estrelas (1997) e Antonia (2006), será exibido nesta quinta-feira, em Florianópolis, durante a 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América Latina. Baseado no livro Prova Contrária, de Fernando Bonassi, e vencedor do Festival de Brasília em 2011, o longa Hoje só deve estrear nacionalmente em março de 2013.
Continua depois da publicidade
>> Mostra Cinema e Direitos Humanos exibe 36 filmes, na Capital
Continua depois da publicidade
São muitos os filmes que falam sobre o período da ditadura militar no Brasil, a ponto de o tema ter se tornado uma categoria própria do cinema nacional. Dos clássicos Terra em Transe e Cabra Marcado Para Morrer aos mais recentes Hércules 56 e Batismo de Sangue, diferentes produções abordam esse difícil e marcante momento da história brasileira por meio de diferentes linguagens, a maior parte delas com foco em releituras, flashbacks, relatos históricos e documentários.
Tata Amaral não fez nada disso. Em Hoje, a diretora explora o desdobramento e as marcas deixadas pela militância na vida de um casal. Em 1998, Vera (Denise Fraga) acaba de comprar um apartamento com o dinheiro que recebeu do Estado brasileiro pela morte do marido, o uruguaio Luiz (Cesar Trancoso), desaparecido desde a ditadura. No dia da mudança, que para ela significa um possível recomeço, Luiz reaparece e os dois, então, precisam elaborar juntos um novo presente, a partir de um passado difícil e cheio de amor.
Leia entrevista do DC com a diretora, por telefone:
Existe uma identidade que seja própria do cinema brasileiro atual?
Tata Amaral – O cinema brasileiro tem várias caras e isso é uma das qualidades mais importantes. Você viaja pra lá e pra cá, em festivais internacionais, e vê que essa riqueza é inerente a nós. Tem comédia, drama, filme de gênero, experimental, comercial, de tudo que é jeito. É maravilhoso ter essa diversidade. E acho que todas as políticas públicas deviam incentivar a riqueza, e não a produção de mão única, de um tipo só. Isso é a única coisa que pode representar o Brasil.
Continua depois da publicidade
Qual a importância de exibir Hoje em uma mostra que fala de direitos humanos?
Tata – Acho que o filme está no lugar certo. Primeiro porque essa mostra tem uma tradição de curadoria de filmes bacanas, que tenham linguagem. Os filmes são selecionados não apenas pelo conteúdo, mas pelas qualidades cinematográficas. Do ponto de vista do conteúdo, sem dúvida nenhuma, tem tudo a ver. O filme fala de uma situação de suspensão vivida por muitos brasileiros, durante anos. Nesse sentido, o filme é uma representação da sociedade brasileira, que vive hoje um momento singular de democracia duradoura e, no entanto, não pode seguir sem olhar para trás e resolver esse passado problemático. Por isso, também, o filme é atual e tem a ver com os direitos humanos. Em relação à apuração dos fatos, hoje com a Comissão da Verdade instituída, essa questão é da maior importância. Principalmente em se tratando da questão da tortura, porque uma sociedade que não trata a tortura é uma sociedade que aceita a tortura.
É possível dizer que a ditadura permanece, hoje, como parte do inconsciente coletivo dos brasileiros?
Tata – Muito mais do que inconsciente coletivo, ela permanece nas ações. E com a nossa conivência. Continuamos achando que o que acontece dentro das prisões não tem a ver com a gente, e desconfiando da forma como as pessoas são tratadas. A gente ainda fica em dúvida. Será que aquele cara não mereceu? Tanto vocês em Santa Catarina, quando nós aqui em São Paulo, temos visto rebeliões de presos por causa da tortura. Ela ainda está na ordem do dia. É mais concreto do que o inconsciente coletivo, na minha opinião.
Continua depois da publicidade
Assim como em Um Céu de Estrelas, a maior parte da narrativa se passa dentro de uma única casa, um apartamento. O que há por trás dessa aparente economia?
Tata – Eu gosto muito de trabalhar com o que o Jean Claude [Bernardet] chama de dramaturgia concentrada. Acho bom desnudar o filme, sem distração. Você precisa narrar o tempo inteiro. Se tem alguma fragilidade no ritmo ou na narrativa, você percebe. Não tem elementos outros pra distrair. Não tem uma paisagem, ação, uma sequência de perseguição. É pura dramaturgia.
Agende-se
O quê: exibição do filme Hoje, de Tata Amaral
Quando: hoje, às 19h
Onde: Auditório CESUSC (Rod. SC 401, Km 10 _ Trevo de Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis)
Quanto: Gratuito
Duração: 87 min.
Classificação indicativa: 14 anos