Aos gritos de “Putin, vai embora” e “Soldados russos voltem para casa”, centenas de tártaros da Crimeia se manifestaram na sexta-feira contra o referendo de domingo a respeito da anexação desta península autônoma ucraniana à Rússia.

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Os manifestantes, que exibiam bandeiras ucranianas, concentraram-se nas principais ruas de Bajchisarai, reduto da minoria muçulmana na Crimeia, sob o olhar atento de milícias de autodefesa pró-russas.

– Não queremos sequer pensar na possibilidade de voltar à Rússia – disse Fatima Suittarova, 40 anos.

Os tártaros, minoria muçulmana instalada na península, foram deportados em massa por Joseph Stalin para a Sibéria e a Ásia Central, mas começaram a voltar nos últimos anos de Guerra Fría. Atualmente, representam entre 12% e 15% dos 2 milhões de habitantes da Crimeia.

A Rússia cedeu essa península à Ucrânia em 1954, quando as duas ex-repúblicas faziam parte da URSS. No entanto, Moscou manteve no porto de Sebastopol (Crimeia) a base de sua frota no Mar Negro.

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O líder tártaro Mustafa Djemilev pediu o boicote ao referendo e solicitou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) intervenha como fez em Kosovo, antes que ocorra um massacre.

O governo russo ignorou os pedidos dos Estados Unidos e de seus aliados e não impedirá o referendo de adesão da Crimeia à Rússia, que ameaça desmembrar a Ucrânia.

Os ministros das Relações Exteriores russo e americano, Serguei Lavrov e John Kerry, respectivamente, não chegaram a acordo para resolver a crise durante uma reunião de seis horas na residência do embaixador americano em Londres. Ao final do encontro, Lavrov afirmou que Moscou e Washington não conseguiram aproximar suas posições sobre a Ucrânia e que seu governo respeitará a vontade da Crimeia no referendo de adesão à Rússia. Já Kerry reiterou que haverá sanções caso o referendo seja realizado.

A reunião – a quarta entre Kerry e Lavrov em apenas oito dias – ocorreu menos de 48 horas antes do referendo, que contará com a vigilância das tropas russas.

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Enquanto tentam acertar o passo na diplomacia, Moscou continua a organizar manobras militares na região de Rostov, perto da fronteira ucraniana, e um drone americano foi interceptado na Crimeia, de acordo com uma companhia estatal russa. Cerca de 4 mil paraquedistas, 36 aviões e 55 veículos participam das manobras militares, segundo a agência oficial Itar-Tass.

“O drone (avião não-tripulado) estava voando a cerca de 4 mil metros e estava praticamente invisível a partir do chão. Foi possível quebrar a ligação com seus operadores americanos graças a um complexo combate rádio-eletrônico Avtobaza”, relata a companhia estatal russa de armamentos Rostekhnologuii (Rostec).

Reunião de emergência

Os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunirão no sábado com urgência para votar uma resolução que denuncie o referendo de domingo na Crimeia.

A reunião foi convocada para as 12h de Brasília a pedido dos Estados Unidos, mas os diplomatas acreditam que a Rússia vetará a resolução.

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A tensão na Crimeia é o último episódio de uma crise iniciada com os protestos contra o presidente ucraniano Viktor Yanukovich, aliado do russo Vladimir Putin, sua destituição e a instalação de um governo favorável a uma aproximação da Ucrânia com a União Europeia. A Crimeia, cuja população é majoritariamente de origem russa, respondeu com um plano para separar-se da Ucrânia.

A Rússia, por sua vez, enviou tropas para essa região ucraniana, que abriga sua frota no Mar Negro desde o século XIX. Mas a Crimeia pode ser o primeiro passo do desmembramento da Ucrânia, se outras províncias do leste de língua russa decidirem seguir o mesmo caminho, tal como sugeriu o líder pró-russo da Crimeia Serguei Axionov.