O local abandonado na região central de Blumenau chama a atenção. Luzes apagadas, portas trancadas, bombas vazias e cobertas pela poeira. A única coisa que parece prosperar nos últimos meses é o mato, que cresce no pátio que um dia já teve um vaivém frenético de carros. A cena descrita é a realidade de pelo menos três locais que abrigaram postos de combustíveis na Rua 7 de Setembro, uma das principais vias do município, e outro na Rua João Pessoa, no bairro Velha.

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O cenário se desenha passado pouco mais de um ano após a greve dos caminhoneiros, que paralisou o país por, entre diversos motivos, os altos preços cobrados pelos combustíveis. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Blumenau (Sinpeb), dos quase 80 postos ligados ao órgão, seis fecharam as portas nos últimos dois anos na cidade.

Parte deles não suportou as altas contas, tarifas e impostos e acabaram falindo. Alguns deles, em especial na Rua 7 de Setembro, no Centro, os empreendimentos pertencem às grandes empresas de distribuição de combustíveis nacionais e internacionais e são tocados por locatário dos imóveis, fator que leva ao alto índice de rotatividade dos administradores do local.

– Em muitos casos, quem aluga os postos não possui conhecimento do negócio e do mercado e acaba perdendo o controle da situação financeira. O aluguel em si já é caro, fora o preço do combustível na refinaria que é alto para o revendedor. Então, tudo isso somado, fora os custos operacionais com pagamentos de funcionários e das bandeiras das empresas, fica quase impossível de trabalhar, onde muitos acabam quebrando – afirma Julio Cezar Zimmermann, presidente do Sinpeb.

Na contramão de problemas que seriam gerados pela bandeiragem dos postos de combustíveis, alguns empreendedores optam pela associação com as empresas petrolíferas em busca de mais segurança e confiança dos consumidores na hora de escolher o melhor combustível.

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Marcos Juvenal Fiamoncini, proprietário de um posto bandeirado na Rua Amazonas, no bairro Garcia, defende que a escolha pela revenda de combustível de grandes empresas do ramo traz benefícios importantes ao empresário. Ele afirma que pretende ainda estender o tempo de contrato com a empresa quando o prazo terminar.

– Para nós que somos proprietários dos imóveis, acaba se tornando até vantajoso, não só pela questão financeira. Até porque se ganha um pouco menos, mas também pela confiança do cliente. Com isso, ganhamos na qualidade do combustível, na capacitação dos funcionários que é oferecida pela bandeira e por consequência no melhor atendimento, isso fideliza a clientela – afirma Fiamoncini.

Posto na Rua Sete de Setembro, Centro de Blumenau
Posto na Rua Sete de Setembro, Centro de Blumenau (Foto: Patrick Rodrigues)

Unidos por preços mais acessíveis

Em Brusque, uma iniciativa vai na contramão desse cenário e chama a atenção pela curiosidade. O Fórum Sindical dos Trabalhadores, composto por 12 entidades dos setores da construção civil, metalúrgico, têxtil e vestuário da cidade, estuda a possibilidade de abrir um posto de combustíveis com atendimento direcionado aos quase 30 mil associados dos sindicatos.

De acordo com o diretor do fórum, Jean Carlo Dalmolin, a iniciativa tem o objetivo de oferecer combustíveis com preços inferiores aos praticados na região.

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– O preço da gasolina de cidades vizinhas e em postos aqui de Brusque varia entre R$ 0,30 e R$ 0,40. Cada ano é cada vez mais difícil de negociar os salários dos trabalhadores. Então, tentamos trazer essa ideia para tentar reparar algumas perdas nos salários através de inciativas como essas – explica Dalmolin.

O projeto ainda está na fase de avaliação da viabilidade. Dalmolin conta também que alguns empresários do ramo já entraram em contato, mostrando-se interessados para serem os fornecedores do possível empreendimento.

Iniciativas como esta, de oferecer um serviço mais barato para reparar perdas salarias, já foram colocadas em prática na região. A “Farmácia do Trabalhador”, inclusive com unidade em Blumenau, é um caso desses projetos.

– A farmácia é um exemplo que deu certo – reforça o sindicalista.

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