Com estreia no Brasil marcada para 18 de janeiro, o aguardado faroeste de Quentin Tarantino é também um dos filmes mais cotados para os prêmios do inverno norte-americano, estes que culminam com o Oscar (que está marcado para 24 de fevereiro, com anúncio dos indicados na próxima quinta-feira).
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Django Livre volta aos tempos da escravidão para narrar a história de um negro (Jamie Foxx) que se associa a um caçador de recompensas (Christoph Waltz) buscando se vingar de seus antigos senhores. Na expectativa pela chegada do longa, Zero Hora publica duas entrevistas, com o protagonista (Foxx) e o próprio diretor, feitas no set de filmagens.
Ambas foram realizadas por jornalistas americanos escolhidos pela Sony Pictures para ter acesso ao set e enviadas pelos produtores a alguns veículos de imprensa, entre os quais ZH, que é o único representante do Sul do Brasil. Confira.
Entrevista: Jamie Foxx, protagonista de Django Livre:
Pergunta – Como você se envolveu com Django Livre?
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Jamie Foxx – Quando soube que Django seria filmado com outro ator, pensei: “Uau, soa maravilhoso”. E de uma hora para outra as coisas começaram a mudar. Tive a oportunidade de ler o roteiro e fiquei impressionado. E pouco depois, eu me vi sentado na casa do Quentin Tarantino, me candidatando… Disse a ele que, quem quer que fosse o escolhido, seria um filme admirável. Mas também disse que conhecia aquele mundo. Que sou do sul dos EUA e… Simplesmente contei a ele as experiências que eu tinha tido. E disse que elas me habilitavam para algo como aquilo – e é claro que sei cavalgar e que tinha meu próprio cavalo (risos).
Pergunta – Como é seu personagem e qual foi a sua abordagem?
Foxx – Há ocasiões em que fazemos filmes que refletem as nossas vidas. E este, sem dúvida, reflete a minha, tendo crescido como um rapaz negro no sul dos EUA, você sabe. Tudo o que queria fazer era simplesmente salvar a minha vida… E o Django é assim. Tudo o que ele quer é ter a sua mulher de volta. Ele só quer resgatar a mulher dele. Não quer abolir a escravatura, não quer matar todo mundo para retificar o que existe de errado. Só quer amar a sua mulher e viver a sua vida.
Pergunta – Como você se preparou para o papel?
Foxx – Precisei treinar, mas também perdi peso: eu queria ter a certeza de que estaria na forma física certa. Como disse, já tinha o meu próprio cavalo, então perguntei ao Quentin se poderia treinar com ele, e, de uma hora para outra, meu cavalo passou a fazer parte do filme. Quanto ao manuseio das armas e tudo isso, contei com um treinador que me ensinou todos os truques legais. Foram horas e horas sacando e girando as pistolas, cavalgando e aprendendo a montar em pelo, o que é difícil a 45km/h (risos)… Aquilo foi uma loucura, mas está tudo no filme.
Pergunta – Como foi trabalhar com Tarantino?
Foxx – Foi bem melhor do que eu esperava. Sabia que ele era passional, mas não sabia o quanto. E o modo como ele aborda o filme… Sempre que ele vinha ao set, se estivesse trabalhando em um personagem naquele dia, ele incorporava o personagem. Isto é, se ele chegasse no set e fosse um dia de filmagem do Django, ele incorporava o Django. E tem também o lado divertido do trabalho. Embora ele sempre exigisse, “Me deem os meus desempenhos”, pouco depois ele estava brincando e fazendo todo mundo rir. Ele tocava música entre as cenas e a gente tomava doses de bebida a cada cem tomadas. No meu primeiro dia, disse a ele: “Que tipo de set é esse? Isso é incrível”. E ele me respondeu: “Que tipo de set é esse? É um set do Quentin Tarantino!”. Era quase como se tivesse rolando uma festa, mas, ao mesmo tempo, todos estavam concentrados no trabalho e fazendo tudo como ele queria.
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Pergunta – Por que você acha que os filmes dele são tão populares?
Foxx – Você sabia que Quentin Tarantino é um dos artistas mais buscados no Google? Mais do que o Leonardo (DiCaprio), George Clooney, Brad Pitt, mais do que todo mundo. Eu lhe repassei essa informação, e ele disse: “Não sabia disso”. E eu disse: “Isso significa que as pessoas realmente curtem você. Elas esperam pelo que você vai dizer”. Nós sabemos que, quando Quentin Tarantino estreia nos cinemas, o filme atrairá atenção, porque ele assume riscos e pensa de maneira anticonvencional.
Entrevista: Quentin Tarantino, diretor de Django Livre:
Pergunta – Desde quando este filme está na sua mente?
Quentin Tarantino – Tenho pensado neste filme há cerca de 10 anos. Não tinha a história em si desde o início, embora, há muito tempo, tivesse a ideia de rodar um faroeste que lidasse com a escravidão. Não sabia como eu o faria, mas sabia que queria que o título fosse Django Unchained.
Pergunta – Como você resumiria a trama?
Tarantino – É a história de um escravo que se torna um caçador de recompensas e, por estranho que pareça, a ideia me ocorreu durante a turnê promocional de Bastardos Inglórios. Estava em Tóquio, onde a gente pode comprar todas aquelas trilhas sonoras incríveis de faroestes spaghetti. Comprei um monte delas e as escutava quando, de repente, me ocorreu a história. Ela sofreu alterações desde então, mas escrevi a primeira cena do filme lá em Tóquio. Depois, levei cerca de seis meses para terminar o roteiro.
Pergunta – O que você acredita que Jamie Foxx trouxe ao papel de Django?
Tarantino – O Jamie está simplesmente fantástico! Ele compreende o personagem, ele se importa com o tema e entende seu contexto histórico. Ele atua por mim e por si mesmo, mas também atua por seus ancestrais. E, ao mesmo tempo, vive esse herói icônico de um faroeste spaghetti, como Clint Eastwood ou Franco Nero.
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Pergunta – Leonardo DiCaprio também vai surpreender muita gente como o vilão, Calvin Candie.
Tarantino – Ah é, nada se compara ao que ele está fazendo neste papel. Nunca existiu ninguém como seu personagem no cinema.
Pergunta – E o que você pode dizer acerca do Christoph Waltz?
Tarantino – Ele me lembra do Lee Van Cleef. O desempenho do Christoph nas suas cenas é brilhante e magnífico como seria de se imaginar. E, mais do que isso, ele também forma uma dupla fantástica com o Jamie. Eles sabem como manter uma troca mútua. E os seus cavalos se chamam Tony e Fritz, e, na verdade, os dois primeiros caubóis superastros dos tempos do cinema mudo foram William S. Heart e Tom Mix, e seus cavalos também se chamavam Fritz e Tony!
Pergunta – O nome “Django” o remete a quê?
Tarantino – É o nome do maior herói dos faroestes spaghetti. Eu me lembro imediatamente do Django do Franco Nero, mas também adorei todas as produções inspiradas nele.
Pergunta – E o Nero atua neste filme!
Tarantino – Sim, e, de início, o personagem não parecia grande coisa no papel; mas nós o desenvolvemos, e ele está sensacional nele. Há um momento fantástico em que os dois Djangos se encontram! Eles introduziram alguns improvisos na cena durante a filmagem, mas não muitos porque o roteiro já é tão bom…
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