Quando começou no ciclismo, Tamires Fanny Radatz teve que lidar com a descrença alheia – provocada por sua aparência e biotipo:
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– Eu não tenho o tipo físico que normalmente as pessoas associam com atletas do ciclismo – ela conta. – Eu sou baixinha, entroncada, fortinha… Normalmente as pessoas imaginam ciclistas como aquelas mulheres altas, magras. No começo eu ouvi muitos comentários negativos relacionados a isso. Me chamavam de gorda, me perguntavam como eu achava que ia aguentar até o final da prova.
Tamires ignorou. Nativa de Indaial, no Vale do Itajaí, ela tinha cerca de 20 anos de idade quando começou a pedalar, por motivos de saúde: treinava indoor, em academia. Foi lá que conheceu Ingwald Evald, atleta que a convidou para começar a pedalar na rua.
– Desde esse dia, eu nunca mais desci da bike – diz. – Comecei indo uma vez por semana, aí comecei a ir duas, aí comecei a ir três… (risos) E aí o Ingwald começou a me incentivar a competir.
A própria Tamires se sentia insegura no começo.
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– Eu nem sabia pedalar direito, sério! – ela ri. – Eu caía na subida, caía na descida, não sabia trocar pedal… E, há cinco anos, tinha muito menos meninas competindo, o que me desanimava, também. O Ingwald me falou para focar na melhor atleta que eu conhecesse e pensar nela como uma inspiração; então eu escolhi a Tânia Clair Pickler, que é campeã brasileira de mountain bike, e é de Indaial, também. Decidi que queria chegar ao nível dela, e comecei a treinar sério.
Mesmo tendo começado na mountain bike, Tamires foi chamada para começar a compor a parte feminina da equipe de ciclismo do Avaí, de Florianópolis – cujo foco eram outras modalidades, como speed e contrarrelógio (e que hoje já conta com sete ciclistas mulheres). Foi todo um novo aprendizado para a atleta.
– No meu primeiro campeonato nacional brasileiro de contrarrelógio, em 2016, eu era bem novata, era sub-23 – ela narra. – E consegui minha primeira medalha. Eu nem acreditava, sabe? Comecei no esporte só por saúde, jamais imaginei que um dia poderia ganhar uma medalha de campeã nacional. Foi quando percebi que tinha me encontrado mesmo no esporte. Em 2018 e 2019 fui campeã brasileira de contrarrelógio. Participei do Panamericano no ano passado; e teria participado de novo esse ano, mas infelizmente o campeonato foi cancelado por causa da pandemia.

O contrarrelógio é uma prova em que os atletas largam individualmente, um a cada minuto: não é permitido, por exemplo, andar próximo a outro participante para pegar o chamado vácuo, quando o atleta que vai na frente quebra a resistência do ar. O trajeto é o mesmo para todos, e quem fizer o menor tempo, vence.
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– Meu primeiro contato com a bike de contrarrelógio foi justamente no brasileiro – Tamires conta, rindo, sobre sua primeira experiência nesse tipo de prova. – Ela era maior do que eu; não era minha, era emprestada para a equipe. Eu tenho certeza de que não fiquei nada aerodinâmica durante a prova; não cuidei da alimentação antes; cheguei no final super desgastada, literalmente passando mal… Pensei: “Nunca mais vou fazer isso na minha vida.” (risos) Quando começaram a me dar parabéns, eu nem entendi o que estava acontecendo.
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Hoje, os dias de Tamires são divididos entre os treinos, de manhã, e a dedicação a uma empresa que criou com dois sócios, a Sportxtreme Brasil, especializada em vestuário esportivo.
– Muitos atletas hoje não conseguem viver só da bike, e esse ainda é o meu caso – ela diz. – Como sou formada em design de moda, decidi unir as duas coisas.
Com o aprendizado e a superação das inseguranças, aquelas mesmas características de Tamires que, no começo, despertavam comentários desdenhosos de outras pessoas, hoje são motivo de orgulho e inspiração.
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– Hoje eu já recebo muitos comentários de pessoas que se inspiram em mim justamente porque eu não me encaixo em um padrão pré-estabelecido, o que eu acho lindo! – a atleta comemora. – Muitas mulheres me dizem que antes de descobrir minha história tinham vergonha de botar uma roupa de ciclismo, por exemplo, de começar no esporte; porque achavam que não tinham o perfil, digamos assim, “necessário” para isso. Mas tudo é possível quando você realmente gosta e quer alguma coisa. Inspirar outras pessoas por meio da minha experiência, para mim, vale mais do que ganhar uma medalha.