No mesmo dia da prisão do médico nutrólogo Omar César Ferreira de Castro, acusado de crimes sexuais contra pelo menos 14 pacientes, seis novas denúncias foram protocoladas na 6ª Delegacia de Polícia Civil de Florianópolis. Relatos também surgiram nas redes sociais: com a notícia da prisão, vítimas se sentiram mais dispostas a rememorar certo trauma ou reinterpretar uma memória que até então não era de um episódio de assédio sexual.

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Junto com os relatos e denúncias formais, outro problema veio à tona: a estrutura e o atendimento na Delegacia de Proteção à Mulher, Criança e ao Idoso (DPCami), sediada na 6ª DP. Vítimas reclamam do espaço físico desconfortável e do despreparo dos agentes, que são, na maioria, homens. Em entrevista, a delegada Patricia Zimmermann, coordenadora das delegacias de proteção à criança, ao adolescente, à mulher e ao idoso da Polícia Civil de Santa Catarina comentou sobre queixas.

Que análise pode ser feita das queixas sobre o trabalho na 6ª DP?

A coordenadoria é muito recente [junho de 2015]. Estamos encarando como um desafio que temos que vencer e, para isso, detectando os problemas e buscando soluções com base em dados técnicos. Nós estamos recebendo algumas reclamações da população, inclusive por e-mail, e fazendo um diagnóstico interno no que diz respeito à qualificação desse profissional, à qualidade do atendimento. Não temos a condição de fazer algumas mudanças até em função da falta de pessoal. Estamos preparando cursos de capacitação para os profissionais das delegacias da mulher, para que a gente possa melhorar o atendimento e a forma de trabalho.

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O fato de terem mais homens na Delegacia da Mulher atrapalha?

Eu vejo em alguns locais até um certo preconceito. Tem algumas mulheres que têm a ideia de que só deveriam ser delegadas mulheres que trabalham. Mas eu tenho visto excelentes trabalhos desempenhados também por homens. Profissão de policial é de extremo estresse. As DPCamis trabalham com crimes de vulneráveis, onde há relação de afeto entre autores e vítimas. Então a forma de trabalho e investigação é diferenciada. Muitas vezes o nosso policial sente como se tivesse feito um desserviço ou se sente desvalorizado porque essa mulher às vezes nos procura mais de uma vez. A ideia é que a pessoa que registra o BO seja o agente de polícia e nessa pessoa nós buscamos uma qualificação específica. No que diz respeito à forma de abordagem, à forma de atendimento, ao cuidado na não-exposição dessa mulher, do não-julgamento dessa mulher. E isso depende da qualificação do profissional, que estamos buscando na capacitação.

E sobre a estrutura física dessas delegacias, a 6ª DP contempla as exigências?

Nada impede que a gente tenha um lugar aberto onde as pessoas aguardem para um primeiro atendimento, mas que a parte do registro de ocorrência seja um local reservado. Nós já temos essa questão do espaço reservado com ar condicionado e o mínimo necessário para que a pessoa se sinta bem. A orientação é que o profissional feche a porta e converse reservadamente com essa mulher, para que o relato fique só entre as pessoas. É claro que em alguns períodos gera sobrecarga de BOs, então talvez uma adequação seja necessária.

A equipe de psicólogos é suficiente?

Na 6ª DP, são quatro psicólogos até agora. Desses quatro, chegou mais uma, mas tem dois com pedidos de aposentadoria já formalizados. Então a gente está trabalhando com essa situação: possibilidade de saída e a busca pela recolocação do efetivo.

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