As formas de literatura infantil e juvenil são desenvolvidas para estimular a fantasia e a magia, pois o literário cria mundos possíveis pela palavra e projeta o leitor para realidades que surpreendem, interrogam e (re)configuram os espaços em cores e em experiências singulares e únicas.

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A leitura não está associada apenas à identificação de caracteres, letras e palavras de modo encadeado, o ato de ler implica na construção de sentidos. A palavra ocupa espaços para preencher silêncios ecoando histórias produzidas pelo homem sobre si e sobre o mundo, assim a leitura tece uma ligação efetiva com o que circunda e se transforma em valores geradores de novos sentidos à realidade.

A inserção da linguagem literária na infância, ou seja, os estímulos à leitura de histórias e de poesia permitem um alargamento de percepções, saídas de si e da realidade de seu entorno para projeções no sonho. O leitor do literário, infantil ou jovem, aprende sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. Ler, portanto é uma prática de colheita de conhecimentos e de percepções do leitor sobre si próprio e sobre o mundo que o circunda. O ato de ler promove (re)escrituras e (re)criações das palavras, ou seja, auxilia a desarrumar as gavetas da verdade e da mentira, do belo e do feio, do falso e do verdadeiro que conduzem o leitor a olhares móveis e mais despojados sobre a vida, olhares mais libertos dos preconceitos circulantes na cultura.

Aos recém iniciados, uma estratégia é introduzi-los no universo lúdico com poemas diretos, curtos, musicais e de fácil compreensão como o poema “O cavalinho branco” de Cecília Meireles:

À tarde, o cavalinho branco

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está muito cansado

mas há um pedacinho do campo

onde é sempre feriado

[…………………………..]

A poética de Cecília Meireles conduz à percepção de imagens diretas que alimentam a autonomia leitora. Já, aos iniciados podem ser oferecidos textos com maior riqueza imagética e musical que toquem os níveis cognitivos e sensíveis identificáveis na prosa poética como ocorre na “Crônica de Gatos”de Rubens da Cunha que insere o leitor num espaço de mistério: ” Talvez fosse um dia azul quando ele chegou. Era manhã. Trazido pelo vento? Nunca soube. Abandonado? Era um gato pequeno, sem raça, sem estirpe, como dizem as pessoas cheias de estirpe.” E, segue narrando o pacto entre homem e gato e sobre as aprendizagens resultantes desse encontro.

O jovem leitor curioso ante os caminhos e veredas da vida que se abrem e se estreitam, busca ser surpreendido pela linguagem, pela palavra que se desloca das convenções e abre novas perspectivas de mundo. Caminhos que são traçados de modos impactantes por Lygia Bojunga Nunes, em “A casa da madrinha,” narrativa dirigida para adolescentes e estruturada a partir de um tom oscilante entre melancólico, sonhador e crítico para tratar da complexidade desta fase da vida marcada por buscas de afirmação e de individualidade ante às imposições sociais. O protagonista Alexandre, garoto favelado, procura compensações na escola, nas histórias e na fantasia da busca da casa de sua madrinha, caminho simbólico trilhado para suprir a aridez da vida. Assim, pelo jogo entre o real e o imaginário a narrativa opera uma crítica aos modelos comportamentais e do pensamento vigente no sistema escolar que oprime ao invés de gerar espaços de criatividade.

Em síntese, compreendemos ao seguir os rastros de Cândido (1972:805) que a literatura “Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica […], age como um impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela – com altos e baixos, luzes e sombras[…]”.

MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Ilustrador Odilon Morais. 7ª ed. São Paulo: Global, 2012.

CUNHA, Rubens. Crônica de gatos. Ilustradora Regina Marcis. Jaraguá do Sul/SC:Design Editora,2010.

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*Taiza Mara Rauen Moraes é Doutora em Teoria da Literatura, professora do Curso de Letras e do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade, coordenadora Programa Institucional de Incentivo à Leitura da UNIVILLE/SC e Comitê PROLER-Joinville.

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