Ainol, Yuandao, Pipo, Topi, Aocos, Momo. Não, esses não são nomes de sushis, candidatos a papa ou personagens de desenhos japoneses. São marcas de tablets. E, por mais que seja difícil de acreditar, são marcas que estão dominando um nicho do mercado brasileiro que gigantes como Apple, Samsung e Asus não conseguiram conquistar: a classe C.

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Tablet, aliás, não é mais sinônimo de luxo, altíssima tecnologia ou gadget de quem tem alto poder aquisitivo. Felizmente, o brasileiro incorporou a tecnologia como poucos sabem fazer e a palavra tablet está na boca do povo. Isso graças a empresas – principalmente chinesas e indianas – que estão produzindo aparelhos com menos funcionalidades e por preços bastante acessíveis. É possível, por exemplo, encontrar uma grande variedade de tablets por menos de R$ 300 em lojas brasileiras.

Para Gisela Castro, professora do Mestrado em Comunicação e Consumo da ESPM, o fenômeno é positivo e populariza a tecnologia.

-De maneira geral, é muito positivo que as chamadas classes emergentes tenham acesso a tecnologia. Antes, tablet era coisa de gente muito rica – avalia Gisela.

A pesquisadora acredita ainda que, mais do que querer o melhor modelo, o consumidor da classe C quer um tablet, seja qual for.

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-Não importa a marca, o que importa é o status que vem junto com o produto. É poder dizer: tenho um tablet- conclui.

Os modelos são variados e, normalmente, podem ser pagos em prestações, o que facilita a compra por parte dos que tem menor poder aquisitivo. Apesar de não haver pesquisas com números exatos, é possível observar que cada vez mais pessoas se familiarizam com termos como apps e mobile. Tablets viraram objeto de desejo não apenas dos ricos, mas de todos os brasileiros. O fenômeno não é apenas brasileiro, mas mundial. Prova disso, um estudo da consultoria IDC previu que, em 2013, tablets com sistema operacional Android (o mais utilizado por chineses e indianos) irão ultrapassar o iPad em vendas pela primeira vez na história. Outra dado do estudo aponta que, neste ano, deverão ser vendidos cerca de 190 milhões de tablets no mundo, sem dúvida uma consequência das opções mais acessíveis que dominam o mercado.

Apesar do aspecto positivo de popularização da tecnologia, é preciso ponderar que os tablets mais baratos não funcionam com a mesma qualidade com que opera um iPad, da Apple, ou Galaxy Tab, da Samsung. Usuários de equipamentos de fabricantes mais renomados podem estranhar a qualidade dos chamados ”tablets genéricos”.

Para o professor de tecnologia da PUCRS Eduardo Pellanda, a experiência de uso é muito inferior no caso dos modelos mais simples.

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-Sem dúvida nunca vai ser a mesma coisa. Geralmente eles vêm com sistemas operacionais muito desatualizados e telas muito ruins, que não respondem muito bem ao toque. Às vezes vale mais a pena investir em um tablet mais simples, mas de uma marca conhecida- destaca o professor.

Nem sempre o negócio é da China

Apesar de serem vistos como um fenômeno positivo e ajudarem a popularizar um produto que antes era exclusividade da elite, nem sempre os tablets mais baratos são um bom negócio. É preciso prestar atenção no produto que esta sendo adquirido e ponderar se a compra realmente vale a pena. Às vezes, o barato sai caro. Carolina Radziuk que o diga. A estudante de odontologia de 23 anos e seu pai, Eduardo Radziuk, tiveram uma experiência negativa com um aparelho que parecia barato demais para ser verdade. Em uma feira de tecnologia em Hannover, na Alemanha, Eduardo comprou um tablet da marca indiana Simmtronic por 50 euros para presentear a filha. Os vendedores prometiam todas as funcionalidades de um tablet simples. Ao chegar no Brasil, o presente foi dado, mas a alegria durou pouco.

– Eu liguei o aparelho, usei um pouco, coloquei para carregar e, depois disso, nunca mais ligou. Durou um dia- relata Carolina, decepcionada com o produto.

Ao tentarem entrar em contato com a empresa, que dava dois anos de garantia para o produto, pai e filha foram remetidos para um número de telefone inexistente. Para o pai, Eduardo, a empreitada serviu como lição.

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– Foi bom para ver que vale mais a pena investir um pouquinho mais. Se eu tivesse comprado um aparelho de 200 euros, por exemplo, talvez estivesse funcionando- pondera.

Made in…

Nem só de chineses vive o mercado de tablets genéricos. O segmento reinventado pela Apple cresceu tanto que empresas brasileiras arriscaram fazer suas versões do gadget. CCE, Positivo e Multilaser são exemplos de marcas nacionais que se aventuraram no ramo e parecem estar investindo certo. De acordo com a pesquisa Nielsen, a participação de aparelhos de menos de R$ 1 mil no mercado de tablets subiu de 25,3% para 57,7% em 2012. De acordo com outro estudo, da consultoria IDC, 46% dos 769 mil tablets vendidos no Brasil no terceiro trimestre do ano passado foram modelos com preço abaixo de R$ 500. Mas quem são os tantos brasileiros que compram esses aparelhos?

Adriana Cristina Ritter Nunes é um deles. A esteticista de 41 anos resolveu que queria investir em tablets no Natal passado, quando comprou dois, um para cada filho. Carolina, de 13 anos e João Pedro, de 10, pediam para a mãe o aparelho desde o início do ano.

– Fazia horas que vinham falando nisso e os amigos da escola também tinham. Eles só queriam saber de tablet – conta Adriana.

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Depois de muita pesquisa, a esteticista escolheu um modelo mais elaborado para a filha, que custou R$ 399 reais e um mais simples para o filho, comprado por R$ 280 reais. O da filha, fabricado no Brasil, estragou depois de um mês de uso, mas estava na garantia.

– Eu levei na assistência, pedi para trocar o aparelho e deu tudo certo. Depois de 40 dias eles ligaram para eu ir buscar o novo- conta, satisfeita com o serviço.

A marca do aparelho comprado para a filha, aliás, tem uma história bastante característica.

Das panelas de arroz às telas touch screen

O tablet de Carol, a filha da esteticista Adriana, é fabricado pela DL, empresa que representa bem o fenômeno dos tablets genéricos. Dos quase 3 milhões de aparelhos vendidos no Brasil no ano passado, cerca de um milhão foram fabricados pela DL. Líder em vendas no Brasil e com 10 modelos de tablets em linha de produção a preços que variam entre R$ 359 e R$ 1,3 mil, a DL, hoje conhecida como Digital Life, antes atendia pelo singelo nome de Doce Lar.

Quando o presidente, Paulo Xu, se mudou da China para o Brasil, em 1994, começou a trabalhar e viver em um restaurante onde recebia R$ 450 mensais como salário. Dormindo em um quarto de três metros quadrados, o chinês foi conseguindo empregos melhores e guardando o que podia de dinheiro até o momento em que abriu o próprio restaurante. Depois disso, investiu em importação de panelas elétricas específicas para o cozimento de arroz, negócio que originou a DL – ou pelo menos a primeira versão dela, a Doce Lar. Sem muita perspectiva de crescimento no mercado de panelas para arroz, Paulo deu uma guinada ousada no negócio e começou a produzir eletrônicos para vender localmente, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais. A empresa e o mercado cresceram, fazendo nascer a nova DL, dessa vez chamada de Digital Life, que, de acordo com o próprio presidente, pretende vender entre cinco e oito milhões de tablets em 2013.

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