Desde 1987, o SXSW (South by Southwest) ocorre anualmente em Austin, a capital do estado do Texas, nos Estados Unidos. Antes isolada da cena artística e tecnológica, a cidade de cerca de um milhão de habitantes hoje é moderna, cult, lar de artistas, intelectuais (e de alguns famosos). Austin proporciona um ecossistema de mentes criativas aliado à qualidade de vida característica das cidades menores.

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Os números oficiais de 2019 ainda não saíram. Mas, no ano passado, mais de 75 mil pessoas de 102 países participaram de uma das três conferências que formam o SXSW: Interactive (a que eu escolhi, mais voltada para tecnologia e negócios), Film (Cinema e TV) e Music (a que originou o festival, atrai mais gente, e que debate e celebra a indústria da música).

Durante a última edição do SXSW, que ocorreu entre os dias 8 e 17 de março, percebi os impactos do evento na cidade. Os hotéis e até os Airbnbs estavam lotados, e o trânsito quase impossível, deixando o Uber (e a concorrente, Lyft) absurdamente caros.

Os patinetes elétricos (scooters) que estão em toda parte em Austin deveriam ser uma alternativa para o transporte. Mas eles se tornaram motivo de revolta para alguns moradores, que estão lançando os patinetes nos rios que cortam a cidade (eu vi dois). O que se percebe é que, tanto lá como aqui em Floripa, os scooters são mais usados como brinquedos do que efetivamente como meio de locomoção.

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Austin é diferente, mas lembra Floripa. Mas vamos ao que interessa.

Orientações sobre a agenda de palestras

Você é quem faz o seu SXSW. São tantas palestras e exposições acontecendo ao mesmo tempo que você pode (e deve) construir a própria trilha no aplicativo do evento – e assim seu roteiro vai se tornar único, personalizado.

Algumas palestras ocorrem no enorme centro de eventos de Austin e outras nos hotéis das redondezas. Em cinco ou 10 minutos você caminha entre os principais locais.

Por dois motivos, é muito importante que seu roteiro seja flexível: primeiro porque tem muita gente participando do evento. Você vai ficar em filas enormes e até de fora de algumas das palestras mais badaladas. Depois, porque se você for para o SXSW só para ver palestras, vai perder muita coisa boa.

A expectativa em relação às palestras é tão alta que algumas podem decepcionar – e não é raro ouvir gente se queixando. E aí é você quem vai avaliar: o palestrante era só uma pessoa influente querendo se promover, ou alguém que tinha o que dizer, mas não soube se expressar bem?

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As palestras têm sempre o mesmo formato: individual, entrevista ou painel. As individuais têm uma vantagem: o palestrante preparou e ensaiou o conteúdo. Enquanto as entrevistas, e principalmente os painéis, podem se perder em divagações e debates desnecessários, já que são, em geral, mais improvisados.

Uma opção para aproveitar o evento é entrar em salas aleatórias, onde se discutem temas que aparentemente não tem nada a ver com a sua área de interesse. A chance de se surpreender e aprender algo novo são grandes, ainda mais em tempos de algoritmos que fazem muitas escolhas por nós.

Mas eu não fiz isso. Eu fui assistir a apresentações de escritores que eu admiro há muito tempo.

Um ponto de encontro, e a emoção da tietagem

De cara, na abertura do SXSW, Brené Brown provocou a reflexão: quanto tempo você ainda vai perder se preocupando com o que você acha que os outros pensam sobre você? Eu tive certeza de que ela falava comigo.

Malcolm Gladwell participou de um painel sobre carros autônomos – não importa o tópico, dá para ficar ouvindo ele divagar por horas.

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Neil Gaiman falou sobre a arte de escrever e apresentou a sua nova série, Good Omens. Ele lamentou que a ficção precisa parecer coerente, enquanto a realidade pode ser absurda.

Tim Ferriss entrevistou Michael Pollan numa conversa animada sobre a mente e substâncias alucinógenas (não é raro o entrevistador ser a atração principal).

Ryan Holiday falou sobre o estoicismo – filosofia de vida que eu aprendi justamente com ele há alguns anos.

Debbie Millman entrevistou e surpreendeu Austin Kleon numa conversa inesquecível sobre trabalho e arte.

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É uma experiência surreal sentar na frente de quem inspira você há anos e, em alguns casos, poder trocar umas ideias com nomes como Ryan Holiday e Austin Kleon. Coisa de fã.

O que esperar e o que buscar

O SXSW não vai dar muitas dicas. É um local de inspiração. Mas é você quem precisa buscar o insight, a reflexão. No SXSW (assim como no trabalho, na faculdade, na vida) a melhor postura é a de um questionador curioso. É assim que o aprendizado acontece.

E não há lugar melhor para isso do que na exposição do SXSW. Lá você encontra centenas de empreendedores e de negócios do mundo todo apresentando soluções tecnológicas. Se você se vira bem no inglês, precisa reservar algumas horas para conhecer os estandes que chamam sua atenção. Apenas se aproxime e pergunte o que eles fazem – e a mágica acontece.

Também estão lá gigantes da tecnologia. Elas alugam espaços no centro de Austin, apresentam novidades e distribuem cerveja para quem tem crachá do SXSW (os melhores ambientes que eu achei foram o do Linkedin, o da Intel e o da LG). Aliás, em geral, é assim que termina cada dia do evento. Depois, se você ainda tiver energia, pode explorar a Rua 6 e entender porque Austin é chamada de capital mundial da música ao vivo.

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Lembrando de casa

Chama a atenção a quantidade de países e cidades na exposição do SXSW, todos divulgando seus atrativos e suas startups. E numa grata surpresa, Floripa também estava em Austin.

Durante o SXSW aconteceu o pontapé inicial do Floripa Conecta, evento que acontece aqui na Ilha, em agosto. Um manezinho que trabalha na Dropbox de Austin reservou o salão de festas da empresa para o encontro. Conheci vários conterrâneos na confraternização. Estavam lá também influenciadores conhecidos nas redes sociais, como Murilo Gun e Gabriel Goffi (convidados no mesmo dia, ao serem reconhecidos nas ruas de Austin).

Assistimos, em primeira mão, o novo vídeo institucional de Florianópolis, criado pela minha agência. A propósito, Floripa vai ter um espaço no Web Summit 2019, em Lisboa. E, aposto, outro no SXSW em 2020.

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Lucas Miguel Gnigler é diretor de operações do grupo D/Araújo Comunicação. No tempo livre produz conteúdo e faz palestras sobre comportamento e trabalho.

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