Eu sempre admirei seios. Desde criança, reparo nos seios das mulheres adultas. É um belo signo feminino e eu esperei avidamente em tê-los. Os meus não cresceram tanto quanto minha expectativa e isso na adolescência me incomodou. Depois, descobrimos que isso é uma grande bobagem imposta pela mídia, a indústria pornográfica…
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Perdido o “trauma” da primeira juventude, passei a curtir muito meus pequenos peitos e, por consequência, aprendi a cuidar daquela área frágil: hábitos e cremes hidratantes, dermocosméticos. Tudo isso é colocado para nós como cuidados. E se cuidar nem sempre foi o meu caso – evitar maus hábitos, como fumar cigarros, por exemplo.
No fim desse ano, completo trinta anos. Não tenho filhos, sou solteira e estou fazendo uma faculdade de teatro. A gente faz aulas de treinamentos técnicos para o ator que consiste em corpo. Para nós, o corpo é instrumento de trabalho.
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Numa dessas aulas, senti uma dorzinha não usual quando fiz um exercício de chão e meu seio direito então “soou o alarme”. Foi aí que, ao tocá-lo, descobri um nódulo. Depois do ensaio, fui almoçar com os colegas e meu seio em três horas já estava inchado, muito dolorido e o nódulo do tamanho de uma bola de gude grande, ocupando o mamilo. Mais algumas horas e meu seio ficou disforme. Fui procurar atendimento médico, a dor àquela altura já era lancinante.
E eu, com quase trinta anos, imaginei, vasculhei fotos na internet, chorei, pensei o pior até saber que justamente neste mês de outubro, da visibilidade à prevenção do câncer de mama, percebi que poucas vezes eu fiz o exame do toque, tão simples.
Mas o que eu tinha, para a minha sorte e para “me deixar mais ligada”, era Mastite não-puerperal, também chamada de Mastite periductal, que consiste num processo inflamatório e infeccioso da mama. Fora do período da gravidez e lactação, no meu caso, o fator é associado ao tabagismo.
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Fui atendida na rede pública de saúde, tratada com atenção no geral mas, em especial, pelas profissionais femininas, muitas delas com verdadeira empatia. Inclusive, no primeiro processo de drenagem com seringa, uma delas, bem querida, segurou a minha mão no momento fatídico.
Mesmo com o diagnóstico de câncer descartado, não foi fácil. O primeiro tratamento se deu com remédios, antibióticos, anti-inflamatórios, o que não resolveu. Febre, dor, muita dor, o seio não podia sentir cair a água do chuveiro. Perdi muitas aulas práticas, não consegui carregar nada mais pesado, nem erguer o braço direito para o alto. É muito sofrido e eu penso nas mães que têm de amamentar mesmo com a Mastite… É dolorido demais.
Depois, drenaram meu mamilo por pulsão (seringa), mas não funcionou também (isso tudo já se arrastava por um mês, já que descobri o tal nódulo em meados de setembro), até que veio o inevitável procedimento cirúrgico. Coisa simples, mas a gente sempre se assusta quando tem de “ir pra faca” e na noite do mesmo dia eu já estava em casa.
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Meu ex-namorado foi quem atenciosamente me acompanhou no processo de internação e com cuidados pós-operatórios, já que meus familiares não moram em Curitiba (sou de Florianópolis, mas me mudei há três anos), o que faz a gente ficar só um pouquinho mais nervosa. Pude perceber que esse terreno para os homens ainda é bastante misterioso, salvo os ginecologistas e especialistas da área. Desde nosso sangue, nossas cólicas, dores e nódulos, a informação não chega até eles se não há uma situação posta.
Na terça-feira da semana passada, voltei às aulas práticas, com muito cuidado, mas tudo está indo muito bem e sem dor! O nódulo sumiu, espero que desapareça para todo o sempre. Meu seio já voltou ao normal, o sentimento é de alívio e gratidão por ter sido uma mazela das menores. Gratidão também aos meus amigos do teatro, que me apoiaram muito, aos professores pela compreensão, à família que, mesmo de longe, faz o possível, em especial minha mãe, claro!
Não tenho queixa alguma sobre o tratamento que recebi pelo SUS, ao contrário, fui atendida com urgência e muito bem encaminhada ao Hospital de Clínicas. Minha vida vai voltando ao normal, devo agora tomar as medidas necessárias para que eu não venha a sofrer de Mastite outra vez.
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Foi um susto, mas também um alerta para que eu prestasse mais atenção ao meu corpo, organicamente. Ter contato, tocar, perceber. Por isso, também resolvi publicar um texto no Facebook, um dia após o procedimento, já de cabeça fria, com uma foto que tinha por intenção mesmo de chamar a atenção, descrevendo o que tinha acontecido comigo naqueles dias.
Tinha que espalhar para as mulheres da minha vida e não só. Percebi que a gente muitas vezes só “se liga” com as disfuncionalidades do corpo quando elas nos chegam ou aos nossos. Me parecia bem distante a possibilidade de um procedimento cirúrgico no seio, mesmo que um procedimento simples, nessa altura da vida. Antes eu pensava que deveria pensar nisso só mais tarde.
Ah, e claro: comecei tratamento para largar os cigarros.
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