No lugar de uma chave, um botão. Ao dar a partida, silêncio quase total. Um motorista desacostumado só se dá conta de que o carro está ligado ao perceber as luzes acesas do painel, não sem antes estranhar a falta do ronco do motor – embora um dos benefícios dos veículos elétricos seja justamente não emitir ruídos. Eles também dispensam o uso de combustíveis fósseis, o que os tornam mais sustentáveis.
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Carros elétricos são pensados para rodarem em grandes cidades, onde predomina a poluição – sonora e atmosférica. O BMW i3, primeiro veículo deste tipo desenvolvido pela montadora alemã, lançado oficialmente nesta semana no País, não foge à regra.
O hatch, que desembarca no Brasil com preços a partir de R$ 225.950, tem uma autonomia média de 150 quilômetros. A bateria pode ser recarregada em casa – o que demora cerca de oito horas em uma tomada de 220V e até 16 em uma de 110V. Quem tiver mais pressa pode adquirir, por R$ 7.450, um equipamento chamado wallbox, que faz a recarga entre três e seis horas.
O i3 chega a atingir 150 km/h, mas a velocidade máxima definitivamente não é a sua principal marca. Ele é resultado de pesquisas que a montadora alemã começou a realizar em 2007. Elas apontaram que o consumidor moderno tem buscado mais do que conforto, desempenho e design em um carro. Pela primeira vez até então, aspectos como sustentabilidade e conectividade apareceram com força na lista de pedidos.
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Nestes dois pontos, o i3 não deixa a desejar. Já na sua fabricação, o modelo utiliza metade da energia e até 70% menos água do que veículos comuns. A célula dos passageiros é feita em fibra de carbono. O couro utilizado nos detalhes do acabamento interno é tingido com essência de folhas de oliveira. Já 40% da lã utilizada nos bancos é renovável.
Em termos de tecnologia, o sistema ConnectDrive garante que o carro esteja conectado à internet o tempo todo. Por meio de uma central, o motorista pode ter acesso à sua conta de e-mail, a redes sociais e a aplicativos de notícias. Funciona quase como uma extensão do escritório de trabalho, compara o gerente sênior da BMWi no Brasil, Carlos Cortes, pensado sobretudo para quando o motorista estiver trancado nos engarrafamentos das cidades.
Carro do futuro?
O presidente da BMW no Brasil, Arturo Piñeiro, surpreendeu o público da Expogestão 2014, realizada em maio, em Joinville, ao entrar no palco para a apresentação de sua palestra a bordo do i3, primeiro carro elétrico fabricado pela empresa. Na última quarta-feira, durante o lançamento oficial do modelo no País, em São Paulo, o executivo repetiu a dose. Desta vez, porém, apareceu dirigindo o esportivo i8, anunciado de surpresa no evento.
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A apresentação dos dois modelos é um sinal de que a montadora alemã enxerga no Brasil, mesmo diante de um cenário difícil da economia, um mercado com potencial para o consumo de veículos elétricos. Eles ainda são raros no País – hoje existem cerca de 500 unidades licenciadas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) -, mas a aposta da BMW é que eles têm espaço para crescer, principalmente nos grandes centros.
– O brasileiro quer essa experiência de consumir um carro com valor agregado – garante Piñeiro.
O BMW i3 será o primeiro carro elétrico a ser comercializado no varejo brasileiro. Por enquanto, as vendas serão restritas a oito cidades, entre elas Joinville. O i3 poderá ser encontrado na concessionária Top Car, inaugurada no começo deste mês. Já o esportivo i8 será vendido apenas sob encomenda.
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Ambos chegam ao País com um extensor de autonomia. Isso quer dizer que, além dos motores elétricos, também contam com um motor a gasolina, acionados quando o motorista desejar aumentar a autonomia do veículo.
Desafios para a difusão do modelo
Apontados como os carros do futuro, os veículos elétricos trazem vantagens inegáveis, como a não emissão de gases poluentes e motores silenciosos. A tecnologia embarcada também chama a atenção, com aspectos de conectividade e uma série de funções inteligentes.
O BMW i3, por exemplo, conta com o sistema one pedal feeling: ao soltar o acelerador, o carro freia aos poucos, automaticamente. A energia cinética produzida pela desaceleração realimenta a bateria, preservando a autonomia do veículo.
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Existe, no entanto, uma série de entraves para a difusão deste tipo de veículo no País.
– Não há uma política governamental para incentivar o uso de carros elétricos no Brasil – critica Piñeiro.
A BMW, por exemplo, tinha a expectativa de que o governo federal avaliasse um projeto da Anfavea que determinava diretrizes para a importação e fabricação de veículos de propulsão alternativa no País, com taxa zero de IPI para os modelos elétricos. Como não houve uma definição, os preços ficam bastante salgados. Por isso, não é de surpreender que a montadora espere vender apenas cem unidades do i3 neste ano – embora ela não aparente estar preocupada com quantidade.
A baixa autonomia em relação aos veículos tradicionais também incomoda. Fatores como esses levam a crer que, pelo menos até 2030, os motores movidos a combustão ainda serão maioria na frota, avalia o gerente sênior da BMWi no Brasil, Carlos Cortes.
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* O jornalista viajou a convite do Grupo BMW.