Charles Teixeira, um dos denunciados pelo Ministério Público como autor do assassinato de Vilmar de Souza Júnior, o Juninho, ocorrido em 3 de março de 2017 em frente ao Mercado Público de Florianópolis, foi absolvido após mais de 12 horas de julgamento nesta quinta-feira (21) no Fórum da Capital. No entanto, foi condenado a quatro anos em regime aberto por receptação e adulteração e continuará preso, já que responde a outro processo por organização criminosa.

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O advogado de defesa do réu, Alessandro de Souza, disse que não vai recorrer, já que considera o resultado positivo.

— Sempre soube que o Charles não teve participação nesse homicídio. Avalio que foi feita justiça — afirmou.

O júri começou às 9h e foi suspenso no meio da tarde depois de uma reviravolta no caso. Presidente do júri popular, o juiz Marcelo Volpato suspendeu a sessão depois que o réu Charles admitiu ter estado no Fórum da Capital em 4 de maio para conversar com três promotores e uma defensora pública sem o conhecimento de seu advogado, Marcelo Alessandro de Souza. No encontro, informal, ofereceu-se a Charles um acordo de delação premiada, pelo qual o réu poderia ser beneficiado na ação penal de homicídio e em outro processo que responde por tráfico de drogas — no qual há diversos réus, entre eles algumas das principais lideranças do tráfico de drogas na Costeira do Pirajubaé. O acordo de delação foi rejeitado.

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Após essas informações virem à tona, já na parte final do interrogatório do réu, a última das oitivas do julgamento, o advogado Alessandro insurgiu-se e pediu a suspensão dos membros do Ministério Público catarinense que participaram da conversa com Charles, entre eles o promotor Afonso Ghizzo Neto, que estava no júri como responsável por acusar o réu. O juiz Volpato, então, negou esse pedido sob o argumento de que a Lei de Organizações Criminosas permite que promotores ofereçam e trabalhem em acordos de delação premiada. O advogado Alessandro, em seguida, disse que a legislação não permite que esse tipo acordo seja feito sem a presença de um advogado constituído pelo réu, no caso ele próprio. Assim, o juiz suspendeu a sessão.

Enquanto isso acontecia, o advogado Alessandro pediu que a defensora pública que participou da conversa entre Charles e os promotores, Fernanda Mambrini, e os promotores Luiz Fernando Pacheco e Jádel Silva Junior, que atuam em colaboração à promotoria de Organizações Criminosas, fossem ouvidos de forma referenciada no julgamento. Após uma hora de interrupção, o julgamento voltou a acontecer por volta de 16h.

Policiais teriam alertado os promotores de que o réu seria inocente

Desde o início de sua oitiva, às 13h42min, Charles declarou-se inocente. Questionado sobre onde estava no dia e horário do crime no Mercado Público,afirmou que naquela ocasião tinha passado a manhã levando um amigo da família ao médico, pois esse homem estaria com a perna engessada e não podia dirigir. Contou que após retornar do médico, que ficaria nas proximidades do Shopping Iguatemi, retornou para casa, na Costeira, e lá no morro ficou sabendo da morte de Juninho.

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Charles foi preso em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, mais de cinco meses depois do assassinato de Juninho. Contou que após dar entrada no Complexo Penitenciário da Agronômica começou a ouvir de outros presos – alguns nativos da Costeira – que sabiam que ele seria inocente do homicídio no Mercado Público. O réu disse ter então perguntado para essas pessoas porque eles não revelavam isso ao público, ao que teria sido ameaçado e, desde então, realocado para uma área conhecida como “seguro” dentro do complexo penitenciário.

— Eles me falaram quem matou o Juninho. Mas eu não posso contar, se não eles vão matar a minha família — disse o réu ao juiz, acrescentando que ao permanecer com pessoas da Costeira no presídio “descobriu um monte de coisa”.

Ao começar a tomar conhecimento do encontro do réu com os promotores e questionar seu cliente, o advogado Alessandro ouviu de Charles que na ocasião o réu “tinha se sentido verdadeiro com eles (promotores) e eles comigo”. Em seguida, o réu falou que policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Decod) – que o investigam em outro processo – teriam dito para ele que sabiam de sua inocência. Assim, o réu encaminhou uma carta para os promotores e foi procurado pela defensora pública, o que antecedeu a reunião informal de 4 de maio no Fórum de Florianópolis.

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— Eu não posso pagar por um crime que não cometi — alegou o réu.

Depoimento de advogada expõe série de crimes

Antes do depoimento de Charles, outra peça-chave do quebra-cabeça envolvendo o tráfico de drogas na Costeira, a advogada Yara Lúcia de Souza, irmão de Juninho e por muitos anos advogada do narcotraficante Sérgio de Souza, o Neném da Costeira, e de seu irmão Danilo de Souza, réu no processo da morte de seu irmão como suposto mandante do crime, falou ao júri durante mais de uma hora.

Em um depoimento a todo instante interrompido com a advogada aos prantos, ela relembrou alguns dos crimes mais midiáticos já ocorridos em Florianópolis, como a execução de Tiago Cordeiro, o Calcinha, em abril de 2015, e a morte de um homem encontrado carbonizado e com a boca fechada por um cadeado, em junho de 2008, numa trilha da Lagoa do Peri, na Armação, sul da Ilha.

Ela própria, Yara, teve seu escritório de advocacia metralhado na Costeira em julho de 2016. No interrogatório, a advogada disse que, hoje em dia precisa andar armada, de carro blindado e não pode conviver e ver familiares.

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– Se forem a fundo na história da Costeira, vocês vão ver que eles sempre matam os amigos. É um ditado, “a gente cria a cobra, e antes de ser picado, mata” – disse.

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