Ao questionar o salto de 322% em sete dias no número de petistas aptos a votar nas eleições do partido, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) desencadeou uma crise interna na sigla.
Continua depois da publicidade
Fontana levantou suspeita sobre o pagamento em massa de contribuições partidárias de filiados em situação pendente nos últimos dias antes do fim do prazo para participar da votação, marcada para 10 de novembro.
Saiba mais
> Deputados do partido discutem polêmica no Twitter
Dos 1,7 milhão de integrantes no país, cerca de 800 mil estão habilitados a votar. Em 23 de agosto, uma semana antes de expirar o limite, o total era inferior a 185 mil.
Continua depois da publicidade
Ser filiado há mais de um ano e estar em dia com a contribuição semestral de R$ 10 são algumas das exigências para participar da eleição. O PT é o único partido do país que adota o sistema de eleição direta. Isso ocorre desde 2001, quando 230 mil militantes votaram.
Para Fontana, que durante a semana protagonizou bate-boca virtual com um colega de partido, sugere a revisão da regra de contribuição obrigatória, para evitar suspeitas no processo eleitoral:
– Desejo que o filiado vá livre à urna e ele escolha seus candidatos de acordo com sua convicção política.
Candidato diz que até mortos tiveram situação regularizada
Favorito à reeleição, o atual presidente do PT, Rui Falcão, evita comentar o caso. Na quarta-feira, no entanto, em vídeo publicado no site da sigla, ele elogiou a “disposição inédita de ampla participação” da militância.
Continua depois da publicidade
Para o deputado gaúcho Paulo Ferreira, que apoia Falcão, as acusações são injustificáveis. Segundo ele, entre as explicações para a crescente mobilização estão mudanças nas regras do processo, o que ampliou o mandato – de dois para quatro anos – e a participação de jovens e mulheres nas chapas concorrentes:
– Quem faz uma acusação dessas tem de ter prova. As declarações são de uma infelicidade brutal, no momento em que o PT enfrenta dificuldade política com o mensalão.
Outra polêmica foi lançada pelo candidato ao comando nacional, Valter Pomar. Segundo ele, até pessoas mortas foram incluídas na lista de filiados aptos a votar. O PT, que ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso, deve investigar as suspeitas.
Quem são os candidatos à presidência nacional do partido
Valter Pomar – Historiador, representa a corrente partidária Articulação da Esquerda.
Renato Simões – Ex-deputado estadual por SP, concorre pelo grupo
Militância Socialista.
Rui Falcão – Atual presidente do PT e deputado estadual por SP, é da corrente Novo Rumo.
Markus Sokol – Economista e ex-secretário de comunicação do partido, é do grupo O Trabalho.
Serge Goulart – Historiador e dirigente nacional da legenda, representa a Esquerda Marxista.
Paulo Teixeira – Deputado federal por SP, é candidato pela corrente Mensagem ao Partido.
Executiva discutirá caso segunda-feira na Capital
Possíveis irregularidades no credenciamento de eleitores para a disputa interna da sigla serão tema de uma reunião da executiva do partido no Rio Grande do Sul na segunda-feira. No Estado, segundo o presidente da legenda, Raul Pont, 70 mil dos 150 mil filiados estão aptos a votar. Na eleição passada, em 2009, eram 40 mil.
Continua depois da publicidade
Embora não haja denúncia específica sobre o caso em solo gaúcho, o deputado Paulo Ferreira observa que houve aumentos expressivos, entre 28 e 30 de agosto, no número de petistas habilitados em Gravataí (806%) e São Leopoldo (441%) – territórios com forte atuação da corrente apoiada por Fontana.
– Se houve isso (pagamento em massa), estaremos repetindo o que combatemos e condenamos – e que acontece no sistema eleitoral do país -, cada vez mais dominado por pressões econômicas – disse Pont.
Ele acredita que a possibilidade de distribuição coletiva dos boletos, aprovada no último congresso da sigla, no início do ano, pode ter contribuído para facilitar supostas irregularidades.
O petista, que votou contra a medida, disse que a ideia era que as pessoas fossem localizadas e, assim, pagassem os valores, e não que alguém pudesse efetuar a quitação em nome delas.
Continua depois da publicidade
O estatuto da legenda prevê pagamento coletivo dos boletos, desde que tenha expirado o prazo para pagamento individual – o que ocorreu em 30 de agosto.
Cabe aos diretórios municipais organizar atividades entre a militância para arrecadar fundos e informar a comissão organizadora eleitoral estaduais até a próxima terça-feira. Em contrapartida, os beneficiados deverão participar de uma atividade partidária.
No Estado, cinco candidatos disputam o comando do diretório, que terá novo presidente, já que Pont não concorrerá. Estão no páreo o ex-prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi, o prefeito reeleito de Canoas, Jairo Jorge, o químico Laércio Barbosa, o deputado federal Paulo Pimenta e a deputada estadual Stela Farias.