Como em toda troca de governo, os olhos dos políticos americanos estão voltados para o rearranjo de postos-chave no novo mandato do presidente Barack Obama.

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A escolha de quem será a nova voz diplomática dos Estados Unidos no mundo – substituindo a secretária de Estado Hillary Clinton – tinha tudo para ser considerada natural, mas se transformou em uma aposta de risco para a Casa Branca.

A diplomata Susan Rice, 48 anos, que passou os últimos quatro anos defendendo as posições americanas nas Nações Unidas (ONU), é apontada como favorita para suceder Hillary, que irá deixar o cargo. Susan é afilhada política e sentimental da ex-secretária Madeleine Albright, que a conhece desde pequena. Assim como Bill Clinton, que escolheu Madeleine para a função por ser a então embaixadora na ONU, Obama seguiria a mesma lógica.

Considerada uma diplomata fora do comum por não se esforçar para agradar a VIPs ou aguentar puxa-sacos, Susan não consegue aplacar a antipatia de senadores republicanos. Eles questionam se devem aprovar sua provável indicação (o governo precisa dos votos de dois terços do Senado) porque não seria “confiável” para assumir um cargo de segurança nacional.

A oposição acusa Susan de ter tentado ocultar da opinião pública avaliações de inteligência de que o ataque de 11 de setembro passado ao consulado em Benghazi, na Líbia, foi um ato terrorista. Quatro americanos morreram e, naquele momento, Susan declarou em cinco talk shows que o episódio fora consequência de uma multidão furiosa com um filme amador que satirizava o profeta muçulmano Maomé. Imediatamente, o senador John McCain disse que Rice “não estava apta” para a função que exercia.

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Nesta semana, ela passou se desculpando. Admitiu que a descrição feita à época foi incorreta. Em reunião com três senadores republicanos no Capitólio, que criticaram a postura da embaixadora em diversas oportunidades após o incidente, Susan explicou que sua declaração foi baseada em informações da inteligência americana e que não teve a intenção de enganar a população.

Momento é de negociação política para o democrata

Segundo reportagem do jornal The Washington Post, Obama não contou sequer a assessores mais próximos se Susan será a escolhida, mas fez uma demonstração de apoio a ela na quarta-feira, convidando-a para a primeira reunião ministerial após a eleição e tecendo elogios.

Com a polêmica ganhando corpo, a confirmação de Susan, em um momento difícil com votações sobre impostos, pode representar um alto custo político para Obama. O momento é de acariciar e não de queda de braço, escrevem analistas americanos, referindo-se ao fato de que a próxima secretária precisa ter boas relações com senadores de oposição. O apoio deles é fundamental para uma ampla gama de medidas, já que dois terços do Senado são necessários para ratificação de tratados, por exemplo.

Albright e Clinton trabalharam duro para despolitizar o debate em política externa. É o que se espera da próxima (sim, o cargo se tornou, nas últimas décadas, “feminino”).

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Sob fogo cruzado no Conselho de Segurança

Susan teve atuação frustrada na ONU ao não conseguir fazer avançar resoluções que pressionariam o ditador sírio, Bashar al-Assad – uma tarefa hercúlea em geopolítica, já que bate de frente com Rússia e China, com o direito a veto no Conselho de Segurança. Porém, ela ajudou a assegurar sanções contra Irã e Coreia do Norte. E durante o conflito na Líbia, persuadiu o Conselho de Segurança a apoiar uma resolução criando uma zona de exclusão aérea.

Sua mais recente atuação foi na noite de quinta-feira, quando, ao lado de Israel, sustentou a posição de votar contra o upgrade do status palestino de entidade para Estado observador não membro na ONU.

Apesar do “vexame” de ter arrebatado apenas apoio do Canadá, do Panamá e de pequenas ilhas (nove países, ao todo), Susan sustentou sem titubear o “não” americano, uma posição que transcende a divisão partidária nos EUA.