Dia de chuva é uma das coisas mais gostosas-do-mundo. Os do inverno, então… Daqueles de ficar em casa, final de semana inteiro, sem compromissos. Dormir ao som do chiado baixinho das gotas batendo no telhado, sumir do planeta enrolando-se no meio das cobertas macias, o quarto todo escuro. Só aquele ruído chuvoso de uma TV fora do ar. Você saindo do ar. Sono profundo.

Continua depois da publicidade

O colchão, a cama e suas profundezas. Mil toneladas de deliciosa preguiça afundando o corpo relaxado. Força para nem um suspiro. Para nada. Ter aqueles segundos indescritíveis de prazer e alívio ao quase abrir os olhos e lembrar que é feriado, que é sábado. Domingo. Folga. E voltar a adormecer.

Desligar-se do mundo e suas obrigações ao novamente cair, inconsciente, travesseiro adentro, e realizar neste mergulho o maior sonho acordado da nossa realidade: acordar quando quiser. Passar o dia no conforto dos moletons. Meias grossas para aquecer desejos inteiros. Desejos de bolinho de chuva, de nega-maluca, de brigadeiro de panela, clássicos gastronômicos da previsão do tempo chuva-inverno-frio. Colheradas de acachapante doçura. Doce. Os doces. Muitos doces. Porque pode. Porque deve.

Como os pratos fartos de sabor e calorias, os melhores. Os necessários, nestes casos, salvo-conduto apenas às sopinhas. Filmes, livros, música. Cama, sofá, almofadas. Sozinho, com amigos, em família. A sós. A nós. Taças, um vinho. Carinho. Afeto. Recolhimento. Ficar em casa. Estar consigo. Chover para dentro de si. Lavar a alma a cada mordida, a cada fatia, até a última gota de chocolate quente. Até que ela passe, como tudo passa. E às vezes volta.

Continua depois da publicidade

Assim é a vida, um dia de chuva. Espero que não demore. Que logo volte. Porque é bom o que ela traz quando vem assim. De fora para dentro, de ti, de mim. E de todas as delícias de quando chove. E só lá.

* Susan Liesenberg, 33 anos, blumenauense, moradora de São Paulo, colunista do Jornal de Santa Catarina e pesquisadora e mestre em Comunicação e Informação