O surto de diarreia sem precedentes em Santa Catarina ainda não tem uma causa oficial identificada. Especialistas, no entanto, definem dois possíveis causadores: alimentos e água contaminada. 

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Conforme o médico especialista em gastroenterologia Nelson Silveira Cathcart, a diarreia aguda é comum em todas as épocas do ano, mas no verão o número de casos cresce naturalmente devido ao clima propício à disseminação de microrganismos – bactérias, vírus, verminoses e protozoários. 

A temporada de verão 2023, porém, extrapola todos os dados anteriores, de acordo com o médico, que afirma que, nas últimas semanas, famílias inteiras foram infectadas, situação que foge do habitual. O especialista explica ainda que entre os casos de diarreia aguda registrados, 90% são infecciosos e os sintomas podem durar até 14 dias.

A situação, conforme o que recomenda a epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandra Crispim Boing, deve ser monitorada para que os agentes causadores sejam identificados. Segundo ela, nos casos em que o número de pacientes é alto, geralmente há mais de um agente responsável — bactéria e vírus.

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Porque o aumento de casos acontece no verão?

Além de a estação quente criar um ambiente propício para a disseminação de microrganismos, segundo Cathcart, tanto na água quanto nos alimentos, a higiene pessoal é também descuidada nesta época do ano.

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— Nesse período, a gente tem um aumento no número de turistas e ocorre uma piora natural na balneabilidade das praias. Aliado a isso, muitas vezes as pessoas acabam descuidando da procedência dos alimentos e compartilhando também itens pessoais, o que contribui para o aumento da disseminação da doença — diz Crispim Boing.

— Os pacientes acabam lavando menos as mãos. A partir do momento em que alguém teve contato com um microrganismo, não teve uma boa higiene e vai cozinhar, por exemplo, a doença será transmitida — complementa Cathcart.

Água contaminada?

Conforme o gastroenterologista, a contaminação de redes fluviais pode ser um dos principais fatores do aumento no número de casos de diarreia em Santa Catarina. Isso porque os desastres naturais registrados em dezembro no Estado podem ter ocasionado a contaminação de mares e rios.

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— A gente viu recentemente muitos desastres naturais. Em muitas ruas, os bueiros ficaram extravasando por muito tempo e toda aquela sujeira vai para rios, para o mar, e aí temos uma contaminação — diz. 

Apesar de a situação ainda ser uma hipótese, o especialista explica que a transmissão pela água do mar acontece no contato entre os locais infectados, o nariz dos pacientes e mucosas.

Até o momento não há confirmação oficial do causador no aumento do número de casos. A Casan, no entanto, descarta relação com a água.

Existe grupo de risco?

Mesmo que seja algo habitual, a diarreia aguda pode trazer risco de vida para alguns grupos. Conforme os especialistas, crianças menores de cinco anos, idosos, gestantes e pacientes com baixa imunidade devem redobrar os cuidados para evitar o agravamento da doença.

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— No momento em que os microrganismos entram no corpo, eles agridem a mucosa do intestino e isso gera uma inflamação no órgão. O destino final é a desidratação, que também pode gerar uma inflamação generalizada causando um grande risco à saúde de outros órgãos, como o rim, por exemplo. Alguns vírus ainda produzem uma toxina, que em uma infecção generalizada podem provocar problemas nos pulmões e ainda uma inflamação sistêmica, atingindo o coração — diz.

Como ocorre a transmissão?

A transmissão da infecção no aparelho digestivo acontece por higiene inadequada, conforme explicam especialistas. Por exemplo, se um paciente está infectado, ele evacua os vermes toda vez em que a diarreia se manifesta. Se não há a higiene correta das mãos, das unhas e do vaso sanitário a contaminação se espalha de forma mais rápida. 

Sintomas

Os sintomas de diarreia aguda vêm acompanhados, geralmente, de enjoo, vômito, dor na barriga e barriga distendida. Assim como sinais de desidratação: olho, boca e pele secos, febre e sintomas de desmaio.

Quando as fezes estiverem acompanhados de sangue ou muco, um médico deve ser procurado urgentemente, conforme orientam especialistas.

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Estou com diarreia, o que fazer?

  • Redobrar as medidas de higiene para evitar a reinfecção
  • Evitar água e alimentos de origem duvidosa
  • Checar praias próprias para banho
  • Evitar aglomerações
  • Fazer higiene adequada
  • Higienizar as mãos
  • Manter hidratação

Conforme o médico especialista em gastroenterologia Nelson Silveira Cathcart, em casos em que a diarreia esteja acompanhada de vômito e o paciente não consegue segurar nenhum tipo de comida no estômago, é necessário que um hospital seja procurado antes que o quadro se agrave.  

— Não é recomendado utilizar remédios para trancar as fezes. Se for uma infecção bacteriana, a situação pode piorar — explica.

Que alimentos não devo comer enquanto estiver com diarreia?

  • Leites e derivados
  • Cafeína e derivados (incluindo chá verde e preto e chimarrão, por exemplo)
  • Alimentos gordurosos
  • Doces e chocolates
  • Bebidas gasosas e alcoólicas

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Ao menos oito cidades de SC registram surto de diarreia 

Florianópolis, Balneário Camboriú, Bombinhas, Navegantes, Penha, Balneário Piçarras, Porto Belo e Itapema foram as cidades que registraram, até esta quarta-feira (11), surto de diarreia. Os dados são da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) do Estado. Na Capital é a segunda vez em 23 anos que a situação ocorre.

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Quando um surto de diarreia foi registrado na Ilha de Santa Catarina, em 2016, a causa confirmada foi o norovírus — microrganismo com maior predileção ao aparelho digestivo, transmistido pela ingestão de água e alimentos contaminados através do contato entre pessoas infectadas.

Segundo especialistas, apesar dos casos em alta, o número ainda não deve ser o total de infectados devido a subnotificação dos dados. Conforme o que alerta a epidemiologista da UFSC, Alexandra Crispim Boing, os pacientes procuram o sistema de saúde apenas após o agravamento da situação ou um prolongamento de sintomas.

— A maioria das pessoas tem quadros leves e acaba não procurando um médico. Até porque teríamos um colapso no sistema de saúde — diz o médico especialista.

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