Com longas esquerdas, vento nordeste ou terral, ótimas paredes para manobras e refletores voltados para o mar proporcionando o surfe noturno, a praia da Atalaia é uma paixão que atravessa gerações. Nascido e criado nas águas dessa praia, Paulo de Aguiar trouxe o filho Gabriel para o surfe e com ele dividiu onda e respeito pelo esporte e o local. Ser pai não é apenas comprar a primeira prancha. É também participar.

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Paulinho, como gosta de ser chamado, tem 52 anos e frequenta a Atalaia desde garoto. Viu de perto todas as fases do pico peixeiro e pode garantir que o pau fechava nas antigas.

– Já queimaram até um Gurgel de forasteiro – relembra o surfista.

Era pau, pedra e pancadaria mesmo. Frases como “tem que saber entrar para saber sair” e “é preciso se comportar na casa dos outros” marcam o lugar, também é conhecido como praia proibida.

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Segundo os atalaianos da década de 70, o protecionismo começou porque os haoles (expressão para surfista que não é do local onde está surfando) cresceram os olhos nas ondas daqui e quiseram dominar a área. Foi aí que os peixeiros se intizicaram e resolveram colocar os forasteiros para correr. Uma espécie de libertação da Atalaia, que de tão liberta ficou de 1978 até 1990 sem receber campeonato.

Gabriel, o filho, conta que até hoje existe um certo clima de posse entre os surfistas peixeiros.

– As coisas não chegam a se resolver na pancadaria, mas já vi muita treta por causa de onda. Mas também o pessoal não respeita o pico que é para quem já sabe surfar. Não adianta querer aprender aqui que só vai atrapalhar quem já sabe, além de ser uma praia perigosa para iniciantes. Gente de fora não é bem-vinda. O fato de não conhecer a praia também incomoda, sem contar que querem pegar as ondas de quem está aqui todo dia – reclama.

As medidas protecionistas na Atalaia viraram até tema de um documentário lançado em 2013 e intitulado “Restrito”. A produção do jornalista (e não surfista) Diego Lara foi motivada pelo fato dele mesmo ter sido expulso da praia pois a placa do seu carro era de Jundiaí, São Paulo. O fato aconteceu no início dos anos 2000, quando ele recém tinha chegado à cidade:

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– Acabamos entrevistando quase 20 pessoas, fizemos amizades e acho que foi uma experiência muito interessante observar de fora, sem julgamentos, as pessoas e os momentos que construíram o mito da Atalaia – afirma o jornalista.