Deu onda no Vale do Silício brasileiro. Reconhecido no Brasil como Estado do surfe e da inovação tecnológica, são de Santa Catarina dois produtos que nasceram "surfistas", tomaram caldo de ciência, ultrapassaram a arrebentação do desenvolvimento e estão ganhando força no mercado neste 2º semestre. Ambos entram no bom tubo da modalidade pela inclusão no programa das Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem. Um deles é um equipamento voltado ao condicionamento físico que tem a prancha como base. O outro acaba com a preocupação com o carro antes de cair na água.

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Tanto o Surf Evolution Pro quanto o KLS Surfe Sem Chave surgiram como alternativas para problemas enfrentados por surfistas. O primeiro parece um simulador, mas trata-se de um equipamento que utiliza movimentos do surfe – e outros exercícios – para o atleta melhorar a condição física sem entrar na água. O segundo é uma trava para automóvel que dá fim ao risco de perda da chave ou roubo do veículo. Desenvolvidos em São José, na Grande Florianópolis, e em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, respectivamente, têm em comum uma premissa para serem considerados inovadores: são solução.

— Onde surge gargalo, aparece frentes. Estas ideias são exemplos, e há muito espaço para outras voltadas ao esporte, um caminho com muito potencial — atesta o representante da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) na região de Balneário Camboriú e diretor de tecnologia da associação empresarial do município, Hederson Cassimiro.

Mas da ideia ao mercado há um longo caminho. O Surf Evolution Pro (veja no vídeo) levou uma década desde a concepção. Sem desenvolver um projeto para apresentar em uma aula do curso de Gestão de Negócio do Surfe, em 2009, Francis França apresentou em sala de aula o que tinha feito em casa para dar um jeito de praticar o esporte quando o trabalho não permitia: a prancha apoiada em dois cavaletes e presa em dois elásticos. O professor gostou e abriu caminho. Veio desenvolvimento, captação de recursos, reconhecimento com prêmios de inovação e as primeiras 40 máquinas da produção serão entregues até o final do ano.

Nasceu surfista, e não é um simulador. Sempre teve um desenvolvimento contínuo. Nele é possível mais de 200 exercícios voltados ao condicionamento físico

— A máquina é programável conforme o objetivo. Há parte de entretenimento também, com vídeo tutorial na primeira pessoa para prover a sensação de surfar — descreve França.

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O produto tem o tamanho similar a uma esteira de academia, com uma prancha sustentada por amortecedores, cabos e polias e um suporte para televisor para indicar os movimentos a serem feitos pelo praticante.

Além de movimentos do surfe, tem programa para stand up paddle ou apenas como base para outros exercícios. A multifuncionalidade chama a atenção e já gerou interesse em outros países.

— A máquina foi divulgada de forma espontânea em rede social e recebi contato de pessoas do mundo inteiro. O passo do futuro é ter centros de montagem em outros continentes e fazerem a distribuição — projeta o CEO e surfista Francis França.

Com muitos gramas a menos e também com alma surfista surgiu o KLS Surfe Sem Chave. O doutor em eletrônica Adilson Jair Cardoso, que não pega onda, recebeu o desafio de um amigo: dar um jeito na chave do carro quando fosse surfar. Ir à praia sozinho causava insegurança por perder a chave no mar ou se escondido na areia ou o risco de ter o veículo furtado se ficasse aberto. Em 2017 surgiu o dispositivo que trava o automóvel com a chave no interior. Hoje, disponível em forma de pulseira, token ou cartão preso ao leash, a cordinha que une surfista à prancha.

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— Até o ano passado vendíamos protótipos. Abrimos para o mercado no primeiro semestre com 150 itens comercializados. Estamos nos estruturando na montagem para mais um lote de até 200 unidades até o final deste ano. Em 2020 nossa expectativa é comercializar mil ao todo. Mas ainda não encontramos o melhor canal para comercialização. É um produto inovador e disruptor — confessa Cassiano Aguiar, diretor de marketing da empresa, e sócio de Adílson e outros dois integrantes, Felipe Bez Fontana e Rafael Aguiar.

O produto deve ganhar a preferência de praticantes de outras modalidades, como corrida, ciclismo ou triatlo, uma vez que entrega a solução do problema comum, ter de carregar a chave do automóvel durante a atividade esportiva.

Ex-surfista e empresário com atuação na modalidade, o catarinense Teco Padaratz enxerga saturação no mercado tradicional do surfe, baseado em vestuário. No entanto, o esporte está forte pela entrada nas Olimpíadas e principalmente no País por conta da Brazilian Storm (Tempestade Brasileira em português), termo utilizado para se referir à profusão de brasileiros nas grandes competições mundiais. Por isso, Teco acredita os negócios no surfe precisam de novas ideias.

— A parte da tecnologia que tem campo aberto. O surfe combina com tecnologia. Veja os drones, ou o que seria da GoPro (câmeras de linha de ação) sem o surfe? — provoca Padaratz.

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O mar é vasto e Santa Catarina é notada pelas boas ondas. Seja para o surfe, seja para a tecnologia.

A boa onda ao esporte está por vir

Ainda que as duas iniciativas ligadas ao surfe sejam expoentes da tecnologia aplicada ao esporte com criação e desenvolvimento em Santa Catarina, o Estado considerado o Vale do Silício brasileiro carece de mais iniciativas para o segmento. No entanto, o campo está aberto para jogo.

— Tem bastante espaço para iniciativas. Na Grande Florianópolis há desenvolvimento des projetos nos próximos meses focados no esporte e que deve atrair empresas que façam desenvolvimento. Quem tem mais acesso à tecnologia são os clubes. A perspectiva é de que tenhamos startups criando projeto para clubes — acredita o diretor executivo do Instituto de Apoio à Inovação, Ciência e Tecnologia (Inaitec), baseado em Palhoça, Diego Chierighini.

O desenvolvimento de tecnologias costuma a ser em forma de ondas. Cada uma delas é voltada à um segmento. A relacionada ao esporte, ainda está por vir, acredita Hederson Cassimiro.

Tem a onda da construção civil, da saúde, das finanças… São ondas que vem passando. Essa do esporte ainda não despontou com clareza no estado

Mas, espaço tem muito – atesta o representante da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) na região de Balneário Camboriú e diretor de tecnologia da associação empresarial do município, Hederson Cassimiro.

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Mas não basta a ideia, é preciso desenvolvê-la. A estimativa é que apenas 5% virem um produto. Há uma série de fatores que influem no caminho.

O principal deles são os financeiros. É necessário investimento para que a iniciativa ganhe forma.

O ambiente de incubadoras e aceleradoras dão suporte. Mas empreender do zero pode ser desencorajador.

Um caminho para tirar a ideia do papel é o Programa Centelha, criado originalmente em Santa Catarina como Sinapse e que ganhou novo nome e virou um projeto federal. Nele, anualmente, os candidatos a inovadores podem inscrever seus projetos e, se aprovados, recebem injeção de recursos para o desenvolvimento, sem contrapartida, e ambiente favorável para que tenha um produto e uma empresa no mercado.

— O objetivo é tirar as ideias do papel. Para isso colocamos recursos para este empreendedor. Nossa estimativa é que, por meio do Centelha, devemos ter empresas novas para receber recursos de R$ 60 mil ao desenvolvimento, um risco assumido pelo Estado. Se deu certo, vai gerar emprego e imposto — aponta o presidente da Fundação de Amparo À Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), Fábio Zabot Holthausen.

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