As projeções já indicam qual deve ser o mês com mais chuvas em Santa Catarina por conta do El Niño em 2023: novembro. O fenômeno está evoluindo no oceano pacífico de forma moderada a forte, o que na prática pode significar uma intensidade de mesma proporção para Santa Catarina, pois a influência é direta em vários pontos do planeta, incluindo o Sul do Brasil. É cedo, porém, para chamar o El Niño de “super”, defende uma das maiores especialistas da área.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
As explicações foram dadas pela doutora em Meteorologia Alice Grimm durante um workshop sobre o tema, promovido em Florianópolis nesta semana. Ela, que estuda o El Niño desde a década de 1980, disse que é preciso cuidado ao afirmar que o fenômeno será um dos piores já registrados. Isso porque, até o momento, boa parte das previsões não mostram isso.
— Pode acontecer durante a evolução dele que haja fatores suficientes para fortalecê-lo e estendê-lo por mais tempo, isso não está descartado. Não quer dizer que não vá acontecer, mas acho prematuro dizer que será um “super El Niño” — declarou a cientista.
Leia também: Vídeo revela detalhes e luxos de apartamento vizinho ao de Neymar em promoção
Continua depois da publicidade
O El Niño é o aquecimento anormal do oceano pacífico e ocorre de tempos em tempos, alternando com épocas de neutralidade e de La Niña, que é o resfriamento anormal das mesmas águas. Ele é apontado como o responsável por trazer chuvas mais frequentes, já que o comportamento altera as pressões atmosféricas pela troca de calor. Ela faz o contrário, ou seja, provoca diminuição nas precipitações.
Por ora, os centros de monitoramento conseguem ver que o El Niño provavelmente não será muito longo e deve se estender pelo menos até o início do próximo outono, mas essa informação será atualizada com o passar dos meses, quando as previsões vão ganhando mais certezas.
O que a comunidade científica já divulga, com base em outros eventos do mesmo tipo e nas previsões mais recentes para o trimestre, é que no primeiro ano do fenômeno é esperado uma primavera com chuvas mais frequentes na região Sul.
Leia o especial “SC e os extremos do clima: Onde tudo acontece”
Como a chuva será acima da média de forma gradual, segundo meteorologistas da Epagri/Ciram e de outros órgãos, o “pico” fica para novembro, mês em que a frequência de eventos climáticos extremos relacionados a chuvas pode ser cinco vezes maior em relação a anos com La Niña, evidencia um levantamento comandado por Alice.
Continua depois da publicidade
— Se fossem chuvas bem distribuídas não haveria tanto problema, mas os estudos mostram que o El Niño impacta mais a frequência dos eventos extremos — complementa.
Pintado como “vilão” do clima em regiões castigadas pela chuva, como o Vale do Itajaí, o El Niño não age sozinho. Santa Catarina é rota de sistemas meteorológicos menores que isolados já são capazes de “fechar o tempo”, como os ciclones extratropicais e a circulação marítima. Por isso, eventos extremos podem acontecer a qualquer momento.
O que acontece é que o El Niño potencializa o que encontra na região Sul. As pancadas de chuvas ficam mais severas e os temporais ganham força, assim como os ciclones. É um ambiente propício para enchentes, enxurradas e grandes tempestades.
Sem controle
O El Niño já se formou e não há como impedi-lo, logicamente. O que a Defesa Civil de Santa Catarina defende é que a confirmação de dias extremamente chuvosos deve servir para que as cidades se preparem melhor para possíveis desastres. A curto prazo, o coordenador de Monitoramento e Alerta, Frederico Rudorff, cita aperfeiçoamentos dos sistemas de drenagem e limpeza urbana.
Continua depois da publicidade
— Não podemos baixar a guarda, independente do fenômeno — resumiu o profissional durante o workshop.
As discussões e conclusões do encontro organizado pela Associação Catarinense de Meteorologia, que reuniu meteorologistas de todo o Estado, resultarão em um relatório técnico. O documento deve auxiliar os órgãos públicos nas tomadas de decisões sobre os impactos do El Niño em solo catarinense.