Se estivesse vivo, certamente Antônio José de Souza engrossaria o público que acompanhará nesta terça-feira (27), às 15h, no Fórum, o leilão da Sulfabril. Era meados dos anos 1990. De feição séria, alto e forte, não era um tipo de homem que passava despercebido. Mas, naquela situação, tentava ser discreto.

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:::: Força de vontade dos funcionários manteve a empresa ativa

Com uma frequência maior do que gostaria começou a desviar dos corredores cheios. Esquivava-se dos subordinados que perguntavam dos salários atrasados. A pressão dos dois lados – a empresa pedindo sigilo sobre a crise tida como passageira e os trabalhadores querendo saber o que estava acontecendo – fizeram Antônio adoecer.

Pré-disposto à depressão, afastou-se e voltou a trabalhar após decretada a falência da têxtil, em 1999. Assim como todos os outros funcionários, foi demitido sem receber o que lhe era de direito. E como uma parte deles, foi recontratado ganhando menos. Quinze anos depois a venda da Sulfabril ganha hoje um novo capítulo. Especialmente para quem tem a receber algo entre os cerca de R$ 34 milhões em dívidas trabalhistas ainda pendentes.

Como massa falida, a empresa conseguiu se manter com dificuldades, assim como Antônio. Ele precisou de um segundo emprego para sustentar as filhas e bancar o tratamento da esposa, que, com problemas no coração, passou por quatro cirurgias. Nesses 15 anos cada expectativa de venda frustrada era um balde de água fria para o encarregado, que acabou também acometido por transtorno bipolar.

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A morte chegou há um ano, antes do desfecho que sonhava para a empresa em que cultivava amigos e tinha carinho. A viúva Maria Aparecida Baron de Souza, a Cida, ainda aguarda a primeira parcela do que Antônio tinha a receber – ano passado todos os ex-funcionários ganharam 15% do saldo trabalhista. Ela deseja que a fábrica volte a funcionar a pleno vapor e que receba os cerca de R$ 29 mil a que tem direito para sair das dívidas contraídas desde que o salário de Antônio teve a drástica redução. Como tinham conta conjunta, a dívida não foi perdoada com a morte dele.

_ Deus nos deu a vida sem cobrar nada. Não quero nada além do que é nosso direito _ diz Cida.

>>> Confira como vai funcionar o leilão

>>> Relembre a história da empresa têxtil (Leia aqui o PDF)