Foi um profundo desejo de liberdade que empurrou Efrem Desta a fugir da Eritreia e entrar ilegalmente no vizinho Sudão com a esperança de chegar à Europa algum dia.
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Mas a viagem foi interrompida quando ele e outros migrantes eritreus foram sequestrados depois de cruzarem a fronteira pela tribo dos rashaida, no leste do Sudão, próximo ao povoado de Al Laffa.
“Fugimos da Eritreia porque queremos a liberdade, mas ao chegar aqui fomos capturados pelos rashaida”, conta Efrem Desta, de 20 anos, em sua língua materna, o tigrínia.
Depois de cinco dias em cativeiro, foram ajudados pelas forças sudanesas, que reforçaram as patrulhas ao longo dos 600 quilômetros de sua fronteira com a Eritreia a fim de impedir a chegada de migrantes irregulares.
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Efrem Desta e os outros foram encontrados algemados e presos com correntes, segundo as autoridades. Após sua libertação, se uniram aos cerca de 30.000 refugiados instalados em Wadi Sherifay, um extenso campo de cabanas com telhados de palha perto da fronteira.
A maioria dos eritreus resgatados afirma ter deixado o país para evitar o serviço militar, mas outros admitem que aspiram a um emprego no exterior.
Dezenas de eritreus tentam entrar ilegalmente no Sudão a cada dia, de acordo com a polícia e os agentes do Serviço Nacional de Inteligência e Segurança (NISS) sudanês.
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“Podem entrar por várias rotas, principalmente beirando o rio Gash”, indica um responsável de segurança à AFP, na região fronteiriça do estado de Kasala.
– Bem equipados –
Os migrantes cruzam a fronteira a pé depois de caminhar durante dias, às vezes por semanas.
“Normalmente viajam à noite, se escondem durante o dia em fazendas, plantações ou florestas”, acrescenta o responsável.
Atingida por uma grave crise econômica e vários conflitos armados entre o regime e os rebeldes, o Sudão, um país pobre da África, é um cruzamento-chave na rota até a Europa.
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Segundo os especialistas, um grande número de eritreus tenta chegar à costa europeia passando por este país.
“Em 2016, 100.000 migrantes viajaram pelo Sudão, a grande maioria eritreus”, indica Asfand Waqar, analista na Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Do Sudão, os migrantes vão para Líbia ou Egito, onde entram em contato com os traficantes que os amontoam em frágeis embarcações para uma perigosa travessia do Mediterrâneo rumo à Europa.
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No verão, a maior parte dos migrantes aproveita a noite para atravessar a fronteira pelo rio Gash.
“Ainda não patrulhamos durante a noite, assim conseguem se mover mais fácil na escuridão”, assinala o responsável.
Atrás dele, debaixo de um forte calor, uma patrulha de guardas fronteiriços armados com metralhadoras atravessa em pick-ups o rio, seco, em busca de migrantes.
O aumento das patrulhas levou à prisão de vários traficantes, de acordo com os oficiais.
“Mas os passadores, em sua maioria eritreus, têm uma excelente rede e equipamentos de comunicações de alta tecnologia”, assegura um deles.
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– Medo –
O tráfico de migrantes se tornou um negócio que gera bilhões de dólares, segundo especialistas.
“É um sistema de exploração” com custos que oscilam entre centenas e milhares de dólares, estima Waqar.
Uma eritreia que queria ir à Europa saindo de Cartum foi cobrada em 2.500 dólares.
Para o chefe da polícia de Kasala, o general Yahia Soleimane, o Sudão não pode frear sozinho a imigração irregular na fronteira.
“Precisamos de ajuda internacional, equipamentos de comunicação de alta tecnologia, veículos, câmeras e até drones para vigiar a fronteira”, afirma à AFP, destacando que “as patrulhas são dirigidas por policiais, pelo NISS e pelo exército”.
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Segundo o Enough Project, um laboratório de ideias com sede em Washington, os europeus transferiram milhões de euros a Cartum para a compra de equipamentos que deveriam ajudar a conter o fluxo migratório.
Depois de terem abandonado as suas casas cheios de esperança, inúmeros eritreus asseguram viver com medo nos campos do Sudão, como o de Wadi Sherifay.
“O exército eritreu tem agentes por toda parte. Podem nos deter e nos levar à Eritreia”, explica um deles, que ainda espera poder chegar à Europa. “Para nós, seria perigoso permanecer aqui muito tempo”.
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* AFP