Sucesso na novela Amor à Vida, o Félix de Mateus Solano prova que misturar maldade e bom humor é a aposta da vez na teledramaturgia brasileira

Não é de hoje que a televisão tem o costume de lançar personagens, digamos, controversos. Seja nas novelas, nas minisséries ou nos seriados, os vilões da ficção – também chamados de anti-heróis – entram no dia a dia dos fãs e, de repente, é impossível não imaginar de onde vem tanta admiração. Tome como exemplo o Walter White de Bryan Cranston, que conquistou milhares de seguidores com a aclamada série americana Breaking Bad, na pele de um professor de Química que decide fabricar metanfetamina. Mas por que o público gosta justamente dos “caras do mal”?

Segundo Claudino Mayer, doutor em Ciências da Comunicação e Teledramaturgia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), simpatizar com os vilões já virou tendência. Em terras tupiniquins, Félix, da novela Amor à Vida, da Rede Globo, é prova viva deste fenômeno. Interpretando o primeiro personagem gay da carreira, o ator Mateus Solano – que contracenou pela primeira vez em uma novela com a esposa, a blumenauense Paula Braun – mostrou que misturar bom humor e doses de maldade é a sacada da vez para virar sucesso nas redes sociais (a fan page Félix Bicha Má já ultrapassa 2 milhões de likes no Facebook) e cair na boca do povo.

– As ações e vilanias são os desejos que a sociedade tem vontade de realizar, mas não tem coragem – explica Mayer.

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Para ele, Félix concentra em uma só pessoa todas as qualidades que caracterizam os vilões clássicos da teledramaturgia brasileira. Basta olhar figuras como Odete Roitman (Beatriz Segall em Vale Tudo), Nazaré Tedesco (Renata Sorrah em Senhora do Destino) e Carminha (Adriana Esteves em Avenida Brasil): todas despertaram a ira e o fascínio do público. E se tem um detalhe que faz diferença na hora de construir um bom personagem é a escolha do ator.

– O gosto do público pelo personagem é por causa do Mateus Solano. Ele, em pouco tempo de carreira, construiu personagens densos, por isso se tornou queridinho do público – avalia Mayer.

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Solano foi contatado pela equipe do Santa, mas, segundo a assessoria de imprensa do ator, não vai conceder entrevistas por enquanto – culpa do cansaço extremo por conta das gravações dos capítulos finais de Amor à Vida, que chega ao fim dia 31 de janeiro.

Beijo gay: será que rola?

Para Rafael Bona, professor de Cinema e Televisão da Furb e da Univali, Félix expressa tudo o que muitas pessoas gostariam de fazer ou dizer:

– Mas temos que observar que existem dois personagens agora: aquele antes de ser descoberto como vilão e o que começou a vender cachorro-quente. Os dois são amados pelo público. É a primeira vez que um personagem homossexual é protagonista de uma novela das nove e ele não está sendo tratado de forma caricata, como era o Crô (interpretado por Marcelo Serrado na novela Fina Estampa), por exemplo.

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E será que o polêmico beijo gay, entre Félix e Niko (de Thiago Fragoso), será finalmente consumado na TV? Bona arrisca um palpite:

– Não vai ser agora. Acho engraçado, pois nos Estados Unidos isso é comum de se ver em seriados de televisão, por exemplo, e aqui no Brasil se cria toda uma “novela” por causa de um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo – diz Bona.