Nos últimos anos, embaladas por estudantes que saem das universidades com o desejo de empreender ideias inovadoras e com potencial de crescimento rápido, as empresas são alternativas para jovens com visão e potencial em gestão.

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Jovens e com ideias fervilhando na cabeça, eles sabiam o que queriam: empreender com jogos digitais. Logo que se formaram na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), há pouco mais de três anos, os colegas e namorados Julio Contreras, 30 anos, e Simone Dreher, 27 anos, criaram a Drecon Entretenimento e começaram a desenvolver jogos e sistemas web. Por mais de dois anos, trabalharam em casa, com projetos próprios e pedidos dos primeiros clientes. O impulso mais forte, no entanto, veio neste ano, quando foram convidados a fazer parte da primeira aceleradora do Rio Grande do Sul.

A estrutura, em fase de instalação no bairro Floresta, em Porto Alegre, irá abrigar de cinco a 10 empresas iniciantes com alto grau de inovação e potencial de crescimento acelerado – as chamadas startups. Liderada por investidores-anjo, profissionais experientes com capital para investir em novos empreendimentos, a aceleradora irá incentivar empresas recém-criadas com possibilidade de geração de lucros por meio de ideias diferenciadas.

– Não tínhamos um lugar físico, um ambiente de trabalho. Depois que entramos aqui, muitas portas se abriram no mercado, especialmente pelas indicações do investidor-anjo – conta Contreras, que, ao lado de Simone, está desenvolvendo dois jogos digitais, além de sistemas web para sites de compras.

Os obstáculos enfrentados na fase inicial de um negócio de pequeno porte e novo no mercado costumam ser os mesmos: falta de capital para investimento, escassez de pessoas e dúvidas na execução do modelo. Nesse ambiente de incertezas, ao menos 400 startups gaúchas se inspiram em casos de sucesso, como Facebook, Google e Peixe Urbano, para romper barreiras, fazer a diferença e faturar bilhões.

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Inovação e atitude

Em meio ao crescimento explosivo do mercado digital e as mudanças na cultura empreendedora, as startups nascem entre jovens ainda na faculdade ou entre profissionais experientes que enxergam um espaço a ser explorado no mercado. Foi assim com o publicitário Guilherme Masseroni, 32 anos, que há dois anos decidiu investir em uma solução de tecnologia para monitoramento em tempo real do varejo.

– Na agência em que eu trabalhava prestávamos serviço a uma grande indústria de calçados que não sabia quantos pares eram vendidos no varejo – lembra Masseroni, gestor regional da Associação Brasileira de Startups.

Partindo dessa necessidade, o publicitário criou no ano passado a Get Way Tecnologia, agora em fase de validação do projeto com dois grandes clientes: uma multinacional do ramo de tintas e uma empresa regional de alimentos.

– Estamos fazendo o verdadeiro BBB do varejo, mapeando minuto a minuto quantas unidades do produto são vendidas em cada ponto de venda – explica o empreendedor, acrescentando que o monitoramento é importante para as médias e as pequenas varejistas ajustarem seus canais de distribuição, identificar necessidade de ações de marketing e descobrir novas oportunidades.

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A empresa recebeu aporte de dinheiro da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério de Ciência e Tecnologia, e representou o Brasil no Conselho Mundial de Competitividade. Até agora, foram investidos R$ 85 mil somente na pesquisa do novo modelo de negócio.

– O mais difícil para uma startup é mostrar que a ideia é mesmo inovadora e que irá render resultados – acrescenta Masseroni, que tem como sócio o programador Tiago Rodrigues, 34 anos.

A febre das startups ganhou força nos últimos anos, quando estudantes passaram a sair da faculdade com o desejo de empreender em cima de novas ideias. Após conhecer startups de sucesso em outros países, como a Inglaterra, o administrador Bruno Peroni, 23 anos, abriu uma empresa de consultoria ao lado dos colegas de profissão Felipe Amaral e Igor Oliveira. Com conceitos e orientações práticas, a Semente Negócios atua em todos os elos da cadeia, desde o desenvolvimento de novos negócios, passando por empreendedores e investidores.

– Costumamos dizer que a ideia vale pouco, o que importa é a execução. De nada adianta uma boa ideia, se ela não é adaptada ao mercado – define Peroni.

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No sótão, empresa fatura meio milhão

O conceito de começar um negócio na garagem pode ser perfeitamente aplicado ao Viagem Mania – site de descontos para viagens curtas, de um a cinco dias. Criado no sótão da casa do estudante de Administração Rodrigo Noll, em Porto Alegre, o serviço não apenas caiu no gosto dos adeptos ao “turismo de escapadas” como alcançou um faturamento de R$ 500 mil em apenas um ano.

– Sempre acompanhei sites e blogs estrangeiros de turismo e percebi que esse modelo de descontos para viagens rápidas em cima da hora era novo por aqui – conta Noll, 23 anos.

Do desejo até a execução da ideia foram cerca de quatro meses, tempo necessário para o estudante fazer contatos com redes hoteleiras e companhias aéreas e do programador Thomás Sieczkowski, 23 anos, formatar o site. Com cerca de R$ 15 mil investidos, basicamente em custos operacionais, os jovens colocaram no ar o negócio que recebe hoje cerca de 30 mil acessos por mês.

– Até agora, foram mais de 5 mil viagens vendidas e nenhum reclamação – orgulha-se Rodrigo, ao apontar a qualidade do serviço como o principal diferencial do negócio.

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No Viagem Mania, são oferecidos hospedagem e passeio opcionais para lugares próximos, como a serra e o litoral gaúchos, assim como pacotes com passagem aérea para destinos como Buenos Aires, Montevidéu, Santiago e Punta del Este.

Com vagas negociadas com 150 estabelecimentos da rede hoteleira, de companhias aéreas e de operadores, a empresa consegue manter preços com descontos até mesmo nas vésperas da viagem. Nessa semana, o site passou a vender também passagens aéreas avulsas e, em breve, passará a oferecer o serviço de reserva em restaurantes.

– Para quem começou com medo de não dar certo, estamos muito bem – brinca Sieczkowski.

Grupo do Vale do Silício compra empresa gaúcha

Criada no modelo de startup, há 15 anos, a empresa gaúcha Pmweb despertou o interesse de um grupo do Vale do Silício – considerado o berço da tecnologia nos Estados Unidos. Neste ano, a norte-americana Responsys comprou parte do negócio, fundado em Porto Alegre pelo empresário Tárik Potthoff, 32 anos.

Listada na Nasdaq, a Responsys atua nas áreas de varejo, tecnologia, financeira e turismo – foco de atuação da Pmweb há 10 anos.

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– Outros grupos internacionais já tinham nos procurado, mas queríamos alguma ligação com o nosso ramo – conta Tárik, que criou a Pmweb no quarto da sua casa, aos 17 anos, quando a internet estava recém chegando ao país.

Com 60 funcionários, a empresa tem 17 escritórios em Porto Alegre, São Paulo e Lisboa, com mais de 650 clientes. Já a Responsys tem 13 unidades no mundo e fechou receita de US$ 130 milhões no ano passado.

Investidor-anjo

Embora o dinheiro não seja a base para startups alcançarem o sucesso, o financiamento de ideias pode ser o trampolim na fase inicial dos projetos. O incentivo pode vir por meio de editais públicos, fundos de investimentos e de profissionais que já vivenciaram a tarefa de começar um negócio.

Há dois anos, o empresário gaúcho Tiago Mabilde, 35 anos, resolveu capitalizar recursos para investir em empresas iniciantes. Aos 18 anos, montou uma empresa de software em Montenegro. Após consolidar o negócio, com mais de 200 funcionários, o vendeu para o sócio e partiu para São Paulo em busca de novas experiências.

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Hoje, juntou-se a outros investidores para montar a primeira aceleradora de startups do Rio Grande do Sul. Em fase final de instalação, a casa no bairro Floresta receberá investimento inicial de R$ 2 milhões para apoiar até 10 empresas.

O financiamento a pequenas empresas em fases iniciais vem crescendo nos últimos anos.

– Hoje temos um clima mais favorável para investimentos em empresas emergentes – avalia Clóvis Meurer, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap).